França avisa que brexit pode abrir as portas de Calais

Cameron nega que ameaça do fim do controlo de fronteiras no canal da Mancha foi feita em combinação com o seu governo
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François Hollande avisou ontem David Cameron de que haverá "consequências" para o Reino Unido caso a maioria dos britânicos apoie a saída do país da União Europeia no referendo de 23 de junho. E deixou implícito que estas poderão passar pela suspensão do acordo bilateral de controlo fronteiriço em Calais, como o seu ministro da Economia, Emmanuel Macron, havia adiantado horas antes. Declarações feitas no dia em que o presidente francês e o primeiro-ministro britânico se encontraram.

"Não quero assustar-vos. Só quero dizer a verdade. Haverá consequências se o Reino Unido deixar a União Europeia. Haverá consequências em muitas áreas, no mercado único, nas transações financeiras, no desenvolvimento económico... Não quero dar-vos um cenário catastrófico mas haverá consequências, em termos de pessoas também, em termos de lidar com a migração", declarou Hollande após o encontro bilateral com Cameron em Amiens, 120 quilómetros a norte de Paris.

Em declarações feitas ontem ao Financial Times, horas antes deste encontro, Emmanuel Macron prometeu que se os britânicos optarem pela saída da União Europeia, a França vai deixar de controlar as fronteiras e permitir que os migrantes viajem para o Reino Unido. O ministro francês afirmou ainda que, neste cenário, Paris irá estender uma passadeira vermelha para receber todos os banqueiros que quiserem abandonar Londres. "No dia em que esta relação se desfizer, os migrantes não ficarão mais em Calais e o passaporte financeiro não funcionará tão bem", declarou o governante ao Finantial Times.

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Lembrando o convite de David Cameron às empresas francesas para atravessarem o canal quando a França aumentou os impostos em 2012, Macron disse ao mesmo jornal: "Se eu pensasse como aqueles que desenrolam passadeiras vermelhas diria que iríamos ter alguns repatriamentos da City [o centro financeiro] de Londres."

Na opinião dos britânicos eurocéticos estes avisos vindos de França foram encenados e coordenados com o governo de Cameron como parte de uma campanha baseada no medo a favor da permanência do Reino Unido na UE.

Alegações que foram consideradas absurdas por David Cameron. "A melhor coisa a fazer é ouvir os argumentos e perceber alguns dos riscos e algumas das incertezas sobre sair da União Europeia", disse o primeiro-ministro britânico após a cimeira bilateral.

Paralelamente foi ontem anunciado que a ajuda britânica a França, no âmbito da crise de migrantes em Calais, "será aumentada em 20 milhões [de euros] suplementares", declarou o secretário de Estado para os Assuntos Europeus francês, Harlem Désir.

A contribuição do Reino Unido para a gestão da crise é atualmente "de mais de 60 milhões. Haverá 20 milhões [de euros] suplementares", anunciou Désir à rádio RFI.

Fardo tem de ser partilhado

O presidente do Conselho Europeu pediu ontem aos migrantes económicos ilegais para não arriscarem as suas vidas ou o seu dinheiro numa perigosa viagem para a Europa "para nada". Paralelamente, pediu aos Estados membros da União Europeia para suspenderem as ações unilaterais para combater a crise de refugiados. Estes pedidos foram feitos por Donald Tusk após um encontro em Atenas com o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, e repetidos mais tarde, em Ancara, numa reunião com o líder do governo turco, Ahmet Davutoglu. "Não é sobre os números, é sobre o processo contínuo... que para mim representa a total redução e eliminação deste triste fenómeno", declarou o polaco em Ancara.

Estes encontros de Tusk têm como objetivo angariar apoios para uma estratégia comum para lidar com as centenas de milhares de migrantes antes da cimeira de segunda-feira entre a União Europeia e a Turquia.

"Quero apelar a todos os potenciais migrantes económicos ilegais seja lá de onde forem: não venham para a Europa, não acreditem nos traficantes, não arrisquem as vossas vidas e o vosso dinheiro. É tudo para nada", disse Tusk na Grécia.

Mais de 30 mil refugiados e migrantes estão retidos na Grécia devido ao encerramento progressivo de fronteiras no chamado "corredor dos Balcãs", a rota usada para chegarem aos países da Europa do Norte e Central, como a Alemanha.

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"Na cimeira de segunda-feira, a Grécia irá exigir que a partilha do fardo seja equitativa entre todos os países do bloco e que existam sanções para quem não o faça", adiantou ontem Alexis Tsipras.

Já o primeiro-ministro turco garantiu que o seu país deu passos necessários para a crise, garantindo que ninguém ficou com fome ou sem abrigo, o que "é um evento histórico". Acerca do plano de ação conjunto Turquia-União Europeia, Davutoglu garantiu que os turcos "estão aqui para cumprir as suas responsabilidades" e recusou que a questão da crise dos migrante seja reduzida apenas à Grécia e à Turquia e de "fechar as suas fronteiras".

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