Do bombeiro ao ex-capitão. Conheça os candidatos às eleições no Brasil

São 13, incluindo um bombeiro, uma operária e dois banqueiros multimilionários. Há ideologias e pontos fortes e fracos para todos os gostos
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Depois de meses de especulações, os 13 candidatos às eleições brasileiras, maior número desde o primeiro sufrágio pós-ditadura, em 1989, estão definidos: Álvaro Dias, Cabo Daciolo, Fernando Haddad, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Guilherme Boulos, Henrique Meirelles, Jair Bolsonaro, João Amoêdo, João Goulart Filho, José Maria Eymael, Marina Silva e Vera Lúcia.

Lula, outrora presidente e hoje presidiário, venceria as eleições em todos os cenários se elas fossem hoje - e se lhe fosse permitido concorrer. Mas, inelegível, deu lugar a Fernando Haddad, o ex-prefeito de São Paulo cuja missão será a de conseguir tornar seus os votos do líder espiritual do PT e da esquerda brasileira.

Ainda à esquerda, mais cinco candidaturas. A de Ciro Gomes (PDT) e a de Marina Silva (Rede), embora o apoio dela a Aécio Neves na segunda volta de 2014 a coloquem numa espécie de limbo ideológico, são competitivas mas carecem de tempo de antena televisivo, ainda a forma mais eficaz de se fazer campanha no Brasil.

Guilherme Boulos, líder de um ativo movimento social, candidato pelo relativamente bem disseminado PSOL, aspira a ultrapassar a faixa dos 0 ou 1%, de onde não sairão Goulart Filho, como o nome indica filho do último presidente antes da ditadura miliar, João Goulart, e a operária anti-capitalismo Vera Lúcia.

À direita, sete nomes: Geraldo Alckmin, candidato do PSDB derrotado por Lula em 2006, e Henrique Meirelles (MDB), ministro das finanças de Michel Temer, que lutam para sacudir a impopularidade do atual presidente, que ambos apoiaram, das costas. Alckmin tem o maior dos tempos de antena, graças a uma aliança com os partidos clientelistas do chamado Blocão. Álvaro Dias (Podemos), mais ou menos do mesmo espectro ideológico, corre por fora.

Por sua vez, Jair Bolsonaro, do PSL, excluído Lula, é o líder incontestado nas pesquisas. Ultra-conservador nos costumes, o capitão na reserva tem forte implantação na internet mas na TV goza de meros nove segundos por cada inserção de campanha de 12 minutos.

Sobra o adepto do estado mínimo João Amoêdo (Novo), banqueiro, como Meirelles, e multimilionário, como o candidato do MDB, com património declarado de 400 milhões de reais - cerca de 100 milhões de euros. E o sempre presente José Maria Eymael (DC), candidato pela quinta vez e, pela quinta vez, provável último classificado.

Uma palavra ainda para o deputado Cabo Daciolo (Patriotas), que concorre contra Satanás, jejua em montes Brasil afora e tem participações bizarras nos debates.

A lista (por ordem alfabética)

ÁLVARO DIAS

Partido: Podemos

Idade: 73 (Quatá, São Paulo)

Profissão: professor

Cargo: senador

Ideologia: social-democracia

Vice-presidente: Rabello de Castro (PSC)

-Pontos fortes: candidato com menor índice de rejeição; longo percurso na política sem casos de corrupção conhecidos; líder nas sondagens nos três estados do Sul do país

-Pontos fracos: desconhecido da maioria da população; partido pequeno; muitas candidaturas na sua área política

CABO DACIOLO

Partido: Patriota

Idade: 42 (Florianópolis, Santa Catarina)

Profissão: bombeiro

Cargo: deputado federal

Ideologia: nacionalismo, conservadorismo

Vice-presidente: Suelene Nascimento (Patriota)

-Pontos fortes: por se candidatar "contra Satanás" e jejuar num monte pode atrair tanto o eleitorado religioso de baixa escolaridade como os votos de quem costuma optar pelos concorrentes mais bizarros

-Pontos fracos: partido pequeno; discurso desconectado da realidade; inexperiência

CANDIDATO DO PT

FERNANDO HADDAD

Partido: Partido dos Trabalhadores (PT)

Idade: 55 (São Paulo)

Profissão: professor universitário

Cargo: ex-prefeito de São Paulo

Ideologia: socialismo democrático, desenvolvimentismo económico

Vice-presidente: Manuela D"Ávila (PCdoB)

-Pontos fortes: gestão em São Paulo elogiada internacionalmente; preparação académica; melhor aceitação entre as elites do que qualquer outro quadro do PT

-Pontos fracos: gestão em São Paulo criticada internamente; pouco conhecido no resto do Brasil; ónus de ser considerado segunda escolha

CIRO GOMES

Partido: Partido Democrático Trabalhista (PDT)

Idade: 60 (Pindamonhangaba, São Paulo)

Profissão: advogado

Cargo: antigo ministro, governador, prefeito e deputado

Ideologia: socialismo democrático, desenvolvimentismo económico

Vice-presidente: Kátia Abreu (PDT)

-Pontos fortes: experiência política; experiência eleitoral; bom debatedor; sem casos de corrupção conhecidos; implantação na região Nordeste

-Pontos fracos: tendência para gafes; temperamento explosivo; não conseguiu o apoio de nenhum partido relevante, além do seu; visto à esquerda apenas como eventual alternativa ao voto em Lula

GERALDO ALCKMIN

Partido: Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)

