John Major diz que questão irlandesa é um truque para fazer falhar o Brexit

Político que sucedeu a Margaret Thatcher como primeiro-ministro do Reino Unido lembrou, no âmbito da polémica sobre o backstop, que os Troubles começaram nos anos 1960 com a morte de um agente alfandegário entre as duas Irlandas
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John Major, primeiro-ministro do Reino Unido entre 28 de novembro de 1990 e 2 de maio de 1997, criticou esta terça-feira a ignorância dos defensores do Hard Brexit e dos autoproclamados unionistas sobre a questão do backstop e da fronteira entre as duas Irlandas.

O ex-chefe do governo, que falava numa palestra em Longford, na Irlanda, considerou que a polémica em torno do backstop não passa de um mero truque para fazer falhar qualquer acordo entre o Reino Unido e a União Europeia sobre o Brexit.

"Algumas opiniões são de uma ignorância gritante sobre o provável impacto que pode ter na Irlanda uma mexida no Acordo de Sexta-Feira Santa. Para essas pessoas, a exigência irlandesa de um backstop é um truque, um truque para manter o Reino Unido na União Aduaneira. Aqueles que gozam e menosprezam o backstop deveriam refletir sobre os riscos de destruir esta opção e deveriam parar de acreditar em alternativas que não existem em lado nenhum e nem sequer foram inventadas por ninguém. Em jogo estão não só relações na comunidade, mas também a segurança e por conseguinte igualmente vidas", declarou Major, de 75 anos, que sucedeu a Margaret Thatcher como primeiro-ministro.

Isto depois de esta ter sido forçada a demitir-se por uma rebelião no seu próprio Partido Conservador. Por causa da integração europeia. O mesmo tipo de rebelião que Theresa May, a atual primeira-ministra, enfrenta agora e que a fez adiar o voto sobre o acordo do Brexit, que este previsto para esta tarde. Não sabe, para já, quando será - se é que alguma vez será - submetido a votação.

"Não devemos esquecer que os Troubles [conflito da Irlanda do Norte] começaram em 1960 com o assassinato de um agente alfandegário na fronteira entre o norte e o sul", sublinhou Major no discurso que fez esta terça-feira de manhã, criticando todos os deputados que no Parlamento de Westminster, em Londres, "acreditam que são unionistas", numa referência aos que defendem que a Irlanda do Norte é parte do Reino Unido.

Major, que quando era primeiro-ministro assinou o Tratado de Maastricht em nome do Reino Unido, foi a razão da criação do think tank eurocético European Research Group em 1992. Este é, hoje em dia, liderado por Jacob Rees-Mogg, deputado conservador que lidera a rebelião contra May.

O famoso backstop, mecanismo de salvaguarda sobre o qual May vai agora ainda tentar obter concessões por parte do Conselho Europeu, só é ativado se, após um período de transição, não houver acordo sobre a futura relação entre a UE e o Reino Unido.

O regresso de uma fronteira física é algo inaceitável por parte da República da Irlanda e da UE. E a continuação da Irlanda do Norte no mercado único, enquanto o resto do Reino Unido sai, é inconcebível para os unionistas. Recorde-se que, durante anos, houve uma guerra sangrenta na Irlanda do Norte entre unionistas (apoiados por Londres) e republicanos (sobretudo do Exército Republicano Irlandês - IRA). Uns queriam o que hoje existe, ou seja, que a Irlanda do Norte seja uma província autónoma do Reino Unido. E outros queriam a reunificação da ilha numa só República da Irlanda.

Quando o conflito terminou, com o Acordo de Sexta-Feira Santa, de 1998, o saldo era de 3500 mortos, entre civis, membros das forças de segurança britânicas e de grupos paramilitares.

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