Escândalo deixa Shinzo Abe à beira da "zona de morte"

Popularidade do primeiro-ministro caiu para 26% devido a escândalo de alegado favorecimento de um amigo.
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Depois de uma passagem de um ano pela chefia do governo japonês em 2006-2007, em 2012 Shinzo Abe voltou a ser eleito para o cargo de primeiro-ministro. E até há poucas semanas o filho e neto de políticos parecia de pedra e cal no poder. Tudo mudou com as suspeitas de favorecimento a um amigo. Abe rejeita qualquer culpa, mas a sua popularidade baixou da fasquia dos 30%, deixando-o muito perto do que os media japoneses chamam a "zona da morte" - quando um político fica com a aprovação abaixo dos 20%. Isto apesar do sucesso relativo da sua política económica - Abenomics - que mantém o país como terceira potência mundial.

Ouvido ontem no Parlamento, Abe negou ter ajudado o amigo Kotaro Kake, diretor da instituição de ensino Kake Gakuen, a conseguir a aprovação do governo para abrir um departamento de veterinária na zona económica especial de Imabari. Kake vira os pedidos recusados 15 vezes até este ano - esta foi a primeira autorização do género em 50 anos no Japão.

Abe garantiu só ter sabido da autorização depois de esta ser aprovada, contrariando declarações anteriores em que dizia ter sabido do pedido quando este foi apresentado, dez dias antes. Um recuo pelo qual o primeiro-ministro pediu desculpas, afirmando não ter percebido bem da primeira vez. Mas a líder do Partido Democrático, conhecida apenas como Renho, confrontou o chefe do governo. "Então em que é que devemos acreditar?", questionou.

Com eleições para a liderança do Partido Liberal Democrata (LDP) previstas para 2018, mais do que levar à demissão de Abe, estes escândalos deverão antes impedir Abe de conseguir o terceiro mandato de três anos que a formação aprovou numa mudança de regras feita à sua medida. E também pode pôr em causa o seu objetivo de mudar a Constituição pacifista imposta ao Japão após a derrota na II Guerra Mundial.

Uma sondagem publicada na semana passada no jornal Mainichi mostrava que só 26% dos japoneses aprovam a atuação de Abe - o número mais baixo desde o seu regresso ao poder há quatro anos e meio. E a remodelação do governo anunciada para os próximos dias pouco ou nada deverá contribuir para melhorar a sua imagem.

Num artigo de opinião publicado no The Japan Times, Jiro Yamaguchi, professor na universidade Hosei em Tóquio, garante que Abe "está a tropeçar mas não existe ninguém para o desafiar". Segundo o académico, o ambiente político japonês mudou depois da derrota do LDP nas eleições para a Assembleia Metropolitana de Tóquio. Yuriko Koike, a primeira mulher governadora da capital japonesa, é um dos nomes que se fala para chegar a primeira-ministra. Mas a verdade é que se a vitória do seu partido Tomin First causou surpresa, Koike tem agora entre mãos a organização dos Jogos Olímpicos de 2020. Além de talvez não estar disposta a arriscar ainda uma entrada na política nacional.

Ela própria envolta em suspeitas em torno da sua nacionalidade, Renho, a líder do DP nascida em Tóquio mas filha de um taiwanês, não passa dos 7% das intenções de voto numa recente sondagem do instituto FNN.

Perante este cenário, Abe deve apostar no chefe da diplomacia Fumio Kishida para lhe suceder à frente do LDP, fazendo dele o provável vencedor das eleições gerais previstas para finais de 2018.

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