Giovanni tem 101 anos e Reino Unido pediu que os pais confirmassem a sua identidade
É italiano, tem 101 anos e vive em Londres desde 1966. A surpresa para Giovanni Palmiero foi grande quando foi convidado a pedir aos pais que confirmassem a sua identidade. O pedido foi feito pelo ministério do Interior britânico, depois de o italiano ter avançado com um pedido de residência permanente no país após o Brexit. Tudo indica que se tratou de uma falha do sistema informático, com o computador a assumir que Palmiero era uma criança com um ano de idade.
Giovanni Palmiero foi informado de que precisava da presença da mãe e do pai quando solicitou o regime de residente permanente no Reino Unido, num centro em Islington, norte de Londres. Quando o voluntário que ajudou Palmiero, já bisavô, digitalizou o passaporte no aplicativo estabelecido pela UE para partilhar os dados biométricos com o Ministério do Interior, o sistema interpretou mal o seu ano de nascimento e assumiu que era 2019 em vez de 1919.
"Percebi imediatamente que algo estava errado porque, quando digitalizei o passaporte, o sistema importou os dados biométricos não em 1919, mas em 2019. Em seguida, saltou a secção de reconhecimento facial, que é o que faz com menores de 12 anos", disse Dimitri Scarlato, um ativista do grupo de campanha the3million que também trabalha para a Inca Cgil, uma organização que ajuda os descendentes de italianos.
Foi nessa altura que foi perguntado se queria inserir os dados da residência dos pais de Palmiero ou se queria prosseguir sem tal. "Fiquei surpreendido. Liguei para o Home Office e demorou até entenderem que a culpa era do aplicativo e não minha", explicou Scarlato, citado pelo jornal The Guardian.
Em Itália, a história vivida por Giovanni Palmiero já foi relatada por vários órgãos de comunicação social. No jornal La Repubblica, há mesmo um vídeo com o filho de Palmiero a contar a história, rodeado pelo pai e pela mãe de 92 anos.
Após a informação de Scarlato, o ministério do Interior aceitou o erro e recolheu os dados de identidade de Palmiero por telefone. Na quinta-feira da semana passada, foi informado de que poderia retomar a inscrição para obter a residência permanente aos 101 anos de idade.
Mas foi instado a fornecer comprovativo de residência de cinco anos no país, mesmo estando no Reino Unido há 54 anos quando o Ministério do Interior até deve ter acesso a registos nacionais de seguros e impostos para corroborar os cinco anos de residência fiscal contínua.
Giovanni Palmiero entrou no Reino Unido em 1966, "trabalhou num restaurante em Piccadilly e, até aos 94 anos, numa loja de peixe e batatas fritas. Trabalhava até as 11 da noite".
Está casado há 75 anos com a mulher de 92 anos, Lucia. Criaram quatro filhos, oito netos e 11 bisnetos.
O filho, Assuntino, disse que esta situação é injusta: "É como uma humilhação. Uma pessoa está aqui há tanto tempo e, de repente, acontece isto. Não estou preocupado, mas é completamente injusto para os idosos." Embora o erro pareça apenas uma pequena falha de computador, Assuntino aponta que "não é um pequeno erro", porque o sistema de computador "apenas reconheceu os dois últimos dígitos do ano de nascimento".
"É mais um aborrecimento do que qualquer outra coisa. O meu pai não vai ser expulso, mas as pessoas da sua idade não deveriam ter que passar por este processo. Deviam obter automaticamente", disse.
Como eurófilo, Palmiero ficou satisfeito quando o Reino Unido entrou no mercado comum em 1973, mas foi apanhado de surpresa com o resultado do referendo de 2016 para a saída da UE.
"Sempre esperou que o Reino Unido entrasse no mercado comum e ficamos muito surpresos com o Brexit", disse o filho Assuntino. "O consulado garantiu que podemos ficar. O meu pai não pode voltar para Itália agora, pois tem os filhos e netos aqui".
O ativista Scarlato disse que já recebeu um pedido de desculpas do Ministério do Interior "pelo inconveniente". Mas a família ainda espera a aprovação do estatuto estabelecido do pai, de acordo com relatos dos media italianos.
O Ministério do Interior informou que entrou em contacto com Palmiero e que o pedido estava a ser processado."Quando o caso de Palmiero foi levantado, a nossa equipa entrou em contacto com ele e com aqueles que o apoiavam para ajudá-lo", justificaram os serviços britânicos.
Acrescentaram que outros candidatos com 100 anos ou mais tiveram pedidos de estatuto de residência com êxito e 2,7 milhões de pessoas tiveram resposta favorável desde que o procedimento foi aberto em março.