Governo grego resiste à Macedónia do Norte
Um nome é tudo. Que o diga Kyriakos Mitsotakis, o líder da Nova Democracia (centro-direita) e da oposição à coligação governamental, responsável pela moção de censura ontem debatida e rejeitada a propósito do acordo que vai ser assinado hoje entre os executivos grego e macedónio sobre o nome da antiga república jugoslava: República da Macedónia do Norte. Em 1993, o pai de Kyriakos, Konstantinos, afastou o ministro dos Negócios Estrangeiros Antonis Samaras - um duro no dossiê da Macedónia - e em consequência perdeu a maioria parlamentar. Nas eleições antecipadas perdeu para o socialista Georgios Papandreou.
Um quarto de século depois o filho de Mitsotakis e o mesmo Samaras são alguns dos protagonistas da oposição grega ao acordo que Atenas e Skopje anunciaram na terça-feira sobre o nome definitivo e oficial do que é hoje designado Antiga República Jugoslava da Macedónia (conhecido também por FYROM, sigla em inglês). De tal forma que o primeiro-ministro Alexis Tsipras acusou Mitsotakis de ser uma "lamentável caixa de ressonância do verdadeiro líder da Nova Democracia, Antonis Samaras". O líder do SYRIZA recordou ainda que o anterior líder da formação conservadora foi o responsável pelo fim do governo Mitsotakis e também de ataques a outros dirigentes, casos do presidente Konstantinos Karamanlis ou do PM Andreas Papandreou.
Neste ponto, a Nova Democracia tem a companhia da Aurora Dourada. Um deputado da formação neonazi instou o exército a prender os "traidores" Tsipras, o presidente Prokopis Pavlopoulos e o ministro da Defesa Panos Kammenos. Kostas Barbarousis vai ser investigado pelo Ministério Público e arrisca-se a ser preso, exatamente pela acusação que fez aos dirigentes do país, traição. Um crime que, pela sua gravidade, não necessita de aprovação parlamentar para ser levantada a imunidade. A prisão é um destino conhecido por vários camaradas de partido.
O tema levou à queda de um governo helénico, mas também que o novo país se mantivesse afastado da possibilidade de aceder a instituições como a União Europeia ou a Aliança Atlântica, graças ao veto grego. Para Atenas a Macedónia é a região do norte da Grécia, coração do reino da Macedónia, e tudo o mais é uma apropriação histórica e cultural do país eslavo (ver caixa).
O processo não é pacífico. Uma sondagem publicada pelo jornal Proto Thema revela que 68,3% dos gregos estão contra o acordo. Na antiga república jugoslava o acordo vai ter de passar pelo parlamento e por um referendo para depois ser ratificado pelos deputados gregos.
Enquanto Tsipras defendia o acordo, ao afirmar que este salvaguardava "os interesses nacionais e a sua História" e que a Grécia "ganhou mais um aliado nos Balcãs", manifestantes e polícia entraram em confrontos, tendo esta feito uso de gás lacrimogéneo na Praça Syntagma.
A maioria parlamentar composta por SYRIZA e ANEL (Gregos Independentes) reprovou a moção de censura, mas não sem perder um deputado (de 154 para 153 parlamentares). Dimitris Kammenos, do partido de direita, votou a favor da destituição do governo e em consequência foi expulso do partido.
Chaves da questão
Nome
- É o busílis da disputa. O problema foi criado em 1944, quando a República Federal da Jugoslávia chamou República Popular da Macedónia ao território antes denominado Vardar Banovina (província de Vardar, que é o nome do maior rio da região). Quando a Jugoslávia começou a ser desmantelada, em 1991, a república socialista adotou o nome de República da Macedónia.
História
- A coexistência da região grega da Macedónia e a República da Macedónia não é assunto pacífico. O reino da Macedónia (fundado em 808 a.C.) ocupou o território da região grega com o mesmo nome. Com a ocupação do Império romano, em 168 a.C., foi incorporada a Peónia (o que corresponde ao que é hoje a Rep. da Macedónia), bem como territórios que hoje ficam na Albânia e na Bulgária. A região grega da Macedónia foi o coração da Antiga Macedónia - 2,5 milhões de gregos dizem-se macedónios.
Posição grega
- Atenas nunca aceitou a designação de Macedónia para a região balcânica, habitada por eslavos e albaneses. "A questão do nome é um problema de dimensões regionais e internacionais, que consiste na promoção de ambições irredentistas e territoriais por parte da Antiga República Jugoslava da Macedónia, principalmente através da falsificação da história e da usurpação do património nacional, histórico e cultural da Grécia", lê-se no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros helénico.
Acordo
- A designação oficial do país será República da Macedónia do Norte. Reconhece os naturais do país como macedónios e a língua do país como macedónio, parte do grupo de idiomas eslavos do sul - tem grandes semelhanças com o búlgaro -, e afirma que não tem relação com a antiga civilização helénica, nem à história, cultura ou herança da região macedónia da Grécia. A fronteira comum é confirmada como "duradoura e inviolável". Skopje adotara como seus vários símbolos da Macedónia grega, a começar pela bandeira (mais tarde alterada) ou figuras históricas como Alexandre, o Grande.