Fuminho, o traficante brasileiro em fuga há 21 anos, foi detido em Moçambique

O braço-direito do líder do gangue Primeiro Comando da Capital era procurado desde 1999. Foi preso num hotel de Maputo numa operação que envolveu a Polícia Federal do Brasil e a DEA norte-americana.
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Era um dos criminosos mais procurados do Brasil após se ter evadido da prisão de Caradiru em 1999 e foi agora detido em Moçambique. Gilberto Aparecido dos Santos, mais conhecido como Fuminho, é um alegado líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), um dos grupos criminosos mais relevantes da América do Sul e foi preso, segunda-feira, num hotel de Maputo, numa operação internacional que incluiu agentes do Brasil, Moçambique e da agência norte-americana de combate ao tráfico de droga, a DEA.

Fuminho é acusado de realizar grandes operações internacionais de tráfico de cocaína ao serviço do maior gangue do Brasil e tinha chegado a Moçambique em meados de março, com a polícia de Maputo a investigar agora as ligações que este brasileiro tinha no país africano de língua portuguesa.

A escolha do país africano não surpreende os responsáveis da justiça brasileira. Disse o procurador Lincoln Gakiya, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) que os países africanos são muito procurados pelo narcotráfico para servirem como porta de entrada da droga na Europa. Citado pelo Estado de São Paulo, Gakiya afirmou que os traficantes usam mesmo jatos privados para se deslocarem entre países.

Moçambique já estava referenciado como um dos países por onde circula mais droga com destino à Europa e outros continentes. Fuminho estaria agora a liderar operações neste âmbito depois de sentir um cerco mais apertado na América do Sul, perseguido pelas autoridades brasileiras e norte-americanas.

Num hotel de luxo e ferido no pé

O brasileiro foi detido quando estava num hotel de luxo de Maputo na companhia de dois nigerianos. Tinha regressado de uma clínica onde fez tratamento a um ferimento no pé e era já vigiado há dias. Durante a operação de captura, os agentes da polícia encontraram dois passaportes nigerianos e um passaporte brasileiro falso, 100 gramas de maconha, 15 telemóveis, cinco malas, um automóvel, 34.700 meticals (moeda moçambicana, o equivalente a 470 euros) e 5.000 rands (250 euros) em dinheiro e três relógios, informou Leonardo Simbine, porta-voz da polícia de Moçambique.

"Ele não opera sozinho, faz parte de um grupo", disse o porta-voz, antes de acrescentar: "Ainda estamos a investigar para saber se tem conexões em Moçambique. É um barão da droga, sobre ele já recaía um mandado de captura internacional." Ao ser questionado sobre uma extradição para o Brasil, o responsável da polícia moçambicana considerou prematuro falar sobre o tema. "Posteriormente vamos pronunciar-nos sobre isso", concluiu. Mas o Brasil irá requerer a sua extradição e a operação policial só foi possível com o trabalho de brasileiros e norte-americanos.

Sérgio Moro, ministro da Justiça do Brasil reagiu com satisfação a esta detenção e prometeu que irá haver empenho para a sua extradição.

Fuminho era tido como "o maior fornecedor de cocaína a uma facção com atuação em todo Brasil, além de ser responsável pelo envio de toneladas da droga para diversos países do mundo", afirmou a Polícia Federal (PF) do Brasil num comunicado divulgado na segunda-feira.

O PCC surgiu nos anos 1990 nas prisões de São Paulo e é, segundo especialistas em segurança, um dos maiores e o mais bem estruturado grupo criminoso do Brasil. Nos últimos anos, teve uma expansão para vários estados brasileiros, impondo-se com facilidade na tentativa de controlar a rota da cocaína com origem na Colômbia, Peru e Bolívia, os maiores produtores, cujo destino é, em muitas situações, a Europa, O Brasil é o principal exportador de cocaína sul -americana.

O líder do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola, cumpre uma pena de mais de 200 anos de prisão, num estabelecimento prisional em Brasília, sob um forte dispositivo de segurança. De acordo com a PF do Brasil. Fuminho era o seu braço-direito e estaria a financiar um plano ambicioso para a evasão de Marcola da prisão.

Segundo a imprensa brasileira, a PF do Brasil com apoio da DEA, seguia Fuminho há várias semanas. O traficante terá estado na Bolívia antes de seguir para África. Quando foi detido no hotel de Maputo, estava ferido num pé e não apresentou resistência.

Fuminho tinha ligações a diversos grupos do crime organizado, desde os sul-americanos à máfia italiana. Os responsáveis brasileiros acreditam que esta detenção é um rude golpe no narcotráfico e será um momento de viragem.

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