Trump quer novo acordo:"Se conseguirmos, ótimo. Se não conseguirmos, não faz mal"
"Vamos sair", confirmou o presidente dos Estados Unidos, que afirmou que o país vai tentar encontrar um novo acordo mais justo. "Para cumprir o meu solene dever de proteger a América e os seus cidadãos, os Estados Unidos vão sair do Acordo de Paris".
O presidente voltou a afirmar que em primeiro lugar estão as vidas, empregos e negócios dos americanos e afirmou que não vai deixar que nada se ponha no caminho dos Estados Unidos.
"Uma a uma estamos a cumprir as promessas que fiz na campanha", afirmou Trump, mencionando o crescimento económico dos últimos meses, e "não quero que nada se ponha no nosso caminho".
"Fui eleito para representar os cidadãos de Pittsburgh, e não de Paris", continuou o presidente, que referiu várias vezes durante o discurso que a sua obrigação era com o povo americano e que este acordo prejudicava os Estados Unidos.
"As nações que nos pedem para ficar no acordo são as mesmas" que custaram milhões aos americanos, acusou. "Eles não põem a América primeiro, eu ponho."
Trump afirmou que vai encetar negociações para rever o Acordo de Paris ou iniciar um novo acordo que seja mais justo para os EUA. "Se conseguirmos, ótimo. Se não conseguirmos, não faz mal", continuou o presidente.
Este novo acordo terá de ter responsabilidades e encargos divididos justamente entre todos os países membros, defendeu Trump,p rotegendo não só o ambiente, como os "cidadãos e empregos" norte-americanos e os Estados Unidos. Para o atual inquilino da Casa Branca, raramente é feito um acordo que não prejudique os Estados Unidos.
Assim, disse, está terminada a partir de hoje a implementação de qualquer medida não vinculativa do Acordo de Paris.
"O Acordo de Paris é MAU para os Americanos e a ação do presidente de hoje cumpre a promessa que fez durante a campanha de colocar os empregos Americanos em primeiro lugar", lia-se no comunicado da Casa Branca dado esta quinta-feira a membros do congresso, segundo o Washington Post. "O acordo foi mal negociado pela administração Obama assinado por desespero".
Veja na íntegra a conferência de imprensa:
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A administração Trump afirma que este acordo representa muitos custos para o povo americano.
O Acordo de Paris, que foi acordado por quase 200 países na capital francesa em 2015, tem como objetivo limitar o aquecimento global, em parte reduzindo as emissões de dióxido de carbono. Ao abrigo deste pacto, os EUA comprometeram-se a reduzir as emissões em 26% a 28% até 2025.
[citacao:O acordo foi mal negociado pela administração Obama assinado por desespero]
Apenas dois países não assinaram este acordo: Nicarágua e Síria. A China é o único país que emite mais gases poluentes que os Estados Unidos, algo que Trump parece ter levado em conta quando afirmou que o aquecimento global foi inventado por chineses para prejudicar a economia norte-americana.
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Durante a campanha eleitoral, Trump criticou o Acordo de Paris e questionou as mudanças climáticas e já como Presidente decidiu iniciar um processo para verificar se os EUA deviam continuar como parte daquele acordo.
Os cientistas preveem que a Terra atinja mais depressa níveis perigosos de aquecimento se os EUA saírem do acordo de Paris, porque os norte-americanos contribuem fortemente para a subida da temperatura.
Os cálculos sugerem que a retirada poderia resultar em emissões adicionais de três mil milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, o suficiente para acelerar o degelo dos blocos de gelo, elevar o nível do mar e provocar mais eventos climactérios extremos.
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No primeiro discurso que fez sobre alterações climáticas, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas considerou "absolutamente essencial" que o acordo de Paris contra as alterações climáticas seja concretizado.
António Guterres não evocou diretamente o nome de Donald Trump, mas afirmou que "se um governo coloca em causa a vontade e a necessidade mundiais quanto ao que respeita a este acordo, é uma razão para todos os outros se unirem ainda mais".
