As forças especiais voltaram da Beira. Lá ficou a resiliência da população
"Uma vez que as águas do rio Búzi estavam a baixar, as pessoas já não queriam sair das suas terras, são resilientes, e, a determinada altura, o que queriam era alimentos, água. Transportámos 1,5 mil quilos de alimentos da cidade da Beira para lá, também lá deixámos um módulo de purificação da água que ensinámos a população a usar", disse ao DN Pedro Nunes, o comandante da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC) que chefiou a operação.
Pedro Nunes destaca a boa cooperação com as autoridades moçambicanas, nomeadamente com o Instituto Nacional de Gestão das Calamidades, com quem começaram a trabalhar logo no dia 24. Elogia, também, a colaboração da comunidade portuguesa residente na Beira. "Houve um forte apoio, desde a disponibilização de máquinas, de contactos, de veículos, de combustível. Fizeram tudo. E, se temos o sentimento de dever cumprido é devido ao apoio desses portugueses".
A máquina de purificação pertencia ao Grupo de Intervenção, Proteção e Socorro (GIPS) da GNR, a quem o governo português deu indicação para deixar todo o equipamento. Funciona pelo processo de osmose reversa, de um lado da máquina entra água poluída que depois é filtrada através de uma membrana semipermeável saindo água potável.
A equipa que veio esta terça-feira - aproveitando o regresso do voo da Cruz Vermelha Portuguesa que aterrou na segunda-feira de manhã no Aeroporto Internacional da Beira - inclui 62 homens dos 70 que chegaram a Moçambique dia 23 de março, uma semana e dois dias depois do ciclone Idai ter destruído e derrubado tudo por onde passou. Seguiram-se as cheias. Recebeu-os no aeroporto militar de Figo Maduro o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita.
Os operacionais portugueses montaram a base da operação no próprio aeroporto da Beira (bastante danificado) de onde saiam para socorrer a população de Búzi, a mais afetada, que fica a cerca de 15 quilómetros da Beira. O socorro era feito através de botes, uma vez que as vias terrestres cederam, formando-se grandes crateras no chão. Apoiaram as vítimas que tinham ficado sem casa, muitas das quais se refugiaram nos telhados e árvores devido à subida das águas, devido às cheias e ao transbordo do rio. A estrada ficou transitável este domingo.
A missão integrou operacionais da força especial dos Bombeiros Voluntários de Santarém, do GIPS e seis cães pisteiros para localizarem corpos; da ANPC, incluindo cinco barcos pneumáticos para resgate e drones que registaram as imagens da catástrofe, revelando às autoridades moçambicanas a extensão da área atingida.
Entre aqueles elementos, operadores de motosserras para desocupar as vias terrestres das árvores derrubadas, algumas delas com dezenas de anos, troncos e raízes enormes. "Não tinham esse equipamento e foi fundamental para as equipas moçambicanas", sublinha Pedro Nunes.
José Guilherme é o responsável pelos 19 bombeiros que estiveram na Beira, elementos do distrito de Santarém, uma escolha devida à prática destes homens em cheias, nomeadamente com as subidas das águas do Tejo. Participaram em outras missões internacionais, incluindo o próprio comandante que chefia o grupo. Esteve nas cheias de 2001 em Moçambique que, tal como agora, afetaram particularmente a província de Sofala, cuja capital é a cidade da Beira.
"Todo o trabalho que se faça e, por muito pouco que seja, é sempre gratificante", diz José Guilherme, sublinhando que agora as pessoas precisam de apoio para sobreviverem. "São pessoas que aprendem a viver no meio deles, a criar resiliência, e o que precisam é de apoio em alimentos, em bens de primeira necessidade, e a nível da saúde. Depois a sociedade organiza-se".
Dos 70 elementos iniciais, ficaram oito, estes para apoiar a equipa do INEM, que chegou no sábado à Beira, com 28 pessoas, entre médicos, enfermeiros, psicólogos e técnicas especializados em situações traumáticas. Instalaram um hospital de campanha no Centro de Saúde de Mafambisse, a 50 quilómetros do centro da cidade da Beira.