Grace Poe: a americana que quer ser presidente das Filipinas
Foi abandonada à nascença junto a uma igreja e teve a sorte de ser adotada por Fernando Poe Jr. e Susan Roces, um casal de famosos atores filipinos. Esta é a história de Grace Poe, de 47 anos, a primeira criança abandonada e a primeira pessoa com dupla nacionalidade a candidatar-se à presidência das Filipinas, dois fatores que lhe têm trazido algumas dores de cabeça, mas aos quais os eleitores parecem não dar importância.
Nas últimas sondagens, Grace Poe dilatou a sua posição como a favorita dos filipinos a vencer as presidenciais de maio, umas eleições que serão seguidas de perto pelos investidores, que temem que a sucessão política possa pôr em risco os ganhos obtidos por Benigno Aquino, eleito em 2010. Durante o seu mandato, as Filipinas viveram um crescimento económico médio de mais de 6%, um recorde a cinco anos em mais de quatro décadas.
A senadora Poe surgia com 39% das intenções de voto numa sondagem publicada no final de novembro, e referente a outubro, pelo jornal Manila Times. O barómetro de setembro dava-lhe 26%.
Segundo a campanha de Poe, estes números mostram que os filipinos não se têm deixado influenciar pela propaganda negativa contra a senadora. "Em vez disso, o público filipino decidiu focar-se na mensagem de boa governação, crescimento inclusivo e melhoria da competitividade para a nossa indústria", disse o porta-voz da candidata, Rex Garchalian, ao canal GMA News.
No dia 1 deste mês, a Comissão de Eleições (Comelec) anunciou que Poe não podia concorrer às presidenciais por não preencher o requisito de dez anos de residência. "Gostaríamos de a ter declarado elegível para o cargo mais alto da nação. Ela não só é popular como também é potencialmente uma boa líder. No entanto, é nosso dever sagrado decidir este caso aplicando a Constituição, a lei, a jurisprudência, e nada mais", pode ler-se na decisão.
"Estou desapontada, mas isto não é o fim do processo. Vamos continuar a lutar pelos direitos das crianças abandonadas e pelo direito fundamental das pessoas escolherem os seus líderes. Mantenho que sou uma filipina de nascimento e que cumpro o requerimento de dez anos de residência", garantiu Poe na terça-feira. "Tenho fé no processo e estamos confiantes de que o pleno da Comelec irá apoiar o interesse das pessoas", prosseguiu. A sua campanha anunciou ainda que iria recorrer da decisão à Comelec e depois, se necessário, levar o assunto ao Supremo.
Esta não foi a primeira vez que questionaram a legitimidade de Grace Poe num cargo público por causa das suas origens. Recentemente, viu o seu lugar de senadora ser contestado por um candidato derrotado, que pôs em causa a sua nacionalidade filipina, já que os seus progenitores biológicos não são conhecidos. No entanto, em meados de novembro, um tribunal eleitoral ordenou o arquivamento desta queixa. "Do fundo do meu coração, quero agradecer a todos os que escolhem a justiça e apoiam os direitos dos eleitores e das crianças abandonadas", declarou Poe após ser conhecida a decisão.
O seu pai já tinha passado por um problema semelhante quando se candidatou às presidenciais de 2004. Na altura, a nacionalidade filipina de Fernando Poe Jr. também foi posta em causa pela Comelec porque, argumentavam uns, o seu pai era espanhol, e, defendiam outros, era o filho ilegítimo de uma americana.
Mais do que está no papel
Grace Poe foi encontrada à porta de uma igreja na cidade de Iloilo a 3 de setembro de 1968, data que no registo consta como sendo a do seu nascimento. Seis anos mais tarde, e sempre sem pistas sobre os seus pais biológicos, foi adotada por Fernando Poe Jr. e Susana Roces, duas grandes estrelas do cinema filipino. Um dos mitos urbanos sobre a origem de Grace é que seria fruto de um caso entre o antigo presidente Ferdinand Marcos e Rosamarie Sonora, uma irmã de Susana.
No início dos anos 90 foi estudar para os Estados Unidos, onde conheceu o futuro marido, Neil Llamanzares, também ele com nacionalidade filipina e norte-americana. Têm três filhos. Grace só regressou às Filipinas em 2005, depois do pai morrer, readquirindo a nacionalidade filipina em julho de 2006. Quatro anos depois, renunciou à nacionalidade norte-americana, que tinha requerido em 2001. O Departamento de Estado norte-americano aprovou a decisão em 2012, apesar de o seu último passaporte dos EUA mostrar que se autoexpatriou a 21 de outubro de 2010.
"Quando eu e o meu marido começámos, foi uma coisa de amor. Estava com a minha família, o meu marido, nós morávamos lá. Eu pensei, como mãe, que tinha de apoiar a minha família e o meu marido ao ficarmos lá. Não é que não tivesse amor pelo meu país", disse recentemente Poe, explicando os motivos pelos quais, vivendo nos Estados Unidos, optou pela nacionalidade norte-americana, renunciando à filipina. Mas, garantiu, que nunca abandonou os valores do seu país natal. "Ser filipina é mais do que está no papel e no nome. É ter uma vida honrada, os nossos valores e, outra coisa, servir de forma honesta."