A Grécia voltou a ser notícia esta semana. O país, que no espaço de sete anos já vai no terceiro programa de assistência financeira, regressou aos mercados. O primeiro-ministro, Alexis Tsipras, canta vitória. A Comissão Europeia diz-se confiante num fim do resgate já no próximo ano de 2018. A Alemanha, no passado, um dos seus maiores críticos na União Europeia, aplaudiu. E o FMI, ainda que de forma cautelosa, aceitou dar o seu voto de confiança. Apesar de tudo, muitos esperam para ver se esta é mais uma falsa partida ou se é a luz ao fundo do túnel para a retoma por tantos desejada. É que a crise, que submergiu na pobreza de centenas de famílias, muitas da classe média, não desapareceu do dia para a noite. Continua lá..Na terça-feira, a Grécia colocou 3 mil milhões de euros de dívida a cinco anos a uma taxa de juro de 4,625%, a primeira operação do género desde 2014. "Um sucesso absoluto", congratulou-se o executivo de Alexis Tsipras, em comunicado, depois de ter abandonado por completo a atitude de confronto com a troika e a UE que caracterizou a fase inicial dos seus governos desde que o Syriza chegou ao poder em 2015. Este regresso, prossegue o documento citado pelas agências internacionais, "confirma o andamento positivo da economia grega"..O ministro das Finanças grego, Euclide Tsakalotos, considerou, por seu lado, que esta emissão de dívida após três anos de ausência dos mercados é "uma primeira etapa para a saída da crise" e uma "prova de confiança na economia grega"..Na emissão de dívida a cinco anos feita em 2014, na altura do governo conservador de Antonis Samaras, a taxa de juro foi de 4,95%..No dia em que voltou aos mercados, a Grécia teve a visita do comissário europeu dos Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici. "O objetivo da minha visita foi programar conjuntamente os próximos passos. O foco deve estar na aplicação das reformas. Não é suficiente adotar uma reforma, é preciso aplicá-la", sublinhou em Atenas. "Seria um erro se a Grécia parasse o processo das reformas", advertiu o francês, declarando-se satisfeito por ter recebido "garantias de que isto não ocorrerá". A mensagem para os mercados financeiros, sublinhou o comissário, é a de que "a Grécia cumpre os compromissos". Do lado da Alemanha, o porta-voz do Ministério da Economia, Jürgen Weissgerber, também assinalou que "o processo de reformas deve continuar e que não deve afrouxar". Mas, ao mesmo tempo, assinalou que "o regresso aos mercados financeiros é um passo importante. O objetivo da política de resgate é precisamente que a Grécia possa valer-se por si mesma". O terceiro resgate, de 86 mil milhões de euros, termina em 2018 e, a partir daí, a Grécia deve ser capaz de se financiar exclusivamente nos mercados. Se não conseguir, terá de fazer um novo pedido de assistência internacional..A decisão do FMI em entrar, finalmente, neste terceiro resgate também deu um sinal positivo. No entanto, a instituição liderada por Christine Lagarde assinalou, esta quinta-feira, que o regresso da Grécia aos mercados é útil desde que não agrave a dívida. Esta é de 180% do PIB, ou seja, cerca de 314 mil milhões de euros. "Um dos principais objetivos do atual programa para a Grécia é facilitar o regresso do país ao mercado", mas "numa base de viabilidade da dívida", afirmou Delia Velculescu, chefe de missão do FMI, numa entrevista ao jornal grego Naftemporiki. Para a responsável, "testar os mercados antes do fim do programa atual pode ser útil na condição de que o novo financiamento esteja em linha com os objetivos de sustentabilidade da dívida pública, que não permite uma subida da dívida"..Mas, para muitos gregos, estes números e afirmações não passarão disso mesmo. Enquanto não virem as suas vidas melhorar. Após cortes e mais cortes. Reformas e mais reformas. O desemprego mantém-se acima dos 20%, em abril foi de 21,7%, sendo de 45,5% entre os mais jovens..Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, Tsipras afirmou: "O pior já passou claramente." A confiança do primeiro-ministro, hoje com 42 anos, contrasta com as sucessivas greves e protestos de rua, esbarrando também nas sondagens que dão a Nova Democracia à frente nas intenções de voto. Em junho, a formação de direita tinha 33% das intenções de voto, o Syriza, partido de Tsipras, 15%. Em terceiro lugar surgiam os comunistas do KKE com 7,5%, seguidos do Aurora Dourada, extrema-direita, com 7%. Em último, a Coligação Democrática, com 6%, formada pelos socialistas do Pasok e pelo Dimar. Tipras espera, porém, que os ventos mudem a seu favor até às eleições. Estas estão previstas para 2019..Fustigada pela grave crise de migrantes e refugiados, à Grécia resta o turismo para ajudar a manter a esperança. Este ano, o país espera receber 30 milhões de turistas, quase três vezes a sua população. Em 2016, o setor do turismo foi responsável pela criação de oito em cada dez novos empregos. Por todo o país, há quem tente tirar partido do boom turístico. É o caso de Theonimfi Koraki, que abriu um hotel em Dimitsana, aldeia da Arcádia, no Peloponeso. Comentando o estado do negócio, em declarações ao The Guardian, estabelece um paralelo com a crise dos refugiados. Da mesma maneira que estes olham para a Grécia como boia de salvação, os gregos olham para o turismo de uma forma não muito diferente. "O turismo é o nosso colete salva-vidas", afirma Theonimfi Koraki.