Episódios que marcaram o primeiro ano após a eleição de Donald Trump
Um ano depois da sua eleição, a 08 de novembro de 2016, Donald Trump quebrou quase todas as regras da presidência dos Estados Unidos, de convivência com críticos, media, aliados ou mesmo outros órgãos de soberania norte-americanos.
Num clima de permanente conflito, alguns episódios marcaram o primeiro ano da era Trump.
Factos Alternativos
No discurso de tomada de posse que leu nos degraus do Capitólio - a 20 de janeiro de 2016 - Trump optou por pintar os Estados Unidos como um país em pleno desastre económico, a braços com ondas de crime nas cidades, gangues nas ruas e sob o ataque constante dos políticos dentro e fora da administração, oportunistas sem escrúpulos que se aproveitavam do sistema à custa do cidadão comum. Trump prometeu travar "esta carnificina americana".
No dia seguinte, o então porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, apresentou-se diante da imprensa e insistiu - contra todas as provas fotográficas - que o número de pessoas a assistir ao discurso tinha sido maior do que quando Barack Obama tomou posse para o seu primeiro mandato, em 2008. Disse que a imprensa era parcial contra Trump e que, por isso mesmo, tinha noticiado de forma errada o que aconteceu. A presidência Trump tinha apenas um dia e já estava envolvida em intensa polémica, por causa da forma como tratava os factos.
Bloqueio às viagens
Sete dias depois de tomar posse, a 27 de janeiro, Donald Trump assinou um decreto presidencial - que apanhou o mundo de surpresa - no qual impunha um bloqueio de 90 dias à entrada de viajantes de sete países de maioria muçulmana e um bloqueio de 120 dias à entrada de todos os refugiados.
A medida lançou o caos em muitos aeroportos internacionais dos Estados Unidos, com detenções a alguns viajantes e com os agentes de segurança a mostrarem dúvidas quanto à forma como poderiam aplicar o bloqueio. Os norte-americanos organizaram protestos um pouco por todo o país, contestando uma medida considerada discriminatória contra os muçulmanos e atentatória contra os valores norte-americanos de acolhimento de migrantes. Trump disse que o decreto visava impedir a entrada de terroristas nos Estados Unidos.
O decreto foi rapidamente bloqueado em tribunal, tal como uma versão modificada apresentada em março, que retirava o Iraque da anterior lista de países. Uma terceira versão do bloqueio, que acrescentava à lista os cidadãos da Coreia do Norte e alguns elementos ligados ao governo venezuelano, deveria ter entrado em vigor em meados do mês passado. Mais uma vez os tribunais bloquearam a medida: a entrada de refugiados é retomada, exceto para 11 países de "alto risco", a maior parte dos quais de maioria muçulmana.
A demissão de James Comey
Uma das mais controversas e criticadas decisões da presidência Trump foi o afastamento repentino do diretor do FBI James Comey, a 09 de maio. Comey liderava a investigação sobre um alegado conluio entre elementos da campanha de Trump (assessores de topo e mesmo familiares do candidato) e diplomatas e agentes ligados ao governo da Rússia, num esforço conjunto para derrotar a favorita à vitória nas presidenciais, a democrata Hillary Clinton.
Primeiro, Trump afirmou que não tinha ficado contente com a forma como Comey geriu a investigação feita a Hillary Clinton meses antes, por esta ter usado um servidor privado de e-mail enquanto era Secretária de Estado, na administração Obama.
No entanto, o Presidente reconheceu posteriormente que estava a pensar na investigação à interferência da Rússia quando despediu o chefe do FBI.
O afastamento de Comey acabaria por abrir caminho a que o Departamento de Justiça nomeasse Robert Mueller, um Procurador Especial com poderes acrescidos, para liderar a investigação sobre o alegado conluio entre a Rússia e a campanha Trump. O Presidente continuou a qualificar todo o tema como "fake news".
A 30 de outubro, a investigação de Mueller resultou nas primeiras acusações, entre as quais contra o antigo diretor de campanha de Trump, Paul Manafort. Os crimes? Lavagem de dinheiro e conspiração.
"Pittsburgh, e não Paris"
Donald Trump anunciou a 01 de junho que iria retirar os Estados Unidos dos Acordos de Paris sobre as Alterações Climáticas, rejeitando argumentos e pedidos dos grupos ambientalistas, líderes mundiais, representantes da indústria e até da sua própria filha, Ivanka, no sentido de respeitar o acordo assinado por 195 nações para travar o aquecimento global.
O Presidente disse que o acordo era mau para a economia norte-americana e para os trabalhadores norte-americanos, porque dava uma vantagem injusta a outros países. A sua decisão, disse, enquadrava-se na política "A América Primeiro".
"Fui eleito para representar os cidadãos de Pittsburgh, e não Paris", declarou Trump. "Vamos sair. (...) Vamos começar a renegociar e veremos se há um acordo melhor. Se conseguirmos, ótimo. Se não conseguirmos, tudo bem".
Revogar e substituir o Obamacare? Nem por isso...
Durante a campanha e após tomar posse, Trump insistiu numa promessa: acabar com a reforma da saúde pública de Barack Obama, uma das marcas da administração do presidente democrata e que ficou conhecida como ObamaCare. A lei Obama dá cobertura de assistência médica a milhões de pessoas, num país sem um sistema nacional de saúde universal como existe na Europa ou no Canadá. Trump considerou o sistema um desastre, argumentando, por exemplo, que aumentava dramaticamente os prémios dos seguros de saúde.
Mas rapidamente se apercebeu de que falar em comícios é uma coisa e anular uma reforma nos meandros do Congresso é outra, já que o "seu" partido, o Partido Republicano, não se conseguiu unir para apoiar nenhum dos dois planos que a administração apresentou para revogar ou alterar o Obamacare.
Em finais de julho surgiu o momento mais dramático, quando o senador republicano John McCain, um dos maiores críticos de Trump, disse "não" à proposta republicana, sinalizando o seu voto com um polegar para baixo.
Por enquanto, o Obamacare continua em vigor nos Estados Unidos.
A nova alcunha de Kim Jong-un é 'Rocket Man'
No seu primeiro discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas, Trump indicou - em pouco mais de 40 minutos - que estava pronto para "rasgar" o acordo nuclear com um "regime assassino" no Irão e prometeu destruir a Coreia do Norte, caso o regime em Pyongyang se armasse com mísseis nucleares intercontinentais capazes de ameaçar os Estados Unidos ou os seus aliados. Pelo meio ainda se gabou do poder militar dos Estados Unidos.
Resolveu ridicularizar o líder norte-coreano, Kim Jong-un, dando-lhe uma alcunha - "Rocket Man" - e disse que este estava numa "missão suicida". Um observador internacional descreveu o discurso como "uma tempestade de tweets com 42 minutos".
No espaço onde as nações de todo o mundo se reúnem para debater, discutir e negociar pacificamente as suas desavenças, as palavras de Trump representaram exatamente o contrário, contribuindo para a escalada de violência verbal que se seguiu com o líder norte-coreano.