Mundo
12 junho 2019 às 12h16

Brexit sem acordo, cocaína e currículo: Boris Johnson lança campanha

O favorito à sucessão de Theresa May na liderança do Partido Conservador, e consequentemente à frente do número 10 de Downing Street, defendeu a sua candidatura esta quarta-feira.

Susana Salvador

O antigo presidente da câmara de Londres e ex-chefe da diplomacia britânica, Boris Johnson, lançou esta quarta-feira oficialmente a sua candidatura à liderança do Partido Conservador, alegando que adiar novamente o Brexit será uma derrota e que é preciso o Reino Unido continuar a preparar-se para uma saída da União Europeia sem acordo, apesar de esse não ser o resultado que defende.

Na apresentação da sua candidatura a líder do Partido Conservador, Boris Johnson avisou que adiar novamente o Brexit será uma derrota, comprometendo-se com a data de 31 de outubro. "Nós não conseguiremos um resultado se dermos a impressão de que queremos continuar a chutar a bola mais para a frente e aprovar mais atrasos. Adiar significa derrota, adiar significa ruína", referiu aquele que é o favorito à sucessão de Theresa May, que oficializou a sua saída da liderança dos Tories a 7 de junho mas continuará como líder interina até à eleição do sucessor.

"A cada semana e mês que passa e que deixamos de cumprir a nossa promessa, temo que nos alienemos não apenas os nossos apoiantes naturais, empurrando-os para os braços dos partidos insurgentes, mas qualquer um que acredita que os políticos devem cumprir as suas promessas", disse, alegando que adiar significa entregar o país a Jeremy Corbyn, o líder da oposição trabalhista.

Questionado sobre um Brexit sem acordo, Boris Johnson deixou claro: "Não estou a apontar para um resultado sem acordo. Acho que não vamos acabar com uma coisa assim, mas é responsável prepararmo-nos vigorosa e seriamente para um não-acordo. De facto, é surpreendente que alguém possa sugerir dispensar essa ferramenta vital na negociação." E recusou comprometer-se em demitir-se se o Reino Unido ainda estiver na União Europeia depois de outubro.

"A melhor forma de evitar um Brexit desordenado é fazer preparativos agora que vão permitir-nos sair de forma ordenada se tivermos que sair. Mas acima de tudo, se fizermos agora os preparativos, vamos passar a convicção aos nossos amigos e parceiros de que seremos capazes de ter uma saída assim se tivermos, se tivermos coragem, se formos obrigados a ir por esse caminho, que, obviamente, seria de último recurso, não algo que qualquer um deseja, mas como a nossa última opção", disse.

O ex-chefe da diplomacia de May acredita que com um novo governo, "com um novo mandato, um novo otimismo e uma nova determinação" poderá conseguir um novo acordo da União Europeia. "Agora é hora de unir este país e esta sociedade", disse, alegando que "não podemos começar nessa tarefa até termos respondido ao primeiro pedido das pessoas, a grande coisa que nos pediram para fazer. Após três anos e dois prazos falhados, temos que sair da União Europeia a 31 de outubro".

Polémico, Johnson recusou voltar a falar do facto de ter experimentado cocaína quando era estudante, alegando que um "relato canónico" do que ocorreu quando tinha 19 anos já foi bastante falado e que as pessoas querem focar-se na sua visão de futuro. As pessoas querem focar-se nos temas e "tudo o resto, francamente, acho que corre o risco de nos afastar do caminho", disse, quando questionado sobre uma entrevista à revista GQ, em 2007, na qual admitiu ter experimentado cocaína.

A admissão de um dos seus adversários, Michael Gove, de que consumiu cocaína quando era jornalista, há mais de 20 anos, causou-lhe problemas.

Questionado diretamente se alguma fez tinha feito algo ilegal, Johnson respondeu: "Não posso jurar ter sempre cumprido o limite de velocidade de 70 milhas por hora neste país". E quando os jornalistas lhe perguntaram sobre o seu estilo de comunicação e os riscos que este implica, o deputado conservador defendeu que "é vital que os políticos se lembrem que uma das razões pelas quais o público se sente alienado de nós todos enquanto uma raça, os políticos, é porque muitas vezes sentem que estamos a conter e a abafar a nossa linguagem, não falando aquilo que achamos, cobrindo tudo em burocracia, quando o que eles querem ouvir é o que pensamos genuinamente".

Apesar de não querer falar desse passado, Boris Johnson lembrou o seu currículo e os seus sucessos como presidente da câmara de Londres para defender que as promessas que faz enquanto político são para cumprir. E deu o exemplo da diminuição dos crimes com armas brancas durante o seu mandato, falando de uma redução de 32% na violência juvenil quando estava nesse cargo.