É oficial: Democratas avançam com impeachment contra Trump

Nancy Pelosi anunciou na noite de terça-feira o início do processo com vista à destituição de Donald Trump da Presidência dos Estados Unidos. "Caça à bruxas", reagiu Trump no Twitter

Agora é oficial. A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, confirmou na noite desta terça-feira que os Democratas vão avançar com um pedido formal de investigação com vista ao impeachment do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tal como tinham noticiado o Washington Post e outros media norte-americanos.

Pelosi fez o anúncio depois de terminar uma reunião à porta fechada com os congressistas democratas. "Ninguém está acima da lei", justificou a presidente da Câmara dos Representantes, condenandoa suposta tentativa de Trump em pressionar o presidente ucraniano Vladimir Zelenski a investigar o antigo vice-presidente Joe Biden e o seu filho Hunter Biden, durante uma conversa telefónica entre os dois chefes de Estado.

"Isso é uma violação da lei", referiu Pelosi, esta terça-feira. A líder Câmara dos Representantes argumentou que as ações de Trump minaram a segurança nacional e as proteções dos denunciantes. "O presidente deve ser responsabilizado", disse Pelosi. "Ninguém está acima da lei."

Nancy Pelosi disse ainda que as ações de Trump representavam uma "traição de seu juramento, uma traição à nossa segurança nacional e uma traição à integridade de nossas eleições".

Quem já reagiu foi o próprio Donald Trump, através do seu canal de comunicação preferido, o Twitter.

"PERSEGUIÇÃO PRESIDENCIAL", escreveu em maiúsculas.

"Um dia tão importante nas Nações Unidas, tanto trabalho e tanto sucesso, e os democratas propositadamente tiveram que arruiná-lo e depreciá-lo com mais notícias de última hora sobre este lixo da caça às bruxas. Tão mau para o nosso país!"

A decisão de os democratas avançarem com o impeachment aconteceu depois de Trump ter dito, já esta terça-feira, que autorizou a divulgação da transcrição completa do seu telefonema com o presidente ucraniano.

"Não pressiono a Ucrânia", disse Trump, à margem da Assembleia Geral da ONU, que teve esta terça-feira início em Nova Iorque.

"Joe Biden e o seu filho são corruptos", acusou, voltando a referir que existem rumores sobre um alegado caso de corrupção na Ucrânia ligado à empresa onde Hunter Biden trabalha.

Donald Trump é acusado de ter feito um telefonema para Vladimir Zelenski, em julho passado, pressionando-o a investigar Hunter Biden, filho de Joe Biden, vice-presidente no mandato de Barack Obama e atual candidato à Casa Branca pelo Partido Democrata, por suspeita de irregularidades na sua ligação com uma empresa ucraniana.

Dias antes desse telefonema, os EUA cortaram financiamento à Ucrânia, no que tem sido entendido como uma pressão para o país do leste europeu atender ao seu pedido posterior.

O caso surgiu na sequência de uma denúncia que foi divulgada pelo diretor interino do departamento de serviços de informação, Joseph Maguire, que reportou o incidente ao Congresso, sem, contudo, prestar mais esclarecimentos, alegando privilégios presidenciais.

A presidente da maioria Democrata na Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, tinha já dito no domingo que, a menos que Joseph Maguire desse mais dados, a contenção de informação, por razões de privilégios presidenciais, poderia ser tomada como uma obstrução de justiça, passível de levar a um processo de destituição do Presidente.

Joe Biden apoiou 'impeachment'

"Se permitirmos que um presidente desrespeite a Constituição, isso durará para sempre", disse Biden a repórteres em Wilmington, em seu estado natal, Delaware.

Além do antigo vice-presidente de Barack Obama, atualmente na corrida democrata à Casa Branca, a maioria dos candidatos presidenciais democratas também apoia a investigação de impeachment, incluindo Elizabeth Warren, Bernie Sanders, Kamala Harris, Cory Booker, Amy Klobuchar, Beto O'Rourke, Pete Buttigieg e Julian Castro.

Os democratas também querem acesso à queixa original sobre a chamada de Trump, bem como informações sobre as deliberações em relação à ajuda ucraniana.

O Senado dos EUA aprovou uma resolução na terça-feira pedindo que a queixa do denunciante sobre o telefonema entre Trump e o presidente ucraniano seja submetida aos comités de Inteligência do Senado e da Câmara. Até agora, a administração de Trump recusou-se a deixar a denúncia ser apresentada.

No entanto, Trump, que resistiu a vários escândalos desde que assumiu o cargo em janeiro de 2017, disse que uma transcrição "completa, totalmente não editada" do telefonema de 25 de julho será divulgada nesta quarta-feira.

Uma conversa "totalmente apropriada", diz Trump

O presidente dos Estados Unidos disse que a transcrição do telefonema mostrará que a conversa terá sido "totalmente apropriada", que ele não pressionou o presidente Zelenskiy a investigar Biden e que não houve promessa de "contrapartida" da ajuda dos EUA em troca de uma investigação.

"Quando virem a transcrição do telefonema, que suponho que acontecerá em algum momento, entenderão. Essa chamada foi perfeita. Não poderia ter sido melhor", disse Trump a repórteres na Assembléia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque.

O presidente norte-americano disse ainda que não havia nada de sinistro em ter cortado a ajuda à Ucrânia nos dias anteriores, justificando essa decisão com o facto de querer "que a Europa e não apenas os Estados Unidos prestassem assistência financeira à Ucrânia".

O dinheiro foi libertado mais tarde pela administração Trump, que disse ter mudado de ideias depois de "algumas pessoas" lhe terem ligado".

As ligações suspeitas de Trump com potências estrangeiras para aproveitamento interno já vêm desde a sua eleição em 2016. Recorde-se que as agências de inteligência dos EUA e o conselho especial concluíram anteriormente que a Rússia impulsionou a candidatura de Trump às eleições presidenciais de 2016 com uma campanha de hackers e propaganda com o objetivo de prejudicar sua oponente democrata, Hillary Clinton.

Primeiro 'impeachment' desde 1998

A Câmara dos Representantes tem maioria democrata, mas um eventual voto de desconfiança ao Presidente terá ainda de passar depois pelo Senado, que então iniciará o chamado "julgamento político". Cabe ao Senado decidir, por maioria de dois terços, se demite Trump. A possibilidade de isso acontecer é mínima, já que o Partido Republicano tem maioria no Senado.

Este será o primeiro inquérito de impeachment no Congresso desde a investigação de 1998 ao presidente Bill Clinton por perjúrio e obstrução da justiça em relação ao seu caso com a estagiária da Casa Branca, Monica Lewinsky.

A Câmara dos Representantes votou a favor da destituição de Clinton em dezembro de 1998, mas o presidente democrata foi absolvido dois meses depois pelo Senado e permaneceu no cargo.

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