Eleição do Senado brasileiro teve mais votos que votantes. No final, Alcolumbre ganhou
Com 42 votos, Davi Alcolumbre, senador de 41 anos apoiado pelo governo de Jair Bolsonaro, venceu as eleições no Senado Federal do Brasil, a câmara alta do Congresso Nacional. Mas não foi fácil chegar a esse veredicto: só chegou com 26 horas de atraso, após votação tumultuada, ofensas, insultos, a desistência dramática do favorito e até suspeitas de fraude.
Marcada para o fim de tarde de sexta-feira, a votação começou com o candidato Alcolumbre, do partido DEM, a determinar, na qualidade de presidente interino da casa, que o sufrágio seria aberto e não secreto. Esse expediente prejudicaria o seu rival Renan Calheiros, do MDB, apoiado por muitos colegas que não queriam assumir o voto num político com 18 processos por corrupção em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Calheiros, que já liderou o Senado em cinco ocasiões, acusou então o seu rival de longa data Tasso Jereissati, do PSDB, de estar por trás da manobra. "Coronel, cangaceiro, foi você que bolou isso, vem lá para fora para a porrada", desafiou. No instante seguinte, Kátia Abreu (PDT), apoiante de Calheiros, subiu ao púlpito, arrancou o microfone e a pasta com o regulamento do Senado do presidente interino, e disse que passaria a comandar a sessão, alegando que Alcolumbre não poderia ser "árbitro e jogador ao mesmo tempo".
Dada a confusão, Cid Gomes (PDT), irmão do candidato presidencial Ciro Gomes, sugeriu o adiamento da votação de sexta-feira para sábado. Já no sábado, o presidente do STF, Dias Toffoli, decidiu que a eleição era, conforme o regulamento, secreta, o que parecia beneficiar Calheiros.
Mas a primeira votação foi anulada por suspeitas de fraude porque embora o Senado seja composto por 81 senadores, surgiram 82 votos na urna - o senador encarregado de fiscalizar a votação, Acir Gurgacz (PDT), está preso por crimes financeiros em regime semiaberto, isto é, pode trabalhar no Senado de dia mas à noite volta à prisão.
A meio da segunda votação, Renan Calheiros protagonizou o momento mais dramático da noite ao abandonar a eleição porque alguns senadores mostraram os seus boletins de voto às televisões, violando o secretismo previsto no regulamento. E assim Alcolumbre teve caminho livre para vencer, com 42 dos 81 votos.
Um dos senadores que tornou público o seu voto, em Alcolumbre, foi Flávio Bolsonaro, filho do presidente envolvido em escândalo de lavagem de dinheiro.
No discurso da vitória, Davi Alcolumbre, que é aliado de Onyx Lorenzoni, o ministro-chefe da Casa Civil do governo de Bolsonaro, disse que "o país precisa de reformas urgentes". Já Calheiros, no discurso da derrota, afirmou que "Davi é Golias, esta eleição foi a vitória do Golias".
Em São Paulo