Idade: 65 (Pindamonhangaba, São Paulo)

Profissão: médico

Cargo: governador de São Paulo

Ideologia: social-democracia

Vice-presidente: Ana Amélia (PP)


-Pontos fortes: apoiado por mais seis partidos além do seu; maior tempo de antena que qualquer rival; triunfos seguidos na eleição para governador do estado mais populoso e rico do Brasil

-Pontos fracos: apoiado por partidos conotados com a Operação Lava-Jato; falta de carisma e simpatia pessoal, de acordo com a maioria dos observadores; envolvimento do seu partido no impopular Governo Temer

GUILHERME BOULOS

Partido: Partido Socialismo e Liberdade (PSOL)

Idade: 36 (São Paulo)

Profissão: professor

Cargo: líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)

Ideologia: socialismo, extrema-esquerda

Vice-presidente: Sônia Guajajara (PSOL)

-Pontos fortes: conhecido pela atividade à frente do MTST; discurso fácil; nada a perder

-Pontos fracos: radicalismo de esquerda; inexperiência em eleições; voto útil no candidato do PT

HENRIQUE MEIRELLES

Partido: Movimento Democrático Brasileiro (MDB)

Idade: 72 (Anápolis, Goiás)

Profissão: engenheiro e banqueiro

Cargo: ex-ministro das finanças e antigo presidente do Banco Central

Ideologia: liberalismo económico

Vice-presidente: Germano Rigotto (MDB)

-Pontos fortes: liderou a área menos criticada do Governo Temer, a económica; foi presidente do Banco Central na próspera Era Lula; preferido da banca e dos mercados

-Pontos fracos: pertenceu ao impopular Governo Temer; desconhecido da maioria da população; resultados medíocres nas sondagens; candidato pelo partido brasileiro mais conotado com a "velha política" clientelista

JAIR BOLSONARO

Partido: Partido Social Liberal (PSL)

Idade: 63 (Campinas, São Paulo)

Profissão: capitão do exército na reserva

Cargo: deputado federal

Ideologia: nacionalismo, conservadorismo social, liberalismo económico

Vice-presidente: Hamilton Mourão (PRTB)

-Pontos fortes: está destacado nas sondagens (sem Lula); tem forte e aguerrida propagação nas redes sociais; não tem casos de corrupção conhecidos; beneficia da vontade de mudança do eleitorado após a Lava-Jato

-Pontos fracos: discurso considerado retrógrado na área social; desconhecimento, assumido, de economia; escassíssimo tempo de TV; risco de juntar todos os rivais contra si numa eventual segunda volta

JOÃO AMOÊDO

Partido: Novo

Idade: 55 (Rio de Janeiro)

Profissão: banqueiro

Cargo: -

Ideologia: liberalismo económico

Vice-presidente: Christian Lohbauer (Novo)

-Pontos fortes: acolhimento das suas propostas entre os profissionais liberais da região Sul e Sudeste; iniciativa de pagar a própria campanha; lista vem de fora da política

-Pontos fracos: partido pequeno e jovem; não participa em debates a não ser que uma televisão o convide; tem uma fortuna de 100 milhões de euros, o que o pode distanciar do eleitor comum

JOÃO GOULART FILHO

Partido: Partido Pátria Livre (PPL)

Idade: 61 (Rio de Janeiro)

Profissão: filósofo

Cargo: antigo deputado estadual

Ideologia: marxismo, centro-esquerda

Vice-presidente: Léo Alves (PPL)

-Pontos fortes: é novidade numa eleição onde a política tradicional está em crise; nome do pai, último presidente da República antes da ditadura

-Pontos fracos: sem experiência eleitoral; sem estrutura partidária; sem tempo de antena; sem participação em debates

JOSÉ MARIA EYMAEL

Partido: Democracia Cristã (DC)

Idade: 78 (Porto Alegre, Rio Grande do Sul)

Profissão: advogado

Cargo: antigo deputado federal

Ideologia: democracia cristã, conservadorismo social, liberalismo económico

Vice-presidente: Hélvio Costa (DC)

-Pontos fortes: quinta candidatura garante-lhe, pelo menos, experiência

-Pontos fracos: irrelevância eleitoral (teve 0,06% dos votos na última eleição a que concorreu); sem estrutura partidária; sem tempo de antena; sem participação em debates

MARINA SILVA

Partido: Rede Sustentabilidade

Idade: 60 (Rio Branco, Acre)

Profissão: formada em história, ambientalista

Cargo: antiga ministra e senadora

Ideologia: social-democracia, ambientalismo

Vice-presidente: Eduardo Jorge (PV)


-Pontos fortes: sem casos de corrupção conhecidos; visibilidade, até internacional, após duas candidaturas seguidas; boa aceitação entre as elites intelectuais dos principais centros urbanos

-Pontos fracos: apatia nos períodos entre eleições e até em campanha; pertence a um partido pequeno e com escasso tempo de antena; falta de capacidade de atrair outros partidos, além do seu e do PV, ao projeto

VERA LÚCIA

Partido: Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU)

Idade: 50 (Inajá, Pernambuco)

Profissão: cientista política

Cargo: antiga candidata a deputada federal

Ideologia: comunismo, anti-capitalismo

Vice-presidente: Hertz Dias (PSTU)

Pontos fortes: é novidade numa eleição onde a política tradicional está em crise

Pontos fracos: sem experiência eleitoral; sem estrutura partidária; sem tempo de antena; sem participação em debates

São Paulo

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