Indignação no México com quadro de Zapata nu e de saltos altos a cavalo
Um novo quadro de Emiliano Zapata está a causar uma vaga de protestos no México por retratar o herói da revolução mexicana nu, com um sombrero rosa e de saltos altos, montado num cavalo. Manifestantes furiosos invadiram na quarta-feira um dos museus de arte mais renomados do país, o Museu do Palácio de Belas Artes, exigindo a remoção da pintura, parte de uma nova exposição intitulada Zapata após Zapata, que pretende apresentar visões alternativas da revolução mexicana e assinalar o centenário da morte da figura histórica.
"Isto não é liberdade de expressão, é deboche. É degradante. Não podem exibir a nossa história desta maneira. Não se pode permitir este tipo de gozo", disse Antonio Medrano, porta-voz dos manifestantes, citado pelo The Guardian.
Os protestos geraram mesmo confrontos com defensores dos direitos dos homossexuais e estão a gerar um amplo debate na sociedade mexicana.
A pintura de Fabian Chairez mostra um Zapata nu, montado num cavalo branco. O corpo esbelto é amarrado com uma fita listrada com o tricolor mexicano de vermelho, branco e verde, enquanto os lábios fazem beicinho sob o distinto bigode curvo. Usa saltos altos e um sombrero cor-de-rosa.
Quando as imagens surgiram na imprensa provocaram logo fortes reações no México, onde Zapata mantém uma reputação inequívoca de herói desde a revolução de 1910, em que clamava por "reforma, liberdade, justiça e lei".
Herdeiros de Zapata também já vieram a público criticar a obra e prometeram tomar medidas legais contra a exposição. "Não vamos permitir isso", disse Jorge Zapata González. "Para nós, como familiares, isso denigre a figura do nosso general, descrevendo-o como gay."
Nas últimas décadas têm sido publicados contos e romances envolvendo um Zapata gay, mas historiadores dizem que há poucas evidências para suportar essas histórias.
O presidente mexicano, Andrés López Obrador, declarou 2019 - o centenário de sua morte - como o Ano de Zapata, estampando a imagem do líder revolucionário de bigode, sombrero e bandoleira em papel timbrado e materiais promocionais do governo.
"É o homem revolucionário menos controverso e o mais 'de esquerda' no sentido moderno", disse Harim B. Gutiérrez, professor de História da Universidade Metropolitana Autónoma. Mas a imagem de Zapata também é a mais maleável e tem sido apropriada por uma série de causas sociais que podem não ter muito que ver com a sua luta original para garantir uma vida melhor para os camponeses sem terra.
"A cada 20 anos, mais ou menos, algo aparece" envolvendo a imagem de Zapata, disse Luis Vargas Santiago, curador da atual exposição no Palácio das Belas Artes.
Recentemente, esse "algo" tem sido género e sexualidade. A exposição atual acontece no momento em que as comunidades LBGTQ do México se tornam mais proeminentes e em que as mulheres estão mais ativas na luta contra o machismo endémico do país, o assédio sexual e os feminicídios.