Governo indonésio restringe redes sociais e diz que manifestantes são pagos

Pela segunda noite consecutiva, a polícia disparou canhões de água e balas de borracha contra manifestantes. As autoridades alegam que os protestos não são espontâneos e limitaram o acesso às redes sociais.
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"Eu não vou tolerar que ninguém perturbe a segurança... ou aqueles que perturbam o processo democrático ou a unidade do país", afirmou o presidente reeleito Joko Widodo no palácio presidencial. Após ter apelado para a unidade e harmonia do país, Widodo advertiu que as autoridades policiais vão agir sobre aqueles que instigam motins.

Mas também exortou "ambos os lados a absterem-se de abusos físicos".

O ministro da Segurança, Wiranto, disse que o governo bloquearia temporariamente certas funções das redes sociais, tendo alegado que o objetivo é evitar a propagação de notícias falsas. Facebook, Instagram, WhatsApp e Telegram foram bloqueados. Mensagens falsas e outras a apelar à violência aumentaram nas redes sociais desde terça-feira. "Nós nunca vimos nada como antes em volume, gravidade e coordenação", disse Harry Sufehmi, co-fundador da Mafindo, uma organização indonésia que luta contra notícias falsas.

De acordo com a lei de difamação na Internet da Indonésia, a criação e difusão de notícias falsas é ilegal e punível com prisão.

A polícia informou que em três locais da capital foram detidos 257 suspeitos suspeitos de terem iniciado motins. Muitos dos manifestantes terão vindo de fora de Jacarta e a polícia encontrou envelopes com dinheiro em algumas das pessoas revistadas, disse o porta-voz da polícia nacional, Muhamad Iqbal.

"Isso não é um incidente espontâneo, foi planeado. Há indicações de que as multidões são pagas e estão dispostas a causar o caos", disse. Em conferência de imprensa, a polícia exibiu suspeitos e o respetivo material apreendido: artefactos explosivos, flechas improvisadas, foices e dinheiro em sobrescritos.

Os protestos violentos seguiram-se ao anúncio pela Comissão Geral de Eleições (KPU) de que o presidente Joko Widodo havia vencido o seu adversário, o ex-general Prabowo Subianto, nas eleições de 17 de abril. Widodo foi eleito com mais de 85 milhões de votos (e 55,5%) no total de 154 milhões, mas o general reformado Prabowo Subianto, que teve 44,5%, alegou "fraudes e irregularidades maciças" e recusou-se a admitir a derrota. A comissão de eleições rejeitou as alegações de fraude. Observadores independentes disseram que a votação foi livre e justa.

Prabowo deverá contestar o resultado no Tribunal Constitucional na quinta-feira. Prabowo também protestou depois de ter sido derrotado nas eleições de 2014 por Widodo, mas sem sucesso.
Analistas disseram que a margem de vitória significa que a oposição não tem um caso forte para alegar fraude, mas os apoiantes islamistas de Prabowo podem causar uma perturbação considerável.

Os grupos islâmicos, muitos dos quais apoiam Prabowo, conseguiram no passado mobilizar o apoio de massas. A partir do final de 2016, organizaram uma série de protestos contra o então governador de Jacarta, Basuki Tjahaja Purnama, o primeiro cristão de etnia chinesa a ocupar o cargo, que foi posteriormente preso por ter alegadamente insultado o Alcorão.

Pagos para criar confusão

Moeldoko, chefe do gabinete presidencial, disse que acreditava que havia "um esforço sistemático de um certo grupo que está a aproveitar-se para enlamear a situação". "Sabemos quem está por trás disso", disse.

Os manifestantes reuniram-se diante da comissão de supervisão eleitoral no centro de Jacarta. Alguns chegaram carregados de postes de madeira e outros espalharam pasta de dente ao redor dos olhos para reduzir os efeitos do gás lacrimogéneo.
Muitos foram-se embora pacificamente, mas à medida que caía a noite, foi lançado material pirotécnico e outros objetos contra a polícia e ateado fogo enquanto tentavam passar o arame farpado que os separava da polícia. A polícia respondeu com gás lacrimogéneo, balas de borracha e canhões de água.

O governador de Jacarta, Anies Baswedan, disse que na noite anterior seis pessoas haviam sido mortas e 200 feridas.

O chefe da polícia nacional Tito Karnavian disse que as mortes iam ser investigadas. O porta-voz da polícia, Dedi Prasetyo, disse que as forças de segurança, inclusive militares, não estavam equipadas com armas de fogo.

Quarenta mil polícias e militares estão de plantão em Jacarta para manter a segurança. Muitos prédios de escritórios, empresas e embaixadas no centro de Jacarta foram fechados, assim como estações de comboios na área.

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