Do início do Wikileaks à prisão em Londres. O caso de Assange
O Wikileaks foi criado em dezembro de 2006 na Suécia para divulgar de forma anónima documentos reveladores das alegadas injustiças de "regimes repressores" e projetou a figura do jornalista, escritor e ativista australiano Julian Assange como o seu porta-voz. Recorde aqui uma cronologia da atividade do site e do caso que levou ao exílio de Assange na embaixada do Equador em Londres durante quase sete anos.
A publicação de documentos e relatórios começou em janeiro de 2007 e em novembro desse ano a página da organização na Internet continha já 1,2 milhões de documentos. Foi também esse o mês em que a Wikileaks publicou o manual de procedimento militar no Campo Delta da base norte-americana de Guantánamo, em Cuba.
O Wikileaks difunde fotos e conteúdos de e-mails pessoais da governadora do Alasca e então candidata a vice-presidente dos Estados Unidos, Sarah Palin.
O site publica cerca de meio milhão de ficheiros secretos sobre as intervenções militares dos EUA no Afeganistão e no Iraque, bem como informação confidencial da diplomacia norte-americana e do Pentágono.
Procuradoria sueca emite um mandado de captura europeu contra Julian Assange devido a alegadas violações de duas jovens suecas. O fundador do Wikileaks nega as acusações e diz que o sexo foi por mútuo consentimento.
O servidor francês OVH acolhe o Wikileaks depois de a Amazon ter rescindido o contrato com o site. Assange entrega-se à polícia, em Londres, face às acusações de que era alvo na Suécia e fica sob custódia durante nove dias. Sai após pagamento de fiança.
O juiz britânico Howard Riddle aprova a extradição de Assange para a Suécia. Australiano declara temer que as autoridades suecas o entreguem aos EUA pela publicação dos ficheiros secretos americanos.
A rede de televisão Russia Today anuncia que Assange irá entrevistar políticos e personalidades de todo o mundo numa série de programas. A primeira das entrevistas é com o presidente do Equador, Rafael Correa.
O Supremo Tribunal do Reino Unido rejeita uma petição do fundador da Wikileaks para reabrir o seu caso, a fim de evitar a extradição para a Suécia. Poucos dias depois, a 19, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Equador, Ricardo Patiño, revela que Assange está na embaixada equatoriana em Londres e pediu asilo político. No dia seguinte, a 20 de junho, a polícia londrina diz que Assange violou as regras da prisão domiciliar e pode ser detido.Assange recusa entregar-se à polícia e permanece na embaixada.
A 16 de agosto, o Equador anuncia que concede asilo político a Assange, dez dias depois de o procurador-geral australiano, Nicola Roxon, informar que a Austrália não pode fazer mais nada pelo jornalista. A União de Nações Sul-Americanas (Unasul) apoia o Equador face à alegada ameaça do Reino Unido em invadir a embaixada equatoriana. No dia 19, Assange faz a primeira aparição pública desde que entrou na embaixada, numa declaração lida à varanda, na qual apela aos EUA para terminarem "a caça às bruxas contra o Wikileaks".
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Equador diz que foi descoberta uma escuta clandestina na embaixada em Londres. Aos jornalistas, um mês antes, Assange dissera que não tencionava abandonar o local mesmo que as acusações contra ele na Suécia fossem retiradas, uma vez que temia que estivessem em marcha ações para a sua extradição para os EUA.
Numa altura em que se assinalavam dois anos de asilo na embaixada do Equador, a defesa de Assange pede à ONU uma investigação independente sobre os crimes de que o australiano é acusado na Suécia.
Depois de especulações sobre o seu estado de saúde e sobre alegados problemas de coração e pulmões, Assange surge na varanda da embaixada ao lado do filósofo e ativista norte-americano Noam Chomsky. Mais tarde, ainda nesse mês, também o ator John Cusack visita o fundador do Wikileaks.
A polícia londrina dá por terminada a vigilância diária de 24 horas que efetuou durante três anos em frente à embaixada do Equador, numa operação que terá custado mais de 15 milhões de euros.
O Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária das Nações Unidas considerou que Assange estava "detido arbitrariamente" pelo Reino Unido e pela Suécia e deveria ter permissão para sair livremente da embaixada do Equador. Também recomendava uma indmnização pelos três anos e meio de reclusão
A decisão de Barack Obama, então presidente norte-americano, em libertar o "whistleblower" Chelsea Manning leva Assange a afirmar que aceitaria a extradição para os EUA se os seus direitos fossem respeitados e Obama garantisse a clemência a Manning.
A Procuradoria sueca arquiva o inquérito contra Assange, encerrando a investigação preliminar da acusação de violação. A procuradora Marianne Ny afirmou que a permanência de Assange na embaixada do Equador impediu a execução do pedido de extradição e não permitiu a investigação em tempo razoável.
O Equador concede a Assange a cidadania equatoriana.
O Reino Unido rejeita um pedido do Equador para garantir a Assange estatuto diplomático, o que lhe daria imunidade legal. O presidente equatoriano, Lenín Moreno, afirma que o caso Assange é "uma pedra no sapato" do país sul-americano e procura um mediador pare resolver a situação.
O governo do Equador restringe o acesso de Assange à internet. A medida surgiu após o australiano criticar no Twitter a prisão do ex-líder catalão Carles Puigdemont e questionar se a Rússia teria sido responsável pelo envenenamento de um ex-espião russo em Inglaterra.
Equador impõe novas regras a Assange: limpar o próprio WC, cuidar do gato e pagar pela eletricidade e internet que utiliza. Um juiz equatoriano rejeita a queixa de Assange de que as novas regras violariam seus direitos.
O presidente do Equador, Lenín Moreno, acusa Assange de violar repetidamente os termos de seu asilo. No dia 4 de abril de 2019, o portal Wikileaks afirma que o seu fundador deve ser expulso da embaixada equatoriana em Londres dentro de algumas horas ou dias, enquanto a visita de um perito independente era esperada no dia 26 de abril para avaliar as condições de Assange no asilo.
Assange é preso pela polícia britânica na embaixada equatoriana, ao fim de quase sete anos de asilo.