Governo de Itália foi informado há seis meses de falhas na estrutura da ponte Morandi
Em fevereiro, o Ministério dos Transportes italiano foi informado das fragilidades da ponte Morandi, parte de cuja estrutura desabou no passado dia 14, provocando a morte a 43 pessoas em Génova. O executivo de Matteo Renzi sabia que a corrosão dos pilares que sustentam a estrutura diminuíra em 20% a capacidade de resistência dos cabos metálicos. A conclusão é de um estudo da própria concessionária da A10, a Autostrade per L'Italia, que foi divulgado esta segunda-feira pela revista L' Espresso.
"Foram encontrados alguns aspetos questionáveis sobre a resistência do betão", lia-se no documento da concessionária. Desde essa altura e até ao desabamento de parte da estrutura da ponte Morandi passaram seis meses e nada foi feito para minimizar os riscos do desgaste que a estrutura apresentava. "Nem a empresa concessionária nem o Ministério consideraram ter que limitar o tráfego, desviar os veículos pesados, reduzir as faixas de rodagem, limitar o a velocidade", escreve a publicação, que revela a ata da reunião na qual a gestão das Obras Públicas de Génova emite a obrigatoriedade de um parecer em relação ao projeto de reestruturação da Autostrade per L'Italia.
Aliás, a ata da reunião sobre os eventuais trabalhos a realizar na estrutura da ponte, é assinada pelo arquiteto Roberto Ferraza, de Génova, o mesmo designado pelo atual governo para liderar as investigações para apurar as causas do colapso de parte da estrutura da ponte.
Ao Financial Times , Ferraza garante não considerar que haja conflito de interesses ao assumir as investigações que estão em curso. "Fui nomeado", justifica. Recua no tempo e lembra que em fevereiro foi comunicada a necessidade de efetuar trabalhos de reparação e manutenção da ponte Morandi. O arquiteto conta que o projeto relativo às obras foi enviado para Roma para a aprovação final, o que, de facto, aconteceu. As obras foram aprovadas pelo Ministério, conta o jornal, e um concurso, no valor de 20 milhões de euros, foi anunciado em maio.
Revelações que questionam a atitude do atual governo que culpa a empresa concessionária. O vice-primeiro-ministro, Luigi Di Maio, foi taxativo. "Os responsáveis têm um nome e um sobrenome: Autostrade per L'Italia", acusou.
Já o ministro das Infraestruturas, Danilo Toninelli, disse numa mensagem na rede social Facebook que "os diretores da Autostrade per l'Italia devem demitir-se antes de mais nada" e avançou que o governo italiano "ativou todos os procedimentos para a possível revogação das concessões e a imposição de uma multa de até 150 milhões de euros".
A empresa recusa responsabilidades e afirmou ter cumprido todos os requisitos de segurança. "Os diagnósticos compuseram a base para as obras de manutenção aprovadas pelo Ministério dos Transportes, de acordo com a lei e com os termos do contrato de concessão", afirmou a empresa, num comunicado citado pela Reuters.
Mas os alertas para as fragilidades da ponte já têm dois anos. O engenheiro e professor universitário Antonio Brencich afirmou que "o viaduto Morandi apresentou desde o início diversos aspetos problemáticos, além de ter ficado acima dos custo inicialmente estimado. Numa entrevista à Universidade de Génova, o especialista defendia que a ponte Morandi era "um erro da engenharia e deve ser reconstruída em breve porque os custos de manutenção serão exorbitantes e superarão os da construção".