"Não podem ganhar os mesmos, senão estamos perdidos"

Uns acham que os independentistas se reforçaram, outros apoiam os unionistas e outros "les da igual". Catalães dividem-se sobre como votar a 21 de dezembro
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Com a independência travada por ordem constitucional e sem um governo na Catalunha, aguarda-se por um resultado eleitoral que retire a região do impasse, relativo a autonomia. Separatistas e unionistas parecem agora de acordo em alguma coisa: a 21 de dezembro "tudo ficará definido".

"É um momento em que é a história que está em jogo e o futuro de um país, por isso, agora vai haver muita gente nas urnas. Mais do que alguma vez se viu. Tanto a favor dos separatistas, como contra eles", pensa Maria do Carmo, uma catalã, que ontem ao final da tarde saía, com o dois filhos, da Escola dels Encants, no bairro da Sagrada Família, em Barcelona.

Aos 34 anos, esta mulher assume "sem problemas" os seus "pensamentos anárquicos", reconhecendo que até ao dia do referendo "nunca" tinha estado perto de uma mesa de voto. "Mas, a 1 de outubro, quando acordei e vi as imagens, foi a primeira vez na vida que fui a umas urnas para depositar o meu voto".

"É muito triste que só se pratique a democracia, depois de atos violentos como os que aconteceram. Muitas pessoas, aqui na Catalunha, talvez nunca tivessem tomado uma posição, ou nunca tenham opinado, ou nunca votaram. Mas, a partir de agora, após a violência e a opressão exercida pelo Estado espanhol, vai mesmo haver mais participação", acredita esta catalã, considerando que a posição dos partidos que defendem a independência "já está reforçada desde o momento em que o Estado atuou com violência".

Uma sondagem publicada ontem pelo Centro de Estudos de Opinião da Generalitat apontava, exatamente, para um reforço significativo dos partidos independentistas, em números de lugares no parlamento regional. A Junts pel Sí ganharia as eleições, conseguindo entre 60 e 63 deputados, o Ciudadanos seria a segunda força, com 25 a 26 eleitos. Seguir-se-ia o PSC, com menos de duas dezenas, SíQueEsPot entre 12 e 14, o PP poderia ultrapassar a dezena e a CUP, teria de 8 a 9.

Sobre a independência, houve 48,7% dos entrevistados que responderam afirmativamente e 43,6% rejeitam uma república catalã. Ou seja, se fosse hoje, o Sim à independência seria reforçado em 7,6 pontos, em relação a uma sondagem semelhante realizada em junho, meses antes do referendo.

"Creio que vai haver um reforço, mas não dos nacionalistas catalães", afirmou Maria de Belém, ouvida para o DN e TSF, convicta que muitas pessoas querem uma república e uma mudança", pois é disse que tem vindo a "aperceber-se", desde aquela sexta-feira, em que passou o fim de semana na escola do filho, para que ali pudesse abrir o único colégio eleitoral que pode funcionar, nas imediações.

Mas, as divisões mantêm-se. Juan, que não votou no referendo "por ser ilegal", está agora disposto a ser "dos primeiros" a votar nas eleições de dezembro, porque alguma coisa "tem que mudar. Não podem ganhar os mesmos, senão estamos perdidos", comenta. Quem pode ganhar? "Isso não sei, mas gostava que pudesse ser o PP e os partidos da independência ficar de fora".

Entre as várias opiniões encontra-se também aquelas que por aqui lhe chamam "ni chicha, ni limoná"", a remeter para a canção do chileno Vitor Jara, que satiriza os que não são carne nem peixe. Ou seja, "les da igual" que venha a independência ou que fiquem em Espanha. E, é nessa margem de indecisos que as campanhas de um e de outro lado procurarão interferir.

"Poderíamos continuar unidos [a Espanha], com uma independência numa base federalista", comentou Ana, também à porta do colégio, confessando que não participou nas ações que permitiram abrir os colégios eleitorais, mas tentou votar no referendo, embora sem sucesso. Espera poder votar em "dezembro".

As sondagens também mostram o movimento ascendente de uma força política que reune simpatias à direita. "Para mim, o Ciudadanos é um partido mais à direita do que Rajoy", queixa-se Mirella, num comentário apressado, acompanhando o passo do filho de cinco anos.

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