Kirchner defende-se por escrito e denuncia perseguição política

Ex-presidente argentina foi a tribunal mas manteve o silêncio, entregando uma declaração escrita ao juiz em que denuncia uma "estratégia regional para proscrever dirigentes que permitiram a milhões de pessoas sair da pobreza", comparando-se com Lula.
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A ex-presidente argentina Cristina Kirchner, suspeita de liderar uma organização criminosa que recolhia dinheiro dos empresários beneficiados pelo governo com contratos de obras públicas e o usava para financiar campanhas, recusou responder às perguntas do juiz Claudio Bonadio. Chamada a declarar em tribunal pelo caso dos "cadernos dos subornos", na segunda-feira, Kirchner optou antes por apresentar a sua defesa por escrito.

O último caso judicial a ameaçar Kirchner parte da investigação aos oito cadernos escritos por Óscar Centeno, que foi motorista do número dois do ministério do Planeamento argentino, Roberto Baratta. Ao longo de uma década ao serviço do kirchnerismo, Centeno descreveu todas as viagens que fez com o seu Toyotta Corolla, incluindo as vezes em que transportou malas de dinheiro alegadamente pago pelos empresários beneficiados pelo governo argentino com obras públicas. O dinheiro era entregue a altos-responsáveis do governo, incluindo o casal Kirchner (antes de Cristina, foi o marido Néstor que esteve na Casa Rosada).

Kirchner, que não pronunciou uma palavra durante mais de uma hora frente a frente com o juiz Claudio Bonadio e o procurador Carlos Stornelli, entregou três documentos ao tribunal, que publicou também na sua conta de Facebook.

Nestes, denuncia estar a ser alvo de perseguição política e uma "estratégia regional para proscrever dirigentes que permitiram a milhões de pessoas sair da pobreza". A ex-presidente comparou-se assim a Lula da Silva, que após dois mandatos na presidência brasileira está agora detido, condenado por corrupção, e aguarda uma decisão sobre se pode ou não ser candidato às presidenciais deste ano.

A ex-presidente pede ainda que o atual chefe de Estado, Maurício Macri, seja ouvido pelo tribunal, para saber se ajudou o primo (o empresário Ángelo Calcaterra, um dos que terá pago dinheiro ao kirchnerismo) a negociar benefícios judiciais em troca de testemunho incriminatório contra Kirchner. O número de "arrependidos" não para de crescer.

Negando todos os crimes de que é acusada, Kirchner diz que tem sido vítima de uma "perseguição" desde que Macri tomou posse, em dezembro de 2015, considerando Bonadio como "um juiz inimigo". Este magistrado é responsável por cinco dos seis processos pelos quais é investigada, diz a ex-presidente.

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