Argelinos nas ruas contestam presidente interino
Abdelkader Bensalah, presidente da câmara alta do Parlamento investido presidente interino na terça-feira, já tinha informado num discurso transmitido na TV que o país iria organizar eleições livres em 90 dias. Noutro sinal de abertura, o ministro do Interior anunciou ter autorizado 10 novos partidos políticos. A Argélia tem 15 partidos.
Mas a nomeação de Bensalah - seguindo os preceitos constitucionais - não aplacou os argelinos, nas ruas desde 22 de fevereiro contra a intenção de Abdelaziz Bouteflika se recandidatar. Bensalah, há quase 20 anos na liderança do parlamento, é visto como mais um homem do sistema.
E ao contrário do que tinha vindo a suceder, a manifestação pacífica de estudantes na terça-feira foi reprimida pela polícia com canhões de água, gás lacrimogéneo e detenções. Esta reação das forças de segurança provocou a mobilização dos argelinos. Na quarta-feira professores e outros funcionários públicos fizeram greve e muito mais pessoas saíram às ruas em protesto em todo o país, como aqui na Place de la Grande Poste, em Argel.
Também nesta quarta-feira a polícia tentou impedir a realização da manifestação na capital, mas sem sucesso. Apesar da repressão policial, não há relatos de violência ou de vandalismo entre os manifestantes, que gritaram "Bensalah, rua".
No início do dia, o chefe do exército argelino juntou-se ao coro do povo e disse esperar ver os membros da elite governante processados por corrupção e que apoiaria a transição para as eleições, sinalizando quem tem de facto o poder naquele país do norte de África.
"O exército vai responder às exigências do povo", disse o tenente-general Gaid Salah, num discurso numa base militar em Oran, ao prometer velar pela "transparência" e "integridade" do processo de transição. Anunciou que o poder judicial "recuperou as suas prerrogativas e pode trabalhar livremente" e referiu-se à elite dominante como um "gangue", uma palavra que os manifestantes têm usado para descrever o círculo próximo de Bouteflika.
O chefe do Estado-Maior do exército instou o poder judicial a reabrir um processo de corrupção contra a empresa de petróleo e gás Sonatrach. Em 2012 uma série de escândalos na petrolífera levou à prisão de vários funcionários de topo.
"Gostaria de reiterar o meu empenho pessoal em apoiar o povo nesta conjuntura crucial e em estar ao seu lado, apesar das vozes que se erguem tanto interna como externamente, exasperadas pela forte coesão entre o povo e o seu exército", disse ainda Salah.
No entanto, Gaid Salah separou as águas quanto aos protestos contra a presidência interina. "Não é razoável gerir o período de transição sem instituições que organizem e supervisionem esta operação", disse Salah. E apontou o dedo a manifestantes que usam "palavras de ordem irrealistas que visam destruir as instituições do Estado".
"Estamos contentes com o facto de o exército insistir na acusação de pessoas corruptas. Mas não vamos desistir de outras exigências", disse o estudante de 25 anos Nabil Arrachi à Reuters.