Em 2013, 5 Estrelas de Génova dizia que colapso da ponte era uma fábula
O ministro das Infraestruturas e Transportes de Itália, Danilo Toninelli, exigiu nesta quarta-feira a demissão dos responsáveis da empresa Autostrade per l'Italia, concessionária da Ponte Morandi, que colapsou parcialmente na véspera deixando pelo menos 38 mortos e 16 feridos, 12 deles, pelo menos, em estado grave.
Numa mensagem que publicou no Facebook, o governante, do Movimento 5 Estrelas, escreveu que "os responsáveis da Autostrade per l'Italia devem demitir-se antes de tudo" e avançou que o governo italiano "ativou todos os procedimentos para a possível revogação das concessões e a imposição de uma multa de até 150 milhões de euros".
Toninelli, que foi ao terreno acompanhar os trabalhos de resgate e remoção de escombros, sublinhou: "Se não são capazes de administrar as nossas autoestradas, o Estado o fará."
Na véspera, o vice-primeiro-ministro e ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, citado pela Ansa, apontou o dedo à União Europeia. "Se não houvesse constrangimentos externos que nos impedem de gastar mais em estradas seguras, escolas... então realmente devemos questionar se vale a pena seguir estas regras. Não pode haver negociação que ligue regras fiscais à segurança dos italianos", afirmou o dirigente populista de direita, líder da Liga, cujo governo quer excluir certos investimentos dos cálculos do défice.
O colapso, que jogou no vazio 20 automóveis e três camiões que se encontravam sobre aqueles cem metros do viaduto, ocorreu por volta do meio-dia, cerca de 11.00 em Lisboa, numa altura em que caíam chuvas torrenciais em Génova, capital da região da Ligúria e noroeste de Itália. A Ponte Morandi, inaugurada em 1967, sempre foi polémica e houve inclusivamente engenheiros que apontaram para a existência dos mais variados problemas.
Apesar da cólera dos governantes atuais, no poder desde junho, o certo é que, em 2013, o 5 Estrelas de Génova classificou como "favoletta", efabulação, a possibilidade de a Ponte Morandi vir a colapsar. Isso mesmo constava num comunicado que estava no site do partido, mas foi retirado, embora ainda seja possível encontrá-lo através de uma versão em cache.
"A Itália está a enfrentar a pesada degradação dos processos de urbanização e desenvolvimento das suas infraestruturas dos últimos 60-70 anos, uma herança de obras em parte obsoleta e inadequadas para o seu atual desempenho. Parece impossível instaurar grandes investimentos sem corrupção; a Expo de Milão 2015 é um recente exemplo. Esta é uma das razões que levam o Movimento 5 Estrelas a opor-se às grandes obras como a Gronda, projeto de autoestrada alternativa ao viaduto colapsado. O grupo Movimento 5 Estrelas de Génova em 2013 afirmava que o viaduto era seguro, não sendo por isso necessário desperdiçar dinheiro para soluções alternativas. A Liga tem ideias opostas em relação às infraestruturas. Estas posições ambíguas e contrastantes dentro do governo não põem em causa o executivo, mas dificultam antecipar se e como este executivo será capaz de evitar tragédias como esta", diz ao DN Cristiano Gianolla, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e autor do livro 5 Stelle, Chi Decide, come Decide ("5 Estrelas, Quem Decide, como Decide").