Ataques a petroleiros. EUA apontam o dedo ao Irão

Um petroleiro japonês e outro norueguês foram atacados no golfo de Omã, perto do estreito de Ormuz. As tripulações foram resgatadas. António Guterres afirma que "o mundo não pode permitir-se a um confronto em larga escala no Golfo Pérsico".
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Pela voz do secretário de Estado Mike Pompeo, os Estados Unidos já chegaram a uma conclusão sobre o ataque aos dois navios: "É a avaliação dos Estados Unidos de que o Irão é responsável pelos ataques"

"Esta avaliação é baseada em inteligência, nas armas usadas, no nível de perícia necessário para executar a operação, em recentes ataques iranianos semelhantes ao transporte marítimo e no facto de que nenhum grupo de operadores na área tem recursos para agir com este alto grau de sofisticação", referiu.

"Este é apenas o mais recente da série de ataques instigados pelo Irão contra os interesses americanos e dos nossos aliados internacionais", acrescentou o secretário de Estado norte-americano.

"O Irão está a atacar porque o regime quer que a nossa bem-sucedida campanha de máxima pressão seja levantada. Nenhuma sanção económica confere à República Islâmica o direito de atacar civis inocentes, perturbar os mercados petrolíferos mundiais e fazer chantagem nuclear."

O Conselho de Segurança das Nações Unidas reúne-se nesta quinta-feira de emergência na sequência do ataque a dois petroleiros no golfo de Omã. O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou os ataques ao intervir numa reunião do Conselho de Segurança sobre cooperação entre as Nações Unidas e a Liga Árabe. Guterres disse que acompanha com "profunda preocupação" o incidente e sublinhou que "o mundo não pode permitir-se a um confronto de grande escala no Golfo Pérsico".

O incidente ocorre cerca de um mês depois de quatro navios, três deles petroleiros, terem sido atacados ao largo dos Emirados Árabes Unidos, ação que os Estados Unidos atribuíram ao Irão, que por seu lado negou qualquer envolvimento.

As autoridades iranianas reagiram com declarada desconfiança à informação, avançada pela Marinha dos Estados Unidos, de que dois petroleiros terão sido atacados no golfo de Omã, precisamente numa altura em que o primeiro-ministro japonês está em Teerão para tentar mediar a relação tensa entre aquele país e Washington.

"A palavra suspeita não é suficiente para descrever" os acontecimentoscontra os dois petroleiros - um deles japonês - que ocorreram enquanto o primeiro-ministro [japonês] se reunia" com o guia supremo iraniano em Teerão, escreveu no Twitter o ministro Mohammad Javad Zarif.

Evolução perigosa

O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, reagiu ao incidente tendo dito que há "uma evolução perigosa" no Médio Oriente. "Ataques a petroleiros e ataques com mísseis no coração da Arábia Saudita, como vimos há dois dias, são uma evolução perigosa que deve levar o Conselho de Segurança a agir contra os responsáveis para manter a segurança e a estabilidade na região", afirmou.

Na mesma reunião de cooperação entre a ONU e a Liga Árabe, que decorreu na sede das Nações Unidas em Nova Iorque, o embaixador dos EUA na ONU disse que os ataques são "inaceitáveis". "É inaceitável para qualquer parte atacar a navegação comercial e os ataques de hoje aos navios no Golfo de Omã levantam preocupações muito sérias", disse o diplomata Jonathan Cohen.

A Casa Branca fez saber que o presidente Donald Trump foi informado sobre o assunto.

Moscovo declarou que não deve haver precipitações em atribuir responsabilidades nem em usar o incidente para pressionar o Irão.

Tripulações a salvo

A tripulação do Front Altair, petroleiro norueguês com bandeira das Ilhas Marshall. abandonou o navio em águas entre os estados árabes do Golfo e o Irão após uma explosão que uma fonte disse que poderia ter sido de uma mina magnética. O navio estava em chamas, enviando uma enorme nuvem de fumo para o ar.

A tripulação foi resgatada por um navio que passava e entregue a um barco de resgate iraniano.
O segundo navio, Kokuka Courageous, navio tanque de gás japonês, foi atingido por um torpedo suspeito, disse a empresa que fretou o navio, segundo a Reuters. A tripulação também foi recolhida em segurança e a carga de metanol está intacta, informou a empresa Kokuka Sangyo.

De acordo com as agências internacionais de notícias, a Marinha dos Estados Unidos afirmou estar a prestar assistência aos petroleiros que terão sido atacados.

"Fomos informados de um ataque contra petroleiros no golfo de Omã. As forças navais norte-americanas na região receberam duas chamadas de socorro distintas", afirmou em comunicado o comandante Josh Frei, porta-voz da 5.ª Frota da Marinha, responsável por zelar pelos interesses dos Estados Unidos nas águas da região.

Segundo a Associated Press, a empresa que opera um dos dois petroleiros afirma que uma explosão causou um incêndio a bordo. Outra empresa de navegação identificou o segundo navio atingido e disse que 21 marinheiros foram retirados da embarcação, com um deles a apresentar ferimentos ligeiros.

Aliado americano e parceiro estratégico do Irão

O caso ocorre quando o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, está de visita ao Irão, numa altura em que Teerão e Washington assistem a uma escalada de tensão política e militar, tornando o tema um dos pontos centrais das conversas que tem desenvolvido com Hassan Rohani.

A visita de Abe é a primeira de um chefe de governo japonês desde a revolução islâmica de 1979 e a primeira de um líder de um país do G7 desde que o presidente norte-americano, Donald Trump, se retirou do acordo nuclear.

O Japão é um importante aliado dos Estados Unidos da América e tem um histórico de relações comerciais com o Irão muito profundo, o que torna este país um potencial mediador do conflito entre aqueles dois países.

De acordo com o Financial Times, as notícias do ataque já causaram uma subida do preço do barril de petróleo, que chegou a ser de 4,5% em alguns mercados.

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