Corbyn fala de "governo zombie"; May confiante recusa eleições

O debate sobre a moção de censura só deverá culminar às 19.00, quando é esperada a votação. Tudo indica que Theresa May deverá sobreviver já que até os críticos internos no Partido Conservador já mostraram o seu apoio.
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"Esta casa não tem confiança no governo de sua majestade", disse o líder trabalhista, Jeremy Corbyn, lançando o debate sobre a moção de censura a Theresa May, depois da derrota do seu acordo de Brexit e apelando à demissão da primeira-ministra britânica.

"Deviam fazer o que é correto e demitir-se", diz Corbyn, lembrando a derrota por mais de 200 votos e outras derrotas nas últimas semanas do governo no Parlamento. Para o líder do Labour, o governo "não é capaz de garantir o apoio para passar o seu plano" e May "perdeu o controlo e o governo perdeu a capacidade de governar". Chegou mesmo a apelidar o governo conservador de "governo zombie".

O líder da oposição questiona se haverá alguém que tem confiança na capacidade do governo de negociar um acordo comercial com a União Europeia, dizendo que May é a única culpada apesar de estar a tentar culpar todas as outra pessoas.

O deputado conservador Chris Philip acusou Corbyn de "oportunismo político desavergonhado", ao colocar "o interesse partidário à frente do interesse partidário. E acrescentou: "Não estará a tentar disfarçar o facto de, nesta grande questão, não ter qualquer política?"

Acusado pela deputada conservadora Anna Soubry de ser "o pior líder" que a oposição já teve, e de estar muito atrás dos Tories nas sondagens (seis pontos segundo uma pesquisa do fim de semana), Corbyn diz que está "desejoso" de testar a opinião pública nas urnas, numas eleições gerais.

Corbyn lembra que o seu partido já deixou claro que "todos os cenários estão em cima da mesa", incluindo o de pedir um segundo referendo, caso a primeira-ministra não ceda. E explica aos deputados que Theresa May não entrou em contacto direto com ele no meio desta "crise nacional", para eventuais negociações após a derrota de ontem à noite do acordo de Brexit. "Não recebi qualquer telefonema."

O debate da moção de censura só deverá terminar às 19.00, quando está prevista a votação.

May diz que eleições não são do interesse nacional

"O Parlamento rejeitou ontem o acordo e hoje deve dizer se o próximo passo devem ser umas eleições gerais", diz May, dizendo que não é do interesse nacional que isso aconteça já que "em vez de unir o país só vai aprofundar as divisões".

"Em vez de cumprir a nossa promessa, isso significa alargar o artigo 50 e adiar o Brexit não se sabe por quanto tempo", avisa a primeira-ministra. "Não é isso que os britânicos esperam de nós", afirma May, que está a dar a palavra a vários deputados e vai respondendo às intervenções deles.

May defende que não há qualquer garantia de que novas eleições dariam uma maioria suficiente a qualquer um dos lados no que diz respeito ao Brexit. E volta a rejeitar um segundo referendo, lembrando que o país já fez um referendo sobre este tema.

No debate, a primeira-ministra diz ainda que Corbyn vetaria qualquer acordo que ela tivesse negociado, por muito bom que fosse, e que aprovaria qualquer proposta de Brexit oferecida pela União Europeia, independentemente de quão má fosse.

Tal como na sessão de perguntas e respostas antes do debate, May rejeita dizer se está disposta a abdicar das suas "linhas vermelhas" em relação ao Brexit. A primeira-ministra refere que quer que as negociações dentro do Parlamento sejam construtivas.

A primeira-ministra diz estar confiante numa vitória na votação desta noite, indicando que depois de garantir a confiança do Parlamento ela irá explicar como o governo irá lidar com as negociações sobre o Brexit. "O objetivo é identificar o é preciso para garantir o apoio do Parlamento", afirma May, indicando que se as negociações "deram frutos" que irá comunicar esses resultados à União Europeia.

May diz-se orgulhosa do trabalho que já fez e diz acreditar ter a confiança do povo britânico. "Peço agora a confiança desta casa", diz a primeira-ministra, no final da sua intervenção. May saiu do plenário, mas o debate continuará.

May deve sobreviver à moção de censura

Apesar da derrota histórica da votação do acordo do Brexit, em que 118 deputados conservadores votaram contra si, Theresa May deverá sobreviver à moção de censura, visto que até o grupo que quis afastá-la da liderança do partido já disse que a vai apoiar. "Vou apoiar a primeira-ministra", disse Jacob Rees Mogg, líder do European Research Group, grupo conservador pró-Brexit, ainda ontem à noite.

Também os unionistas da Irlanda do Norte (DUP), que votaram contra o acordo, vão apoiar May.

A primeira-ministra já disse que irá manter encontros com membros de outros partidos para determinar como avançar no Brexit, depois de o seu acordo ter sido rejeitado, estando previsto apresentar o seu plano B na segunda-feira.

No entanto, se a moção de censura vingar, há 14 dias para os conservadores apresentarem novo governo. Theresa May tanto pode tentar formar novo executivo como pode passar o testemunho a outra pessoa do partido. Nesse caso, os partidos da oposição também poderiam apresentar alternativas, embora não se vislumbre, perante o atual quadro de deputados, que essa hipótese vingue.

May pode também pedir novas eleições, mas para tal precisa do apoio de dois terços dos deputados. Até agora, a líder dissera que convocar novas eleições não era solução.

(em atualização)

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