Morreu o famoso espião da Mossad que capturou o nazi Adolf Eichmann
Uma das operações da Mossad que mais livros e filmes de espionagem inspirou foi a captura, na Argentina, do terrível nazi Adolf Eichmann, que ali vivia sob identidade falsa, desde o fim da II Guerra Mundial. A equipa que conduziu essa operação, em maio de 1960, teve como líder Rafi Eitan - falecido este sábado, aos 92 anos.
Esta captura é contada no filme "Operação Final", de Chris Weitz, que estreou em 2018, ou "O Homen que capturou Eichmann", de 1996. Eitan também inspirou uma das principais personagens dos livros de Daniel Silva, o "velho" Ariel Sharon.
Eichmann, considerado um dos arquitetos do Holocausto, foi sequestrado, levado para Israel, onde foi julgado, considerado culpado por crimes de guerra e contra a humanidade, e enforcado em 1962.
Ainda este ano, Rafi Eitan foi um dos protagonistas de um documentário da Netflix - Inside the Mossad - onde relatou essa missão e outras operações da secreta israelita - entre as quais alguns assassinatos seletivos de suspeitos terroristas.
Eitan, que imigrou da Rússia, com os pais, em 1923 para a Palestina, viveu num kibutz e frequentou a escola pública. Logo aos 12 anos juntou-se ao grupo paramilitar judeu Haganah e participou em muitos ataques contra os britânicos, quando governavam o território.
Conta o The Guardian que, nessa altura, ganhou a alcunha de "Rafi Fedorento" depois de se ter arrastado por esgotos para conseguir colocar uma bomba que explodiu um posto de radares britânicos. Estes radares rastreavam os barcos que traziam judeus da Europa que queriam entrar no território, mas eram impedidos pelos britânicos.
Mais tarde foi estudar para a London School of Economics e em Israel assumiu vários cargos nos serviços de informações, tendo sido o assessor para o Terrorismo, no gabinete do ex-primeiro-ministro Menachem Begin. Está também referenciado - embora nunca o tivesse assumido - como tendo estado envolvido no ataque, e, 1981, contra o reator nuclear Osirak, no Iraque.
Nem tudo correu bem, no entanto, a Rafi. Foi ele o supervisor da operação contra os EUA, no âmbito da qual foi recrutado o analista de inteligência naval, Jonathan Jay Pollard, para roubar material ultra-secreto. Pollard foi preso e toda a operação da Mossad foi exposta publicamente, para humilhação de Israel, provocando uma rutura nas relações entre os dois países.
Eitan assumiu toda a responsabilidade e demitiu-se. Publicamente nunca mais teve cargos oficiais nas secretas, mas como se diz no mundo da espionagem, uma vez espião, toda a vida espião. Segundo ainda o The Guardian terá mesmo assessorado o M16 (a agência de informações britânica) em operações de contraterrorismo na Irlanda do Norte.
Foi empresário, foi ministro dos pensionistas e deputado (até 2009).
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, diz que Rafi Eitan é um "herói dos serviços de inteligência israelitas".
O diretor do Mossad, Yossi Cohen, afiançou que a maioria das façanhas de Eitan ainda é desconhecida do público. "Seu trabalho e suas ações serão gravadas em letras douradas nos anais do estado", disse Cohen em comunicado no sábado. "As fundações que Rafi estabeleceu nos primeiros anos do Estado são uma camada significativa nas atividades do Mossad até hoje".