Água e eletricidade regressam à Beira. Número de mortos não para de subir

Mais de 340 mil pessoas continuam em situação de risco. Adiado início de recenseamento para as eleições gerais de outubro. FMI antevê impacto "significativo" da passagem do ciclone Idai na economia moçambicana. Água e luz começam a regressar à Beira.
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O número de vítimas mortais resultantes da passagem do ciclone Idai por Moçambique subiu para 293 nesta sexta-feira, havendo ainda a registar 1511 feridos, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) deste país.

O INGC indica que foram diretamente afetadas quase 345 mil pessoas, que continuam a necessitar de apoio e se encontram em situação de risco. Milhares destas pessoas estão em locais isolados, em alguns casos há já uma semana. Muitas delas em pontos altos ou na copa de árvores, sem acesso a quaisquer alimentos ou água.

As operações de salvamento permitiram, por outro lado, o resgate de quase 90 mil em diferentes pontos do país.

Noutro plano, foi anunciado pela Comissão Nacional de Eleições o adiamento do início do recenseamento para as eleições gerais que estavam marcadas para 15 de outubro. O início do recenseamento estava marcado para 1 de abril.

Prosseguem, entretanto, as buscas para encontrar sobreviventes e os cerca de 15 mil que continuam desaparecidos, entre os quais se encontram 18 cidadãos portugueses na região da Beira. Inicialmente, estavam desaparecidos 32; 14 foram já localizados nesta sexta-feira.

Nesta que é a segunda principal cidade moçambicana, e onde cerca de 400 mil dos 500 mil residentes foram afetados pelos efeitos do mau tempo e pela passagem do Idai na noite de 14 de março, estão recenseados no consulado local cerca de 2500 portugueses.

Na cidade, começa a assistir-se ao restabelecimento da energia elétrica em alguns bairros e, a partir deste sábado, prevê-se o início do reabastecimento de água de forma faseada.

Na Beira estão já 40 militares portugueses que vão participar nas operações de busca e assistência na região centro de Moçambique.

A passagem do ciclone Idai originou a inutilização de quase 400 mil hectares de terrenos agrícolas e a destruição total ou parcial de mais de 40 mil habitações, tendo sido afetadas, segundo o INGC, também mais de 40 unidades sanitárias nas três províncias mais afetadas: Sofala, Manica e Zambézia.

Ao nível de infraestruturas, inúmeras estradas ficaram intransitáveis, total ou parcialmente destruídas, bem como foi generalizada a destruição dos meios de telecomunicações. Para o responsável da construtora Visabeira em Moçambique vão ser necessários, pelo menos, cinco meses de trabalho intensivo para repor a situação existente antes da passagem do Idai, explicou à Lusa António Jorge Costa.

De acordo com números do INGC estão mobilizados, além dos meios internacionais já presentes no terreno, 120 elementos das equipas de busca e resgate moçambicanas, 11 helicópteros, dois aviões e cerca de 30 embarcações.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou nesta sexta-feira para o alto risco de surtos de cólera e outras doenças infecciosas, como a malária bem como de sarampo, em Moçambique e nos vizinhos Zimbabwe e Malawi, países também atingidos pela passagem do Idai.

Além dos 293 mortos confirmados em Moçambique, o Idai causou 259 no Zimbabwe e 56 no Malawi. No conjunto dos três países, estima-se que cerca de 2,8 milhões de pessoas tenham sido afetadas pelo ciclone.

No capítulo económico, o representante do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Moçambique, Ari Raisen, admitiu nesta sexta-feira que o impacto económico do Idai será "significativo". Um economista moçambicano, o académico António Francisco, citado pela Lusa, afirmou que "os efeitos do ciclone devem obrigar as autoridades a fazer um conjunto de iniciativas que não estavam na agenda este ano, deve obrigar o Governo a rever o seu próprio orçamento" e as próprias prioridades políticas.

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