Os avisos dos empresários
Líderes empresariais norte-americanos apelaram a Trump que se mantenha no acordo. Entre estes estão os de Apple, Google e Walmart. Até empresas das energias fósseis, como ExxonMobil, BP e Shell, defenderam a permanência dos EUA no acordo.
O antecessor de Trump, Barack Obama, decretou o acordo sem a ratificação do Senado. Uma retirada formal iria levar anos, preveniram vários peritos, uma situação que motivou o presidente da Comissão Europeia a minimizar Trump, na quarta-feira.
O presidente norte-americano não "compreende a extensão" do acordo, apesar de os líderes europeus lhe terem tentado explicar o processo de saída "com frases simples e claras" durante a última semana.
Acordo de Paris "é essencial" para combater aquecimento global
A chanceler alemã, Angela Merkel, considerou o Acordo de Paris "essencial" para combater o aquecimento global, apenas algumas horas antes de o Presidente dos Estados Unidos se pronunciar sobre a possível retirada do país deste acordo.
"Trata-se, na minha opinião, de um tratado essencial", declarou Merkel à imprensa em Berlim, sublinhando que a Alemanha continuará "naturalmente" a aplicar as disposições do acordo e que "aguarda agora" a decisão de Donald Trump.
UE tem o dever de enfrentar os EUA
O presidente da Comissão Europeia afirmou que é "dever da Europa" enfrentar os EUA, se o Presidente Donald Trump decidir retirar o seu país do acordo de Paris de combate às alterações climáticas.
Jean-Claude Juncker disse que "os norte-americanos não podem sair à vontade do acordo", acrescentando que "isso leva três a quatro anos".
Juncker revelou que os líderes do Grupo dos 7 "tentaram explicar isto, em frases simples, ao senhor Trump", durante a recente cimeira que tiveram em Itália e acrescentou que, apesar de "parecer que esta tentativa falhou (...), a lei é a lei".
Num ataque à Presidência norte-americana, Juncker disse à audiência de um evento na Confederação dos Empregadores Alemães, em Berlim, que "nem tudo o que está escrito nos acordos internacionais são notícias falsas".
Indicadores-chave do aquecimento do planeta
Em 2016, o planeta bateu o terceiro recorde anual consecutivo de calor, com uma temperatura superior em 1,1ºC à média da era pré-industrial, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial.
O século XXI contabiliza já 16 dos 17 anos mais quentes registados desde 1880, quando se iniciaram as medições de temperatura.
Em certas regiões da Rússia, em 2016 a temperatura foi 6ºC a 7ºC superior à normal.
Nas grandes cidades, a temperatura poderá subir 8ºC até 2100.
No Ártico, a extensão dos bancos de gelo no verão foi, em 2016, a segunda menor, depois da verificada em 2012. A Antártida perdeu, na primavera austral (novembro), mais dois milhões de quilómetros quadrados de gelo face à média dos últimos 30 anos.
As concentrações dos três principais gases com efeito de estufa - dióxido de carbono, metano e óxido nitroso - atingiram novos recordes.
Há dois anos, pela primeira vez, a concentração de dióxido de carbono ultrapassou as 400 partes por milhão (ppm) à escala global.
Um estudo recente revelou que o nível dos mares aumentou 25% a 30% mais depressa entre 2004 e 2015, comparativamente ao período 1993-2004. Esta subida pode intensificar-se à medida que os glaciares e as calotes polares derretem.
O aquecimento global favorece ainda o aparecimento de fenómenos meteorológicos extremos, em particular a seca e as vagas de calor, mas também inundações e tempestades.
Segundo especialistas em climatologia, o número de períodos de seca, incêndios florestais, inundações e furacões duplicou desde 1990.
Os prejuízos anuais associados às catástrofes naturais estão calculados em 520 mil milhões de dólares (463 mil milhões de euros) e deixam na pobreza 26 milhões de pessoas.
Das 8.688 espécies ameaçadas ou quase ameaçadas, 19% foram já afetadas pelas alterações climáticas.