Bruges restringe turismo "para não se tornar uma Disneylândia"

Património Mundial da Unesco, a cidade medieval belga decidiu restringir o número de visitantes no centro histórico. Menos navios de cruzeiros por dia e corte nas visitas guiadas fazem parte das medidas aprovadas pela autarquia
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Com espaço para cinco navios de cruzeiro, o porto de Bruges vai abrandar drasticamente a sua atividade. No âmbito de um pacote de medidas aprovado pela autarquia para restringir o número de turistas no coração da famosa cidade belga, apenas dois navios de cruzeiro vão poder a partir de agora aportar diariamente a Bruges.

A par disso, as visitas guiadas por um dia deixarão de ser publicitadas pelos operadores turísticos.

"Temos de controlar mais o influxo [de visitantes] se não quisermos tornar-nos numa completa Disneylândia", afirmou, citado na CNN, o presidente da câmara da cidade Dirk De Fauwn, que foi eleito no ano passado,

Além do limite de dois navios de cruzeiro por dia com permissão para atracar, as empresas que os operam são aconselhadas a operar aos dias de semana, em vez de ao fim-de-semana.

Com estas medidas, a autarquia espera reduzir a pressão turística sobre a cidade e o seu centro histórico medieval, onde o atual número de visitantes já é três vezes superior ao número de residentes.

Bruges é a mais recente cidade europeia a tomar medidas para restringir o turismo e, assim, tentar controlar os danos que o excesso de visitantes é suscetível de causar, como o excesso de lixo, o desgaste do património, a descaracterização da vida local e o esvaziamento populacional, devido à pressão comercial e imobiliária. Mas outras já antes deram passos no mesmo sentido.

Uma delas é Amesterdão, que em março deste ano decidiu proibir excursões ao Red Light District, famoso pelas suas montras com as mulheres que vendem sexo, para diminuir o número de pessoas no seu centro histórico.

Em maio, o Turismo da Holanda, deixou também de promover a cidade como destino turístico, dada a pressão a que já está sujeita. Atualmente, Amesterdão recebe 18 milhões de turistas por ano, ou seja, 18 vezes a sua população residente, e as perspetivas são de que esse número aumentará para 42 milhões até ao final da próxima década.

Na mesma linha, Roma baniu em novembro do ano passado os banhos nas suas famosas fontes, bem como as fotografias ao lado de falsos centuriões - há muitos junto ao Coliseu, em busca de euros fáceis junto dos incautos turistas -, que passaram a dar multa.

A venda de bebidas na rua foi também proibida pelas autoridades romanas, para tentar controlar os copos de plástico pelo chão.

Nas últimas duas décadas, a grande descida do custo das viagens abriu a possibilidade de viajar a um número muito mais alargado de pessoas e o turismo global teve um enorme crescimento. Mas esta democratização tem um lado negro: a massa de visitantes, que vai continuar a aumentar, arrisca destruir a identidade e singularidade dos locais, que são procurados pelos turistas, justamente, por causa dessas singularidade e identidade próprias.

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