Mundo
25 outubro 2018 às 20h57

Militares pedem moderação às campanhas na reta final para as eleições no Brasil

Entrada na campanha de elementos militares, como nos casos das declarações de Eduardo Bolsonaro e das críticas de Fernando Haddad a Hamilton Mourão, leva cúpula da Defesa a pedir moderação

Igor Gielow, Folha de São Paulo

A entrada de elementos militares na discussão entre as campanhas de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) levou a cúpula da área de Defesa no país a fazer chegar às candidaturas um pedido por moderação na reta final da disputa.

Como Bolsonaro é o favorito para vencer o segundo turno, no domingo, as atenções estão mais concentradas no capitão reformado do Exército. Mas o PT, que procurou militares para conversar, também ouviu alertas.

Do lado do PSL, a preocupação maior foi com o vídeo no qual um dos filhos de Bolsonaro, o deputado reeleito Eduardo, diz que é fácil fechar o Supremo Tribunal Federal com "um soldado e um cabo" em caso de contestação judicial da vitória de seu pai.

Ainda que considerem que Eduardo falava em tom de blague, a menção à força militar contra o Judiciário por parte do filho mais mediático de Bolsonaro contrariou oficiais, segundo alguns deles.

Os militares contam com o general da reserva Augusto Heleno, anunciado ministro da Defesa caso Bolsonaro seja eleito, para exercer o papel de moderador desses impulsos.

Heleno, um general de quatro estrelas (topo da hierarquia), deixou o serviço ativo em 2011. Em 2017, começou a atuar na pré-campanha de Bolsonaro, a quem já conhecia, e quase foi seu vice.

A preocupação não é tanto com o Bolsonaro candidato, persona a qual oficiais generais costumam atribuir seus arroubos mais agressivos. Mas sim com o eventual Bolsonaro presidente, cuja palavra poderá ser levada ao pé da letra por estratos sob o guarda-chuva do Estado.

É o proverbial guarda da esquina, que se excede empolgado pelo que crê ser uma carta branca vinda de cima, como teria dito o vice-presidente Pedro Aleixo quando debatia o AI-5, ato que endureceu a ditadura há 50 anos.

Nesse sentido, a fala de Bolsonaro no domingo, prometendo "varrer inimigos vermelhos", prender Haddad e criticar a Folha de São Paulo por suas reportagens sobre o papel do WhatsApp na campanha caiu muito mal na cúpula.

Bolsonaro, fiel ao seu estilo à la Donald Trump de bater e depois recuar, até tentou minimizar o que falou, exceto no caso do jornal.

Mas a cúpula espera uma declaração firme, mesmo que depois do resultado do pleito, para amainar ânimos.

Há também uma preocupação com atos violentos após a eleição, como o Painel mostrou nesta quarta-feira.

Do lado petista, o desconforto veio pela acusação feita por Haddad na terça-feira de que o general da reserva Hamilton Mourão (PRTB), vice na chapa de Bolsonaro, teria sido um torturador.

O petista repetiu o que dissera o cantor Geraldo Azevedo, preso pela ditadura em 1969, durante uma apresentação. A questão é que Mourão tinha 16 anos na época e estava no colégio militar.

Mourão, general de quatro estrelas, era integrante do Alto Comando do Exército, centro de gravidade militar do país, até o fim de fevereiro. Se não é unanimidade, é respeitado e influente. Faz parte de uma geração que cresceu no oficialato pós-1985, e considera ter tido de absorver o maior ónus da transição da ditadura para a democracia.

Um petista procurou militares para tomar pulso da situação e ouviu queixa para transmitir a Haddad.

O petista até se desculpou pelo erro factual, mas voltou a criticar o fato de que Mourão e Bolsonaro declaram admiração aberta por Carlos Alberto Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-Codi, centro de torturas na ditadura.

Além de Heleno, o general da reserva Fernando Azevedo e Silva é outro esteio do arcabouço informal que se montou entre as instituições à medida que a candidatura de Bolsonaro passou a ser vista como uma realidade viável.

Ele deixou o Alto Comando e foi assessorar o novo presidente do Supremo, Dias Toffoli, movimento acusado como de tutela no meio jurídico.

Os seus apoiantes creem que ele servirá como um facilitador na transmissão de informações, até para reduzir o potencial de crises quando verborrágicos bolsonaristas ocuparem lugares de destaque no novo Congresso.

Silva é um ano mais velho que Bolsonaro na academia de formação de oficiais, e ambos serviram juntos na Brigada de Infantaria Paraquedista.

É uma costura delicada. Como a Folha de São Paulo descreveu nesta segunda-feira, a cúpula da área teme que a natural identificação entre as Forças e um eventual governo que se propagandeia como militarizado possa causar danos institucionais.