Ministro demitido: "Filho de Bolsonaro fez macumba psicológica na cabeça do pai"

Gustavo Bebianno atribui a Carlos Bolsonaro a sua demissão e divulga áudios que confirmam que manteve conversas com o chefe de estado às vésperas da demissão, o que havia sido negado pelos dois<em> </em>
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"Carlos Bolsonaro fez macumba psicológica na cabeça do pai", disse Gustavo Bebianno, o ministro da secretaria-geral da presidência recentemente demitido por Jair Bolsonaro e primeira baixa do governo empossado dias 1 e 2 de janeiro. Em entrevista à rádio Jovem Pan, aquele que era tido como mais leal dos colaboradores do presidente disse ainda que Bolsonaro "tem de dar um basta" na influência dos filhos nas suas decisões. E, depois de ter sido chamado de mentiroso por Carlos e Jair durante o processo de demissão, divulgou gravações áudio de diálogos com o chefe de estado do Brasil.

Durante o domingo passado, Bebianno, confrontado pela imprensa sobre a sua situação, disse que estava tudo bem até porque havia conversado três vezes com Jair Bolsonaro naquele mesmo dia. Imediatamente, via redes sociais, Carlos Bolsonaro afirmou que o então ministro era um mentiroso, uma vez que passara 24 horas ao lado do pai e não havia ocorrido qualquer conversa. Ainda pelas redes sociais, o presidente corroborou a versão do filho. Ontem, porém, Bebianno divulgou através da revista Veja, a troca de três mensagens áudio pelo aplicativo Whatsapp com Jair Bolsonaro, onde trocavam ideias sobre o caso que levou à demissão do primeiro.

"Porquê tanto ódio? Porquê vir a público chamar-me de mentiroso?", acrescentou ainda o hoje ex-ministro, noutro áudio. Bebianno, entretanto, mudou a foto dos seus perfis nas redes sociais - onde surgia ao lado de Bolsonaro, sorridente, aparece agora sozinho a apontar uma metralhadora. Na imprensa especula-se que Bebianno esteja a juntar dossiês com documentos capazes de criarem embaraços ao governo. O próprio, entretanto, disse que "o Brasil não merece isso"

Os conflitos entre Bebianno e o segundo filho de Bolsonaro, por isso chamado pelo pai de 02, têm origem na segunda volta da campanha eleitoral, quando o papel de ambos na chefia de comunicação do pai gerou choques, e nos primeiros dias pós eleição. Carlos não gostou de ouvir Bebianno dizer em público que o filho de um amigo seu traduziu o telefonema de felicitações de Donald Trump, atribuindo a tradução a uma intérprete profissional contratada por si para essa missão. Mais tarde, atribuiu ao rival a decisão de Bolsonaro de não o nomear secretário de comunicação, sob o argumento de que poderia ser acusado de nepotismo, caso o fizesse.

Bebianno caiu porque foi divulgado um esquema de candidatos fantasmas nas eleições no interior do partido do presidente, o PSL, a que presidiu durante a campanha. Mulheres apresentadas como candidatas a parlamentares apenas para cumprir a quota feminina exigida por lei devolviam o dinheiro do fundo público eleitoral a que tinham direito à direção partidária. Além de Bebianno, presidente nacional, também, Marcelo Antônio, presidente do partido em Minas Gerais e hoje ministro do turismo, é acusado do mesmo delito. Antônio, porém, continua em funções.

As discussões, gafes e escândalos dos filhos do presidente - Flávio, o mais velho, é suspeito de corrupção e de envolvimento com as milícias que mataram a vereadora Marielle Franco no ano passado - preocupam a área militar do governo. No Congresso, afirma a coluna da jornalista Mônica Bergamo no jornal ​​​​​​Folha de S. Paulo, dirigentes partidários, inclusivamente do PSL, já falam em plano B, caso a instabilidade de Bolsonaro o impeça de concluir o mandato. Diz ainda a coluna que Bolsonaro é comparado a Collor de Mello por desperdiçar o capital político após vitória retumbante nas urnas.

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