Saída de May: Corbyn pede eleições; UE remete-se ao acordo de Brexit
O líder da oposição britânica, Jeremy Corbyn, considera que May fez "bem" em demitir-se e apelou à realização de eleições antecipadas. "Ela aceitou agora o que o país já sabe há meses: ela não pode governar, nem pode o seu partido dividido e em desintegração", escreveu no Twitter. "Quem se tornar no novo líder conservador tem que deixar o povo decidir o futuro do nosso país, através de eleições gerais imediatas", acrescentou.
Num comunicado, Corbyn indicou ainda que "o Partido Conservador falhou totalmente o país em relação ao Brexit e é incapaz de melhorar a vida das pessoas ou lidar com os seus problemas mais prementes. O Parlamento está num impasse e os conservadores não oferecem soluções aos outros grandes desafios que o nosso país enfrenta".
O líder dos Liberais-Democratas, Vince Cable, diz que May faz bem em reconhecer que o seu governo "chegou ao fim da linha", lamentando que as suas cedências nos últimos três anos tenham sido aos membros mais à direita do seu partido em vez de estar preocupada em unir o país. "Os interesses do Partido Conservador sempre superaram os interesses nacionais e, no entanto, os deputados conservadores continuam a exigir um Brexit mais extremo. A melhor e única opção é voltar a levar o Brexit às pessoas. Acredito que o público escolheria agora parar o Brexit", escreveu.
Já o líder do Partido do Brexit, Nigel Farage, um dos rostos da campanha a favor da saída do Reino Unido da União Europeia, disse que é difícil não ter pena de May, lembrando contudo que ela "julgou mal o clima do país e do partido. Dois líderes conservadores cujos instintos eram pró-europeus já partiram. Ou o partido [Conservador] aprende essa lição ou morre", indicou no Twitter.
O líder da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, seguiu o anúncio de May "sem alegria pessoal", segundo a porta-voz. "O presidente gostou muito de trabalhar com a primeira-ministra May. Irá igualmente respeitar e estabelecer uma relação de trabalho com qualquer primeiro-ministro, quem quer que venha a ser. A nossa posição é o acordo de saída, não há mudança em relação a isso", disse Mina Andreeva.
Em França, o Eliseu também já reagiu. "As nossas relações com o Reino Unido são críticas em todas as áreas. É muito cedo para especular nas consequências da decisão", disse um responsável do gabinete do presidente Emmanuel Macron, citado pela Reuters, reiterando que os franceses querem uma "rápida clarificação" de quais são os planos para o Brexit.
Na Alemanha, a porta-voz da chanceler lembrou que Angela Merkel e May sempre "trabalharam em conjunto numa boa e confiante" relação. "Nós e a UE como um todo estamos interessados em encontrar uma boa solução no Reino Unido" para a questão do Brexit, e isso significa "uma saída ordenada", referiu Martina Fietz.
Já o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, lembrou que "o acordo alcançado entre a União Europeia e o Reino Unido para um Brexit ordenado permanece em cima da mesa", numa mensagem no Twitter, reiterando que Reino Unido e Holanda estão "intimamente ligados".
O primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, destacou "a tenacidade, coragem e determinação" mostrada por May durante o "difícil processo do 'Brexit'". Varadkar acrescentou em comunicado querer "trabalhar em estreita colaboração" com o sucessor da primeira-ministra e desejou "o melhor para o futuro" de May.
A líder do governo escocês, Nicola Sturgeon, reagiu ao anúncio de May, desejando-lhe sorte. "Tivemos desentendimentos profundos, desde logo na como lidou com o Brexit e o desrespeito pelos interesses escoceses. Contudo, a liderança é difícil -- especialmente nestes tempos -- e ela merece um agradecimento pelo seu serviço", escreveu no Twitter.
"A sua saída não vai resolver a confusão do Brexit que os Tories criaram. Só voltaram a pôr a questão ao povo é que pode fazer isso. Dado as atuais circunstâncias, parece-me muito errado pôr outro conservador no número 10 sem eleições gerais", acrescentou, indicando que a perspetiva que um defensor de um Brexit mais radical possa tornar-se primeiro-ministro é "profundamente preocupante".
O ex-chefe da diplomacia, Boris Johnson, um dos nomes que se fala para a sua eventual sucessão, também reagiu nas redes sociais. "Uma declaração muito digna de Theresa May. Obrigado pelo seu serviço estoico para o nosso país e para o Partido Conservador. É agora hora de seguir os seus apelos: unirmo-nos e garantir o Brexit", indicou.
Outro dos eventuais sucessores é Dominic Raab, ex-ministro para o Brexit, disse que May este "digna como sempre" e que "mostrou a sua integridade". Conclui a mensagem dizendo que "continua a ser uma funcionária pública dedicada, patriota e fiel conservadora".
Membros do governo também já reagiram. O chefe da diplomacia, Jeremy Hunt, que também surge nas listas de eventuais sucessores, prestou homenagem a May. "Garantir o Brexit seria sempre uma enorme tarefa, mas foi uma que ela enfrentou todos os dias com coragem e determinação", escreveu no Twitter.
Michael Gove, outro dos nomes falados, atual ministro do Ambiente, disse que foi um "discurso emotivo" e que May "merece o nosso respeito e gratidão", terminando com um agradecimento.
Andrea Leadsom, que na quarta-feira se demitiu da pasta equivalente aos Assuntos Parlamentares, escreveu que o discurso de May foi "muito digno" e ilustra "o seu compromisso total para com o país e o seu dever". Leadsom, que em 2016 foi adversária de May na corrida à liderança dos Tories, indicou ainda que ela "fez o seu melhor" e desejou-lhe "tudo de bem".
O ex-primeiro-ministro britânico, cuja demissão levou à eleição de May, emitiu um comunicado considerando o discurso de May "forte e corajoso" levado pelo "sentido de dever e serviço". "Theresa está certa em dizer que o compromisso não é uma palavra feia e devemos agradecer-lhe pelos seus esforços incansáveis em nome do país", indicou.
"Sei como é doloroso aceitar que o nosso tempo acabou e que um novo líder é necessário. Ela tomou a decisão correta -- e espero que o espírito de compromisso continue", indicou.