Ensaio de "fachada"? Só metade dos camiões participou em simulacro do Brexit

Governo britânico realizou teste para prevenir o congestionamento rodoviário pelo aumento dos controlos nas fronteiras após um eventual <em>brexit </em>sem acordo. Associação de Transporte Rodoviário fala em simulacro de fachada
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Eram esperados mais 150, mas apenas 79 camiões participaram esta segunda-feira de manhã num simulacro organizado pelo Governo britânico, no sul da Inglaterra, para prevenir o congestionamento rodoviário pelo aumento dos controlos nas fronteiras após uma eventual saída do Reino Unido da UE sem acordo.

Os veículos, que receberam um incentivo económico, reuniram-se no aeródromo desativado de Manston, perto da cidade de Ramsgate, no condado de Kent (sudeste), que o Governo planeia usar como de área de estacionamento de camiões a fim de evitar a saturação nas estradas que levam aos principais portos. Resultado final: os camiões demoraram cerca de uma hora, o dobro do tempo habitual, a percorrer 53 quilómetros da estrada A256 até ao porto de Dover, a principal ligação com França por mar.

A operação "Brock", supervisionada pelo Ministério dos Transportes britânico, é o teste mais importante feito pelo Governo com o objetivo de se preparar para uma eventual saída sem acordo da União Europeia (UE) a 29 de março. O plano visa gerir o tráfego de veículos e, especialmente, de carga em caso de aumento dos controlos nas fronteiras e à imposição de tarifas no caso de haver um Brexit sem acordo.

Mas a Associação de Transporte Rodoviário, citada pelo Guardian, já rotulou o teste como uma "fachada", dizendo que não pode imitar a realidade de seis mil camiões que seriam mantidos no aeroporto de Manston no caso de não haver acordo sobre o brexit.

Uma porta-voz do Ministério dos Transportes disse que o Governo da primeira-ministra britânica, a conservadora Theresa May, "não deseja nem espera" uma saída não negociada com a UE, mas disse que "é o seu dever" preparar-se "para todas as contingências". O plano de contingência do Reino Unido para o Brexit sem acordo prevê também a mobilização de 3500 militares.

May apresentará à votação parlamentar na próxima semana o seu acordo para a saída da UE. Em caso de rejeição, o país poderá deixar o bloco europeu sem acordo e passar a seguir as regras tarifárias da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A questão da fronteira entre as Irlandas

O acordo do Brexit negociado entre Londres e a UE a 27 ficou fechado em novembro e era para ser votado a 11 de dezembro no Parlamento britânico. Perante a oposição interna, sobretudo dentro do próprio Partido Conservador, a primeira-ministra Theresa May decidiu adiar o voto e procurar assegurar mais garantias dos europeus sobre a questão do backstop, o mecanismo de salvaguarda contido no acordo final do Brexit para evitar uma fronteira entre a Irlanda do Norte (parte do Reino Unido) e a República da Irlanda, que continua na UE.

A grande questão é evitar a todo o custo o regresso de uma fronteira física entre as duas Irlandas, daí que o ponto relativo ao backstop seja o que mais controvérsia suscita. O ministro das Finanças irlandês já anunciou um fundo de 300 milhões de euros para ajudar os setores da economia e empresas mais afetadas pelo Brexit. Dublin planeia ainda contratar mais mil agentes de alfândega, construir mais infraestruturas portuárias e transferir reservas de 200 mil toneladas de petróleo do Reino Unido para outros Estados da UE.

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