Furacões de maior intensidade serão cada vez mais frequentes

A subida da temperatura da água nas camadas superficiais do oceano funciona como combustível para os ciclones tropicais
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Os furacões de maior intensidade e mais destruidores, como o Irma, têm tendência a tornar-se cada vez mais frequentes. A culpa é das alterações climáticas. Apesar de não haver sinais consistentes que apontem para um aumento do número total de ciclones, a percentagem daqueles que atingem o grau cinco - o máximo na escala de Saffir-Simpson -, com ventos sustentados superiores a 252 km/h, deverá tornar-se cada vez maior.

"As alterações climáticas fazem aumentar a temperatura média global da atmosfera e este aumento, por sua vez, leva à subida da temperatura das camadas superficiais do oceano", explica ao DN Filipe Duarte Santos, professor da Faculdade de Ciências e especialista em questões ambientais. Com o aumento da temperatura do mar - que funciona como combustível para os ciclones - estão criadas as condições para potenciar os efeitos devastadores destas tempestades tropicais. "Aquilo que alimenta os furacões é a energia térmica do oceano. E neste verão, no Atlântico equatorial, as temperaturas do mar estão em média cerca de 0,5 a um grau mais elevadas do que nos anos anteriores", sintetiza o mesmo especialista.

Duarte Santos faz ainda uso de uma constatação quotidiana e doméstica para explicar outro fator: "Nós sabemos que a roupa seca mais rápido se estiver vento. Isto acontece porque o vento aumenta a taxa de evaporação". Assim, quanto mais quente estiver o oceano, maior será a energia do furacão e mais intensos serão os ventos. E, quanto mais intensos forem os ventos, maior será a taxa de evaporação de água do mar. Ao subir na atmosfera, com a diminuição da temperatura, o vapor de água passa ao estado líquido e transforma-se em chuva.

A elevada precipitação é, por isso, normal num furacão. No caso do Harvey, que assolou o Texas no final de agosto, juntou-se outro fator. "Quando entrou no território americano não continuou, ficou ali parado. Isso fez com que as chuvas foram verdadeiramente torrenciais. Houve sítios no Texas onde choveu 1300 milímetros em quatro ou cinco dias. No Alentejo, por exemplo, o normal são 600 milímetros por ano", exemplifica o professor da Faculdade de Ciências.

São várias as condições necessárias para que se forme um furacão. "No Atlântico, os ciclones tropicais formam-se normalmente junto à região tropical próxima de Cabo Verde", explica, em conversa com o DN, a climatologista Ilda Novo. "É necessário que haja uma perturbação inicial na camada baixa da atmosfera que favoreça um movimento de rotação para formar uma depressão tropical", continua a especialista do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Outro ingrediente fundamental é que a temperatura da água do mar seja superior a 27 graus. A partir daí, criam-se as condições para a libertação de ar quente e húmido para atmosfera. Este ar, ao subir, vai arrefecer e condensar e formar as nuvens que dão corpo ao ciclone tropical.

Quando os ventos sustentados são inferiores a 119 km/h os fenómenos são considerados tempestades tropicais. A partir daí entram na categoria de furacões. Os de grau cinco, acima de 252 km/h, têm efeitos "catastróficos" de acordo com o centro de Furacões dos EUA. No caso do Irma, os ventos mais intensos andam na ordem dos 295/300 km/h. O furacão que se encaminha para a Florida tem uma extensão de 600 quilómetros e um olho com um raio entre 40 a 50 quilómetros. No centro, como explica Ilda Novo, não há nuvens e o vento é de fraca intensidade. As rajadas mais fortes situam-se a 85 quilómetros de distância do ponto central.

Além do Irma, atualmente estão ativas mais duas tempestades atlânticas. O Jose, de nível 2, que persegue o Irma, ainda que com um trajeto ligeiramente mais para Leste. E o Katia, de categoria 1, no Golfo do México.

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