Ismael foi assassinado pelo pai enquanto tentava defender a mãe
"Gentil". "Engraçado". É de lágrimas nos olhos que os alunos do Instituto Pablo Serrano, Espanha, vão descrevendo o colega Ismael. Os mais de trinta jovens juntavam-se para uma manifestação em nome do adolescente de 15 anos que morreu esta quarta-feira ao tentar defender a mãe das agressões do pai, que se suicidou logo após o homicídio. Se para os vizinhos da cidade de Teruel, onde moravam, custa acreditar que algo tão macabro aconteceu a esta família, em nada os surpreende que Ismael tenha tentado defender a mãe, de quem estava "sempre pendente", conta o El País.
No dia anterior ao acidente que culminou na morte do adolescente e do pai, Ismael e a mãe tinham saído de casa devido a uma discussão do casal. Um dia depois, Gema, 39 anos, foi surpreendida pelo marido, Mustafa, 41, que tentou esfaqueá-la. Mas Ismael tentou defender a mãe, colocando-se entre ela e a arma branca, e acabou mesmo por morrer no local. Gema encontra-se hospitalizada num hospital em Saragoça, em estado grave, embora estável, segundo fontes próximas da investigação. Após o ataque, Mustafa atirou-se do quarto andar onde viviam.
O pai de Ismael, de origem muçulmana, era funcionário da central térmica de Andorra (município de Teruel, em Aragão), propriedade da Endesa. Nada no casal ou em Mustafa parece alguma vez ter feito soar os alarmes. Amigos, colegas e vizinhos garantem que Mustafa adorava o filho e que a família transmitia uma imagem feliz.
Nem as autoridades podiam desconfiar, pois garantem que não há registos de qualquer denúncia de abuso doméstico. Algo comum nestes casos de violência, segundo as autoridades. De acordo com os dados da Delegação do Governo para a Violência de Género, em 79% dos casos de assassinos sexistas nunca foram denunciados pelas mulheres. Só este ano, até agora há registo de 38 mulheres assassinadas pelos parceiros. Mas só em 2013 é que os homicídios dos filhos dos agressores foram incluídos nas estatísticas oficiais, contabilizando-se, até então, 29 menores. Ismael é o terceiro caso de um menor assassinado nestas circunstâncias em Espanha.
Até julho, pelo menos 17 mulheres morreram em Portugal vítimas de violência doméstica. Segundo o relatório anual referente a 2018 da Rede de Apoio a Familiares e Amigos de Vítimas de Homicídio e Vítimas de Terrorismo, entre os crimes acompanhados destacam-se "as relações de proximidade entre os autores e as vítimas de crime". "Os relacionamentos entre cônjuges, namorados, ex-namorados, companheiros e ex-companheiros representam 31,25% da totalidade dos diferentes tipos de relacionamentos", refere a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).
Um relatório divulgado em junho deste ano, da Comissão Técnica Multidisciplinar para a Melhoria da Prevenção e Combate à Violência Doméstica, tece várias críticas à forma como o Estado português lida com este crime.