Deputada que esteve presa criticada por ajudar a aprovar lei para adiar Brexit

Fiona Onasanya, ex-deputada do Labour, de 35 anos, ajudou a aprovar o projeto de lei que obriga a primeira-ministra britânica a pedir uma nova extensão do Artigo 50º e a adiar o Brexit. Este foi aprovado na quarta-feira à noite, na câmara dos Comuns, por 313 votos contra 312, ou seja, apenas um voto de diferença. Lordes que apoiam aquela lei tiveram já uma primeira vitória esta quinta-feira
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Yvette Cooper, deputada trabalhista autora do projeto de lei para obrigar Theresa May a pedir nova extensão do Artigo 50º, é a mulher em foco no noticiário de hoje no que toca ao Brexit. Mas não a única. Fiona Onasanya, uma ex-trabalhista, está a merecer especial atenção depois de o projeto de lei de Cooper ter sido aprovado na câmara dos Comuns por 313 votos contra e 312 a favor na quarta-feira à noite, ou seja, uma diferença de apenas um voto.

Não é possível provar que foi o voto de Onasanya, eleita pela circunscrição de Peterborough, que fez a diferença. Até porque houve 14 deputados rebeldes do Partido Conservador de May a votar a favor do projeto de lei de Cooper. E seis optaram pela abstenção. 17 dos 20 rebeldes dos Tories eram ex-membros do governo. Mesmo assim, é Onasanya, de 35 anos, que está hoje debaixo de uma chuva de críticas nas redes sociais. Sobretudo no Twitter. Nesta rede social, a deputada agora independente tem dado conta de como tem votado no processo do Brexit desde que saiu da prisão.

Prisão? Sim, prisão. Este ano, Onasanya tornou-se a primeira mulher deputada, em funções, a ser presa. No mês anterior tinha sido expulsa do Labour, partido liderado por Jeremy Corbyn, pelo qual fora eleita em 2017. Isto depois de ter sido condenada por obstrução à justiça, por ter mentido à polícia para evitar pagar uma multa por excesso de velocidade e, em consequência disso, sujeita a uma pena de três meses de prisão. Solicitadora de formação, a deputada nascida em Cambridge, numa família de origem nigeriana, mantém que é inocente. E até gravou vídeos no Youtube, destinados a convencer os seus eleitores da sua inocência.

´"Esta noite votei pela extensão do Artigo 50º. Antes votei pela opção Mercado Comum 2.0 (que foi rejeitada), juntamente com outras opções e na esperança de que fosse possível chegar a um acordo. No entanto, é preciso encontrar um caminho a seguir e eu não posso suportar a ideia de uma saída desordenada sem acordo. A forma como vamos sair é importante e por isso considero que é determinante haver um compromisso", escreveu Onasanya, em dois tweets.

Onasanya é ainda acusada de discriminação num noutro processo em tribunal. Uma antiga funcionária sua que sofre de múltiplos problemas de saúde, entre os quais esclerose múltipla, acusa a deputada de obrigar a ir à casa de banho dos homens. A ex-trabalhista enfrenta eleições intercalares à força na sua circunscrição. Isto se, até dia 1 de maio, 10% dos eleitores de Peterborough, ou seja, sete mil pessoas, assinarem uma petição a exigir novas eleições e a sua substituição.

"Eu tenho registo criminal limpo, por isso o meu voto não conta, ao contrário do seu", escreveu nas redes sociais uma eleitora favorável ao Brexit, de nome Isobel Thrower, citada pelo Daily Express. "Você é uma criminosa condenada que cumpriu pena por obstrução à justiça. Agora senta-se no Parlamento. E voto para perverter o curso da justiça e da democracia no lugar de 17,4 milhões de pessoas. Se não a tivesse deixado sair tão cedo", escreve um outro, referindo-se ao número de eleitores que votaram pelo Brexit no referendo de 23 de junho de 2016 e à data de saída de Onasanya da cadeia de Bronzefield.

Libertada a 26 de fevereiro, Onasanya, que até já citou a Bíblia, dizendo que também Cristo era inocente e foi condenado, votou contra o acordo do Brexit de Theresa May a 12 de março usando pulseira eletrónica.

Aprovado na quarta-feira à noite, o projeto de lei submetido por Yvette Cooper, ex-ministra Sombra do Interior, vai ser debatido esta quinta-feira na câmara dos Lordes. Este é um processo que normalmente demora meses, mas dada a corrida contra o tempo para evitar um No Deal Brexit a 12 de abril, tudo está a ser feito com muito mais rapidez. A decisão da câmara dos Lordes é uma incógnita. Mas a maioria dos deputados é contra uma saída desordenada. Num primeira votação na câmara dos Lordes, os apoiantes da lei Cooper tiveram uma primeira vitória, conseguindo uma maioria de 221 votos.

Um dos membros da câmara dos Comuns é John Kerr, que curiosamente é o autor do Artigo 50.º, cuja invenção remonta ao tempo da Convenção Europeia para negociar uma Constituição Europeia. Esta foi chumbada em referendos em França e na Holanda e deu posteriormente lugar ao Tratado de Lisboa. Assim, se a lei for aprovada, May será obrigada a pedir uma extensão nova do Artigo 50º no Conselho Europeu de 10 de abril. A decisão cabe, em seguida, aos líderes da UE27. Se a extensão não for, por alguma razão, concedida, a lei Cooper não torna, só por si, um No Deal Brexit.

May quer evitar, a todo o custo, uma extensão longa, o que obrigaria o Reino Unido a ir às eleições europeias. Por isso está a negociar com o líder do Labour, Jeremy Corbyn, opções para fazer um acordo ser aprovado por uma maioria no Parlamento britânico. Assim a UE27 poderia aceitar um Brexit a 22 de maio. Não é fácil. Muitos deputados conservadores, partidários do Brexit e até de um No Deal Brexit, viram a aproximação de May a Corbyn como traição. Corbyn insiste na permanência no mercado único, uma das linhas vermelhas de May, durante as negociações com Bruxelas e a UE27.

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