Imundice espalha surto mortal de cólera
O surto de cólera no Iémen está tão generalizado que o simples ato de beber água pode levar à morte. Cerca de duas mil pessoas já sucumbiram a um dos piores surtos de cólera registados na história moderna, sendo que mais de 400 mil já contraíram a doença, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
A cólera, uma doença infectocontagiosa disseminada através da ingestão de alimentos ou água contaminados com fezes humanas, pode matar num espaço de horas se não for tratada. Está praticamente erradicada em países desenvolvidos equipados com sistemas de esgotos e tratamento de águas.
Mas a devastadora guerra civil no Iémen, que colocou frente a frente uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita e o grupo armado Houthi, e o colapso económico tornaram extremamente difícil lidar com catástrofes como a cólera e a fome em massa.
Com águas sujas malcheirosas e esverdeadas misturadas com lixo a serem um cenário comum na capital Sanaa, o governo está a lutar para controlar a propagação da doença. Bombas para desinfetar o abastecimento de água estão paradas por falta de combustível, enquanto agências de manutenção encarregadas da cloração de aquíferos não recebem salários ou abastecimento.
Desde que o governo do Iémen tomou controlo dos fundos do banco central deixou de pagar à maioria dos funcionários públicos nas áreas dos Houthi. O que significa que a maior parte dos que trabalham em Sanna e nos seus arredores não são pagos há seis meses, arruinando as vidas de funcionários hospitalares e do saneamento.
Enquanto isso, o seco e montanhoso país corre o risco de ficar sem água, deixando os seus 28 milhões, maioritariamente pobres, cidadãos prestes a enfrentar uma nova crise. A escassez de água limpa obrigou muitos residentes a fazer fila e a encher garrafões em camiões cisterna.
A ONU estima que no Iémen uma criança com menos de cinco anos morra a cada dez minutos por causas evitáveis, dois milhões de pessoas fugiram dos combates perto de suas casas e apenas metade dos hospitais têm funcionários e provisões para funcionar normalmente.
Jornalista da agência Reuters