Esperança pela paz que está a ser negociada no Koweit

Após um ano de conflito, o movimento armado Houthi e o governo no exílio, que tem o apoio dos sauditas, estão a dialogar
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A ansiedade reina na capital iemenita, Sanaa, onde os habitantes aguardam o resultado de quase um mês de conversações de paz que esperam possa acabar com a guerra devastadora. Ahmed Hizam al-Soudi, de 75 anos, que vende os tradicionais punhais curvos (jambiyas), disse esperar que a sabedoria possa prevalecer entre ambas as partes na mesa de negociações no Koweit. "Pedimos a Deus que nos alivie deste calvário. Se Deus quiser, vão chegar a acordo, porque estamos cansados. E, se amam o país, vão parar a guerra que trouxe devastação e destruição ao povo do Iémen."

A vida já era difícil para muitos num dos países mais pobres do mundo árabe, mas o início do conflito há mais de um ano tornou a mera sobrevivência uma prioridade. E a adversidade extrema a norma. Os estrondos dos ataques aéreos, as falhas de energia e o medo enraizado de que a sociedade poderá nunca emergir intacta fazem agora parte do dia-a-dia. "Todas as partes estão a agarrar-se à sua posição e o povo é a vítima. Esperamos que o país saia desta guerra que destrói tudo e todos. Estamos cansados", disse o mecânico Ahmed Musaid al-Audi, de 32 anos.

A esperança é difícil de encontrar e a que existe está no Koweit com as delegações de paz: de um lado o movimento armado Houthi (apoiado pelo Irão e que controla Sanaa) e os aliados; do outro, o governo no exílio apoiado pelos sauditas. "A minha mensagem para os negociadores é: não desistam dos direitos dos que aguentaram um ano inteiro, porque há mortos e feridos e a destruição total da infraestrutura", disse o livreiro Muslih Ali Qaid, 59 anos. "Espero que o diálogo seja bem-sucedido na reconstrução do Iémen. Não há esperança de outra forma."

No centro histórico de Sanaa, repleto de majestosas torres de barro, o passado parece mais brilhante do que o futuro. Mas ainda há lampejos de esperança. "Estamos otimistas que as negociações vão acabar com a guerra, especialmente tendo em conta a diminuição no número de ataques aéreos", disse Abdussalam Hamad al-Harethi, de 39 anos, que vende antiguidades, souvenirs e objetos em prata.

"Não voltem ao Iémen a não ser que tragam a paz." O slogan, que circula nas redes sociais, foi inventado por jovens ativistas fartos do feudo mortal entre as elites políticas e militares do Iémen, que deixou 25 milhões de cidadãos num doloroso limbo. "Se Deus quiser, esta crise vai ser resolvida e tudo vai voltar ao que era antes", defendeu Ahmed Abdussalam al-Harbi, de 20 anos, empoleirado na sua motocicleta.

Intervenção externa

De pé entre os alunos, que representam o futuro do país, a professora de Matemática Wafaa Mansour expressa a opinião partilhada por muitos - a de que, por haver tantas potências internacionais envolvidas, só uma intervenção diplomática pode ajudar. "Se todas as partes não fizerem concessões, acho que não será possível encontrar uma verdadeira solução sem a intervenção de uma das grandes potências que estão a patrocinar o diálogo."

Na maternidade de um hospital de Sanaa, a enfermeira Hindia Abdurabu al-Zubah, de 28 anos, cuida dos mais vulneráveis cidadãos do país e espera que os políticos seniores estejam à altura da tarefa. "Estou otimista que as conversações no Koweit nos vão unir outra vez e pôr fim a um ano de guerra e conflito. A minha mensagem para eles é só uma: o Iémen é a vossa responsabilidade", afirmou.

Jornalista da Reuters em Sanaa

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