De anti-Obama a anti-Trump. Há um segundo republicano a desafiar o presidente

Joe Walsh junta-se ao libertário Bill Weld no desafio ao presidente para obter a nomeação republicana para as presidenciais de novembro de 2020.
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Joe Walsh começou por se identificar como um republicano moderado, mas foi já como membro destacado do Tea Party, a ala mais radical do partido, que chegou ao Congresso em janeiro de 2011. Eleito pelo Illinois, o filho de um banqueiro de investimento de Chicago destacou-se pelas duras críticas ao então presidente democrata Barack Obama, acusando-o de abandonar a aliança entre EUA e Israel, de levar o país à falência e apelando a que garantisse a segurança da fronteira com o México nem que tivesse de recorrer a "fossos e aligators".

Passados mais de oito anos, o alvo dos ataques de Welsh não podia ter mudado mais. "O país está farto das birras deste tipo - é uma criança", afirmou à ABC News o agora candidato à nomeação republicana para as presidenciais de 2020. "Este tipo" é Donald Trump, o presidente que o agora apresentador de rádio vai desafiar nas próximas eleições nos EUA.

Juntando-se ao libertário ex-governador do Massachusetts Bill Weld na corrida à nomeação republicana, Walsh garantiu à ABC que só se candidata porque Trump "não é adequado para o cargo - e alguém tem de avançar para que haja uma alternativa".

Formado em Literatura Inglesa pela Universidade do Iowa, em meados da década de 80 dedicou-se a uma carreira de ator: teve aulas de representação, mas foi em Ciências Políticas que tirou um mestrado, depois de alguns trabalhos como ator.

Ativista social, professor de História americana no seu estado natal do Illinois, logo em meados dos anos 90 tenta a sua corte na política. Mas perdeu as eleições para congressista tanto em 1996 como em 1998. Só em novembro de 2010 seria eleito representante pelo 8.º distrito do Illinois, cavalgando a onda do Tea Party, o movimento ultraconservador que emergiu dentro do partido Republicano. Mas viria a perder a reeleição em 2012.

Muito crítico de Obama durante os anos que passou na Câmara dos Representantes, tornou-se famoso um vídeo que colocou no Youtube e no qual o congressista garantia que não ia "aumentar mais um único dólar na dívida que vamos deixar aos nossos filhos e netos e menos que haja uma reforma estrutural na forma como esta cidade [Washington DC, a capital federal] gasta o dinheiro". Talvez graças a este discurso em que acusou Obama de levar os EUA à bancarrota, Walsh tornou-se num convidado frequente dos programas televisivos sobre política.

Pouco depois de deixar o Congresso, em março de 2013 estreou o seu próprio programa de rádio, The Joe Walsh Show, na estação de Chicago WIND, tornando-se tão bem sucedido que agora é transmitido também em Nova Iorque, Phoenix, Dallas ou Denver. Foi no seu programa que em finais de 2015 prometeu candidatar-se às presidenciais de 2020 se a democrata Hillary Clinton ganhasse. Perdeu para Donald Trump. Mas isso não parece ter impedido Walsh de avançar na mesma - contra o presidente.

Poucas hipóteses

Se olharmos para a História, vemos como são poucas as hipóteses que Walsh tem de derrotar o presidente e ganhar a nomeação do seu partido. Até hoje, tal nunca aconteceu, apesar de tanto o democrata Jimmy Carter, em 1980, como o republicano George Bush pai, em 1992, terem enfrentado candidatos fortes, prenunciando as suas derrotas nas eleições seguintes.

A fraca popularidade de Carter e a sua má relação com o aparelho do partido abriu caminho para a entrada na corrida democrata do senador Ted Kennedy, irmã do presidente John F. Kennedy. E se o presidente venceu a maioria das primárias, Kennedy manteve-se na corrida até este ser oficialmente nomeado candidato na convenção do partido. Mas acabaria derrotado pelo republicano Ronald Reagan nas presidenciais.

Já Bush pai foi desafiado pelo comentador conservador Pat Buchanan. E se o presidente ganhou todas as primárias, a verdade é que a quase vitória de Buchanan no New Hampshire abriu a porta à candidatura do milionário Ross Perot como independente, tendo obtido quase 19% do voto popular nas presidenciais que seriam ganhas pelo democrata Bill Clinton.

Em 2020, seria preciso "um cataclismo" - nas palavras de Anthony Zurcher, o correspondente da BBC para a América do Norte - para Walsh vencer Trump, cujo apoio junto dos eleitores republicanos chega muitas vezes aos 90%.

Walsh, tal como Bill Weld, tem pela frente um enorme desafio: além de convencer os eleitores republicanos a escolhê-lo a ele em detrimento do presidente, recolher fundos suficientes para manter a sua campanha até às eleições. Afinal, até agora, Trump já recolheu quase 125 milhões de dólares.

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