Guerra aberta nos tories e nos trabalhistas

No Partido Conservador, Boris Johnson é o favorito para o lugar de David Cameron, mas é garantido que terá forte oposição. Jeremy Corbyn, líder dos trabalhistas, enfrenta moção de censura
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Apesar de partir na pole position, Boris Johnson não tem à sua frente uma passadeira vermelha estendida até à liderança dos tories e ao lugar de primeiro-ministro britânico.

É verdade que todos lhe elogiam o carisma e que saiu do referendo britânico como o grande vencedor, mas não são poucos aqueles que entendem que Boris não tem perfil para liderar o país. "Muitos dos membros do partido gostam da sua energia e notoriedade, mas, quando pensam duas vezes, não querem andar constantemente na montanha-russa", afirmou o deputado conservador Alan Duncan à BBC.

A oposição a Boris Johnson começa também a ganhar eco nas redes sociais. Ontem no Twitter - conta o The Telegraph - muitos internautas afirmavam estar dispostos a pagar as 25 libras que custa a inscrição no Partido Trabalhista apenas para tentar impedir que o ex-mayor de Londres vença a corrida à liderança dos tories. O mesmo já se passou no Partido Trabalhista, quando várias dezenas de milhares correram a inscrever-se no Labour para eleger Jeremy Corbyn.

Na sequência da demissão de David Cameron, os órgãos do Partido Trabalhista reúnem-se amanhã para definir o calendário para a eleição do novo líder. Além de Boris, o outro nome mais falado para suceder ao atual primeiro-ministro - e que congrega o apoio de muitos cameronistas - é o de Theresa May. A atual ministra do Interior defendeu o bremain, mas esteve suficientemente afastada da campanha para não ter criado anticorpos e poder ser ela a conduzir o executivo que terá a obrigação de negociar com a União Europeia as condições do divórcio.

Até ao brexit, o ministro das Finanças George Osborne era visto como um natural sucessor do primeiro-ministro, mas o facto de sair como o maior derrotado do referendo logo a seguir a Cameron deverá ter hipotecado as suas hipóteses. Pelas razões inversas, o ministro da Justiça Michael Gove é outra das possibilidades a ter em conta.

Além destes, a Sky News avançava ontem mais quatro nomes, todos eles secretários de Estado no atual executivo: Priti Patel (Emprego), Nicky Morgan (Educação), Stephen Crabb (Trabalho) e Sajid Javid (Inovação).

David Cameron saiu, mas, no Labour, Jeremy Corbyn não se demite. Ontem foi bastante claro nas suas intenções. Questionado sobre se voltaria a ser candidato à liderança do partido no caso de uma nova eleição interna, respondeu: "Sim, estou aqui. Obrigado".

Resta agora saber se sobreviverá à moção de censura, apresentada por duas deputadas, que deverá ser discutida amanhã e eventualmente votada na terça.

"A menos que mudemos de líder, não seremos capazes de ganhar as próximas eleições. O resultado do referendo foi um desastre e a liderança tem de assumir as suas responsabilidades. Foi uma campanha sem brilho e sem convicção, sem uma mensagem forte. Quando o próprio líder se mostra ambíguo e dividido, não é surpreendente que os eleitores também fiquei indecisos", disse Ann Coffey, uma das duas deputadas que apresentaram a moção.

Não está bom o ambiente no Labour. "Vai ser feio, mas tem de ser feito. A alternativa é sangrarmos até à morte", disse um deputado trabalhista ao site de informação Politics Home sobre as manobras para derrubar Corbyn.

Segundo as últimas notícias, a contestação vai muito para lá da moção de censura e vários dos deputados que neste momento formam o governo-sombra trabalhista estarão a preparar a sua demissão no cenário de Corbyn continuar agarrado ao cargo.

Ainda que até agora ninguém se tenha chegado à frente para se assumir como alternativa à liderança dos trabalhistas, há alguns nomes que já circulam nos bastidores. Um deles é Tom Watson, deputado e líder adjunto do partido. Hilary Benn é outras das hipóteses ventiladas. O ministro-sombra dos Negócios Estrangeiros é um velho aliado do ex-líder Gordon Brown e ganhou visibilidade depois de ter feito um apaixonado discurso sobre a necessidade de ataques aéreos na Síria.

Chuka Umunna, candidato na última corrida à liderança que não chegou a ir a votos, e David Miliband, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e irmão do anterior líder Ed Miliband, são outros dois nomes que podem aparecer em cena.

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