Grupo criminoso duplica "exército" para enfrentar guerra com rival em 2018

Primeiro Comando da Capital quer chegar a 40 mil membros até ao fim do ano, quando guerra com o Comando Vermelho atingir o auge.

Nas celas das prisões e nas bocas de fumo (ponto de venda de droga) das favelas de todo o Brasil, a palavra de ordem é "juntem-se a nós". O Primeiro Comando da Capital (PCC), maior organização criminosa do Brasil, iniciou nas últimas semanas uma campanha de filiação de novos membros para fazer frente à guerra contra o Comando Vermelho (CV), a segunda força do crime brasileiro, e suas associadas no país. PCC e CV, que se toleravam até junho do ano passado, estão em conflito por causa de uma operação conjunta que não funcionou como o esperado.

O objetivo do PCC, cuja sede é em São Paulo, é chegar a 40 mil membros até aos primeiros dias de 2018 e assim duplicar o tamanho do seu "exército". Para isso, teve de suavizar as condições de inscrição, chamadas de "batismo" na organização. Pelas antigas regras, quem quisesse integrar o PCC tinha de ser convidado por um membro antigo, que se tornaria o seu "padrinho" e responderia pelos atos do "afilhado", e ser aprovado por mais outros dois; agora, a ideia é filiar sem a figura do "padrinho" nem a necessidade de segunda e de terceira assinaturas. A polícia chama a política de "batismo desenfreado".

"Eles estão pegando qualquer um", disse ao portal UOL o promotor de justiça Lincoln Gakiya, integrante do grupo de atuação especial contra o crime organizado. "Na região norte do país e no Rio de Janeiro, eles têm abdicado dos "padrinhos", noutros lugares, como Santa Catarina ou Rio Grande do Norte, eles fizeram batizados coletivos." No Ceará, estado mais próximo da Europa e da costa africana, o número de associados passou de 250 para 2500. "Eles privilegiam os estados fronteiriços ou com portos que permitam o tráfico internacional para Europa, África e Ásia", acrescentou outra fonte oficial à reportagem do UOL. As autoridades começaram a intercetar mensagens entre as cúpulas do PCC sobre a estratégia de expansão desde o fim do ano passado.

Para Mário Christino, autor do livro Laços de Sangue, a História Secreta do PCC, não é garantido que a organização ganhe com o aumento indiscriminado do seu exército: "Recrutar sem critério é um risco a longo prazo." Risco no duplo sentido: quem se alista no PCC sabe que não há vida pós-crime. "Os caras vão morrer na prisão, como morreram os dos massacres de Manaus e outros no ano passado", diz Christino.

Esses massacres, que envolveram presos queimados vivos, decapitações, asfixias e outras mortes macabras, sucederam-se ao longo de meses do ano passado, não só na capital do Amazonas mas também no Roraima, Rondónia, Acre, Ceará e outros estados. Em causa está a guerra entre PCC e CV, sediado no Rio de Janeiro. Uma guerra que começou na cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, na fronteira entre o Paraguai e o Brasil, quando o traficante Jorge Toumani, que dominava sozinho a região sem prestar contas às duas organizações, foi morto por uma rajada de mais de cem tiros, incluindo alguns de uma metralhadora antiaérea, disparados por homens do PCC e do CV. Após a execução, o CV apercebeu-se de que o PCC, em vez de partilhar a região em causa, passou a dominá-la sozinho. Os cariocas aliaram-se então a pequenos grupos criminosos espalhados pelo Brasil numa guerra aberta contra os paulistas, que tentarão agora retaliar num 2018 que as autoridades preveem sangrento.

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