Extrema-direita britânica apropria-se dos coletes amarelos para defender o Brexit
Há uma semana, uma centena de manifestantes - alguns com coletes amarelos a imitar os protestos de França - fecharam a ponte de Westminste em Londres antes de se concentrarem na Praça do Parlamento, lançarem bombas de fumo e interromperem o trânsito. A manifestação a defender o Brexit sem acordo não foi autorizada e a polícia efetuou pelo menos quatro detenções: entre os detidos estava uma jovem de 13 anos por suspeita de atacar um agente.
Na segunda-feira, outro grupo de manifestantes - entre eles alguns com coletes amarelos e com ligações à extrema-direita - atacou verbalmente a deputada trabalhista anti-Brexit Anna Soubry. Primeiro quando ela estava em direto na BBC News (chamaram-na "nazi"), depois quando deixou o estúdio improvisado que as televisões britânicas construíram junto ao Parlamento e se dirigia para Westminster.
As imagens foram reveladas nas redes sociais.
Na praça frente ao Parlamento é normal encontrar manifestantes a favor e contra o Brexit. Mas, nas últimas semanas, em pleno debate decisivo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, tem-se tornado um espaço mais intimidante para os deputados e profissionais dos media (os jornalistas da Sky News ou do The Guardian também foram alvo de ataques). Após a agressão verbal e perseguição a Soubry, um grupo de 55 deputados pediu à Polícia Metropolitana mais segurança.
O movimento destes coletes amarelos britânicos não parece ter a mesma força que a dos franceses, mas novos protestos estão previstos para este sábado. Ao contrário do que acontece em França, em que os protestos começaram contra o aumento dos impostos sobre os combustíveis e se alargaram num movimento generalizado contra o presidente Emmanuel Macron, no Reino Unido o tema que os une parece ser um Brexit sem acordo.
A HOPE Not Hate (esperança não ódio), que monitoriza a atividade da extrema-direita no Reino Unido, denunciou esta semana o facto de os coletes amarelos no país estarem ligados a um grupo apelidado Defensores da Liberdade, liderado por Tim Scott - um veterano que esteve no Afeganistão, combateu o Estado Islâmico ao lado dos curdos e foi líder do Pegida UK (o braço britânico da organização anti-islamização que nasceu na Alemanha).
O ex-membro do UKIP, Jack Sen, estará também envolvido com os Defensores da Liberdade, segundo a mesma fonte. Sen foi suspendo pelo próprio partido a uma semana das eleições de 2015, depois de uma série de ataques racistas.
O grupo será apoiado por James Goddard, que tem vindo a ganhar destaque nos últimos meses. Intitula-se "ativista político", tem ligações à extrema-direita e costuma filmar os seus confrontos verbais, com comentários contra os muçulmanos, nas redes sociais, pedindo doações públicas para continuar as suas atividades. Em maio do ano passado resolveu deixar o emprego na liderança de uma pequena empresa para se dedicar exclusivamente aos protestos.
Goddard, de 29 anos, foi um dos "coletes amarelos" a atacar verbalmente a deputada Anna Soubry (anti-Brexit) - e já não era a primeira vez, em dezembro, acusou-a de estar "ao lado de Adolf Hitler". Tem também estado associado a Tommy Robinson (o nome verdadeiro é Stephen Yaxley-Lennon), ativista anti-islão e atual conselheiro do líder do UKIP Gerard Batten.
Goddard esteve nas manifestações durante o verão que pediam a libertação de Robinson, que estava detido por desrespeito ao tribunal. Depois de ser libertado, esteve ao lado de Batten na marcha "a traição do Brexit" em Londres, a 9 de dezembro, cinco dias antes do primeiro protesto oficial dos coletes amarelos em Londres, organizado através do Facebook.
Quem também apoia o grupo, segundo a HOPE Not Hate é Nick Griffin, ex-líder do Partido Nacionalista Britânico (BPN, na sigla em inglês), que tem defendido publicamente mais protestos "na esperança que estes possam ajudar a recuperar a sua falhada carreira política", segundo o texto assinado pelo diretor da HOPE Not Hate, Nick Lowles. Esta organização nasceu precisamente em 2004 para contrabalançar a ascensão do BPN.
"Com base nas mensagens em grupos privados nas redes sociais vistos pela HOPE not Hate, protestos são esperados este fim de semana em Cardiff, Birmingham, Manchester e Leeds. A extrema-direita está a considerar como alvo os escritórios dos deputados trabalhistas que são contra o Brexit", escreveu Lowles.