Moro diz que fugas visam anular condenações da Lava Jato

Ministro da Justiça está a ser ouvido na comissão de Constituição e Justiça do Senado do Brasil
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Sergio Moro, ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, negou ter participado de qualquer conluio com o Ministério Público Federal na Operação Lava Jato. O ex-juiz está a ser ouvido, esta quarta-feira, pela comissão de Constituição e Justiça do Senado.

O ministro foi ao Senado prestar esclarecimentos sobre as mensagens que indicam troca de colaborações entre si e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, no âmbito da Lava Jato.

Aos senadores, Moro, de 46 anos, disse ter sido vítima de um ataque de hackers e que na origem do mesmo está uma tentativa de minar as instituições brasileiras e de anular as condenações no âmbito daquela operação anti-corrupção.

Trata-se de "um movimento claro para anular condenações pretéritas de pessoas que cometeram crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, impedir novas investigações e atacar as instituições brasileiras", referiu Moro.

Veja aqui em direto a comparência de Sergio Moro no Senado:

O ministro insistiu que não reconhece a autenticidade das mensagens divulgadas pelo portal Intercept, porque não foram alvo de perícias e poderão ter sido "total ou parcialmente editadas". Moro também classificou o trabalho do portal jornalístico Intercept neste caso como "sensacionalismo".

Segundo Moro, o objetivo principal do Lava Jato era "romper o ciclo de impunidade" no Brasil promovido por políticos e empresários influentes, que durante anos se haviam envolvido em várias práticas de corrupção em todos os níveis da administração pública.

"O que posso assegurar é que, na condução dos trabalhos de juiz no âmbito da Operação Lava Jato, sempre conforme a lei", disse Moro, perante os senadores brasileiros.

O ministro negou que tenha atuado politicamente na Lava Jato e afirmou ser comum que um juiz converse com as partes do processo. "É normal no Brasil esses contactos entre juiz, advogado e Ministério Público ou policiais. O que tem que ser avaliado é o conteúdo destes contactos", afirmou, no Senado.

Enquanto Moro falava no Senado, numa audiência em que os senadores aproveitaram também para revisitar as políticas de segurança do Estado brasileiro, os massacres em cadeias como as do estado do Amazonas, a existência da delação premiada como instrumento jurídico, o diretor-executivo da Intercept, o jornalista Glenn Greenwald, escrevia no Twitter: "Não há um só país no mundo democrático em que os jornalistas "entreguem" seu material jornalístico à polícia ou aos tribunais para inspeção antes de publicar, como Moro exige. Como juiz, ele deveria entender que uma imprensa livre está explicitamente protegida na Constituição".

Em entrevista ao DN, publicada esta segunda-feira, Greenwald afirmou: "É impensável noutros países que qualquer juiz apanhado a fazer as coisas que Moro fez consiga manter-se em qualquer cargo público, muito menos um cargo público com tanta importância como o de ministro da Justiça, mas obviamente o [presidente Jair] Bolsonaro não se importa nem um pouco com corrupção, ele e a família dele são bem ligados a milicianos, já temos muitas provas sobre isso. E, mais ainda, o Moro é muito importante para a legitimidade do governo Bolsonaro".

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