Faz-se história na Arábia Saudita. Mulheres vão votar pela primeira vez
Foi em 2005 que se realizaram pela primeira vez eleições municipais na Arábia Saudita. Há uma década, o regime monárquico e ultraconservador era liderado pelo rei Abdullah, que abriu caminho a pequenas reformas, agora implementadas pelo irmão que, há cerca de um ano, lhe sucedeu no poder. O rei Salman, de 79 anos, vai permitir - pela primeira vez no país - que as mulheres votem e se candidatem à liderança dos municípios.
Apesar do aparente progressismo, há linhas que não podem ser ultrapassadas numa monarquia ultraconservadora, mesmo que se contem já 30 mulheres na Shura, uma espécie de conselho do regime com lugar para 150 pessoas.
Assim, as mulheres que se candidatem não podem colocar fotografias nos cartazes de campanha - o mesmo se aplica aos homens - nem dirigir-se aos eleitores masculinos. "Não consigo ganhar se não falar com os homens", disse ao The New York Times Nassima al-Sadah, uma das candidatas. Duas ativistas dos direitos humanos que estavam na corrida eleitoral já foram afastadas e, sem direito a conduzir e continuando a depender da autorização masculina para todas as atividades, será difícil que as mulheres consigam realizar uma campanha de sucesso. Apesar das dificuldades, já há cerca de 900 candidatas às eleições marcadas para este sábado, dia 12 de dezembro, no total dos sete mil candidatos que procuram um lugar entre os 3100 disponíveis.
No que diz respeito aos votantes, as proporções são também desiguais: há 130 637 mulheres registadas, contra 1,35 milhões de homens que se preparam para ir às urnas.
"Alguém tem de abrir caminho", disse ao The Washington Post Karema Bokhary, uma professora de ciência com 50 anos que tem duas filhas em idade de votar - uma de 20 anos, que estuda direito, e outra de 18, que quer ir para medicina. Bokhary candidatou-se e garante que o faz pelas filhas. "Elas são testemunhas de uma nova forma de ser uma mulher saudita, que diz 'levanta-te, faz com que a tua voz seja ouvida'".
A oposição ao voto das mulheres tem sido verbalizada sobretudo pelos imãs conservadores, mas ainda assim tem sido menor e menos enraivecida do que era esperado. Com as limitações óbvias para ações de campanha, as redes sociais e os smartphones têm sido os maiores aliados das candidatas. Sem grandes ambições ou ousadias, pedem alterações na vizinhança e melhorias nas instalações: parques infantis, creches, bibliotecas públicas.
Haifa Alhababi, uma professora de arquitetura, percorre as ruas do seu bairro em Riade a tirar fotografias para colocar no Snapchat, retratando o que a incomoda, sejam as ruas esburacadas ou o lixo por reciclar nos contentores. "Este é um país jovem", diz ao Washington Post. "Pode parecer desenvolvido por causa do dinheiro do petróleo. Mas ainda está a encontrar o seu caminho. Esta eleição é outro passo - um passo de bebé - para as mulheres. Não o desvalorizem", sublinha.