Estrela da direita nos EUA gosta de armas, diz palavrões e ataca Obama e Beyoncé
Tomi Lahren tem 24 anos, o seu próprio programa de televisão e mais de quatro milhões de seguidores no Twitter. Os seus monólogos, chamados Pensamentos Finais, tornaram-se virais quando criticou figuras como o presidente dos EUA ou a mulher mais influente da indústria do entretenimento. A ida ao Daily Show deu-lhe projeção internacional
É verdade que não chega aos 17 milhões de Donald Trump, mas com quase 4,2 milhões de seguidores no Twitter, Tomi Lahren foi considerada pelo New York Times como "a estrela mediática em ascensão da direita" americana. Aos 24 anos, esta filha única de rancheiros do Dacota do Sul tem o seu próprio programa na televisão e ganhou graças sobretudo aos Pensamentos Finais, o monólogo com que encerra todos os episódios e no qual costuma entrar numa espiral de críticas e ataques a figuras que vão do presidente Barack Obama à ex-candidata democrata à Casa Branca, passando pela cantora Beyoncé ou pelo movimento Black Lives Matter.
Mas se já era uma estrela para uma audiência de direita que se habituou a seguir o seu programa Tomi, no canal por cabo The Blaze, Lahren tornou-se num rosto conhecido a nível nacional, mas também internacional, quando foi a convidada do Daily Show With Trevor Noah. Confrontada pelo apresentador sul-africano sobre as suas críticas ao Black Lives Matter, Lahren voltou a garantir que não é racista nem tem nada contra os negros. "Não vejo a cor", afirmou a loira de ascendência norueguesa e alemã. "Então como é que fazes nos semáforos?", interpela-a Noah, meio a sério meio em jeito de chalaça. Mas é sem brincadeiras que o apresentador se indigna quando Lahren decide traçar um paralelo entre as ações do Black Lives Matter e as do grupo supremacista branco Ku Klux Klan (KKK).
O Black Lives Matter nasceu em 2013 em protesto contra o racismo e a violência contra os negros, na sequência da sentença que ilibou o vigilante George Zimmerman da morte de Trayvon Martin, um adolescente de 17 anos quando este voltava a casa da namorada do pai em Miami Gardens, na Florida. Desde então, ganhou dimensão internacional e tem promovido ações de protesto em várias cidades dos EUA, algumas das quais terminaram em confrontos com a violência. Um julho, um veterano da guerra do Afeganistão matou a tiro cinco polícias em Dallas, no Texas, durante uma manifestação de grupo.
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Foi este o exemplo que Lahren, que vive atualmente em Dallas, foi buscar para garantir que quando apela à morte de brancos, o Black Lives Matter não é muito diferente do KKK quando apela à morte de brancos. "Dizer que o Black Lives Matter é o novo KKK é minimizar o KKK", rematou Trevor Noah.
Formada em Jornalismo e Ciência Política pela Universidade do Nevada, em Las Vegas, Lahren pode ter-se tornado numa das novas vozes da direita americana, mas nem todas as suas atitudes nem todas as suas ideias estão em linha com a ideologia da direita mais radical. Por exemplo, apesar de atacar Obama, o Black Lives Matter ou quarterback dos San Francisco 49ers, Colin Kaepernick (por se ajoelhar durante o hino em protesto contra a violência contra os afro-americanos), é fã dos rappers Pusha T e Kendrick Lamar. Louca por comida de plástico, Lahren pontua as frases com uns palavrões bem sentidos e gosta de aparecer de arma em punho nas redes sociais. Numa recente entrevista ao New York Times, considerou "nojento" o alt-right, o movimento de extrema-direita americano (ou direita alternativa, como gosta de se definir), uma mistura entre nacionalismo branco e antissemitismo. E explicou que há coisas que nunca seria, como "advogada, cheerleader ou apoiante do KKK".
Pró-escolha em relação ao aborto e sem se opor ao casamento entre homossexuais, Lahren não gosta de se identificar como uma pessoa espiritual ("Soa-me a alguém que venera a relva"), mas diz acreditar em Deus e rezar todas as noites "para ser melhor pessoa". E aos críticos, a jovem loira gosta de lembrar que "as pessoas gostam de mim porque sou autêntica".
Apoiante de Donald Trump nas primárias, Lahren chegou a trabalhar na campanha do agora presidente eleito, como conselheira para a gestão das redes sociais. Quanto ao sucesso, acredita que se prende com o facto de não ter medo da controvérsia. "Algumas pessoas veem-me porque sou bonita? Talvez, claro. Mas há mais a ver porque gostam do que digo!"