Fumo dos incêndios no interior do Brasil cobre de negro o céu de São Paulo

Maior onda de incêndios dos últimos cinco anos no Brasil afeta Amazónia, Pantanal e a Tríplice Fronteira. Mau tempo tem levado fumo para a capital paulista
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A onda de incêndios que têm afetado Amazónia, Pantanal e a Tríplice Fronteira, no interior do Brasil, já se fazem sentir no céu de São Paulo. Em plena tarde, a capital paulista escureceu por culpa do mau tempo mas também com o contributo do fumo transportado pelo vento desde o interior do país, afirma Marcelo Pinheiro, do Clima Tempo.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) admite que o corredor de fumo que avançou em direção ao centro-sul do Brasil e chegou a São Paulo, mas não garantiu que essa seja a principal causa para a escuridão que se faz sentir logo às 15.00, embora vários especialistas tenham alertado para este fenómeno há alguns dias.

A MetSul, empresa de meteorologia do sul do Brasil, publicou no sábado uma fotografia no seu Twitter da lua, alaranjada, vista de Livramento, na fronteira com o Uruguai, justificando a tonalidade laranja pelo efeito ótico gerado pelas partículas na atmosfera vindas dos incêndios do norte do país.

Amazónia é o bioma mais afetado

O número de incêndios no Brasil cresceu 70% este ano, em comparação com período homólogo de 2018, tendo o país registado 66,9 mil focos até ao passado domingo, com a Amazónia a ser o bioma mais afetado.

De acordo com a imprensa brasileira, que cita dados do "Programa de Queimadas" do INPE, o bioma (conjunto de ecossistemas) mais afetado é o da Amazónia, com 51,9% dos casos, seguindo-se o cerrado - ecossistema que cobre um quarto do território do Brasil - com 30,7% dos focos registados no ano.

O cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, ficando atrás em extensão apenas da floresta amazónica, com dois milhões de quilómetros quadrados.

Segundo o portal de notícias UOL, em números absolutos, Mato Grosso é o estado com mais focos de incêndio registados no Brasil, com 13.109, sendo seguido pelo Pará, com 7.975.

No início de agosto, o governo do Amazonas decretou situação de emergência no sul do estado e na Região Metropolitana de Manaus devido ao "impacto negativo da desflorestação ilegal e queimadas não autorizadas". "O Amazonas registou, de janeiro a julho deste ano, 1.699 focos de calor (focos com temperatura acima de 47°C, registados por satélite, que indicam a possibilidade de fogo). Destes, 80% foram registados julho, mês em que teve início o período de estiagem", declarou o estado do Amazonas no seu site.

Depois de o Amazonas decretar a situação de emergência, o governo do Acre declarou, na sexta-feira passada, estado de alerta ambiental, também devido aos incêndios em matas.

O número de focos de incêndio no país já é o maior dos últimos sete anos.

Ao jornal Estadão, o pesquisador Alberto Setzer explicou que o clima em 2019 está mais seco do que no ano passado, o que propicia incêndios, mas garante que grande parte deles não têm origem natural. "Nesta época do ano não há fogo natural. Todas essas queimadas são originadas em atividade humana, seja acidental ou propositada. A culpa não é do clima, ele só cria as condições, mas alguém coloca o fogo", afirmou Setzer.

A expectativa do especialista é que a situação piore ainda mais nas próximas semanas com a intensificação da seca.

Bolsonaro reage com ironia

O INPE, órgão do Governo brasileiro que levanta os dados sobre a desflorestação e queimadas no país, foi alvo de críticas recentes por parte do Presidente brasileiro, que acusou o Instituto de estar a serviço de algumas organizações não-governamentais por divulgar dados que apontam para o aumento da desflorestação da Amazónia. Jair Bolsonaro disse, com ironia, que passou de "capitão motosserra" a "Nero", em alusão ao imperador acusado de incendiar e destruir Roma. "Agora estou sendo acusado de tocar fogo na Amazónia. Nero! É o Nero tocando fogo na Amazónia", afirmou.

As recentes divulgações do INPE apontam que a desflorestação da Amazónia cresceu 88% em junho e 278% em julho, comparativamente com o mesmo período do ano passado. No entanto, o Governo brasileiro nega esses dados.

A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Tem cerca de cinco milhões e meio de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (território pertencente à França).

68 áreas protegidas arderam

Os fogos avançam sobre áreas protegidas. Ainda segundo dados de INPA, só nesta semana, houve 68 ocorrências em terras indígenas e em unidades de conservação. No Parque Nacional da Ilha Grande, no Paraná, arderam 33 mil hectares, a Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, perdeu 12% da sua área, o Parque do Araguaia, no Tocantins, soma mais de 1000 incêndios este ano.

Com João Almeida Moreira

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