Embaixador em Berlim é o novo PM do Líbano

A primeira ação de Mustapha Adib, de 48 anos, foi visitar um bairro de Beirute devastado pela explosão de 4 de agosto.

As autoridades políticas libanesas designaram nesta segunda-feira um novo primeiro-ministro, o embaixador na Alemanha Mustapha Adib, sob pressão do presidente francês Emmanuel Macron, que é esperado nesta noite em Beirute.

Adib, um académico de 48 anos relativamente desconhecido, foi nomeado pela maioria dos parlamentares após consultas realizadas no palácio presidencial. Imediatamente após a sua nomeação, o novo primeiro-ministro dirigiu-se para um dos bairros devastados pela explosão no porto de Beirute em 4 de agosto, onde declarou que deseja "a confiança" da população.

"Agora é hora de agir", afirmou o novo chefe do executivo, tendo prometido formar rapidamente uma equipa de especialistas e pessoas competentes para "conduzir reformas imediatamente".

"A tarefa que aceitei baseia-se no facto de que todas as forças políticas (...) estão cientes da necessidade de formar um governo em tempo recorde e de começar a instaurar reformas, a partir de um acordo com o Fundo Monetário Internacional [FMI]", expressou Adib num discurso transmitido pela televisão.

Adib obteve a aprovação das principais bancadas parlamentares. Apenas o partido cristão das Forças Libanesas, que se posicionou na oposição desde a revolta popular em outubro de 2019, apoiou o independente Nawaf Salam, um ex-embaixador na ONU.

Emmanuel Macron, que visita o Líbano pela segunda vez desde a explosão, exortou os líderes libaneses a constituir rapidamente um "governo de missão" para tirar o país da crise económica e política.

Mustapha Adib foi escolhido no domingo à noite pelos pesos-pesados da comunidade sunita, da qual o chefe de governo deve vir, segundo o acordo de Taif, rubricado em 1989 e que divide os cargos de poder por algumas linhas religiosas. A presidência é atribuída a um cristão maronita e a presidência do Parlamento a um muçulmano xiita.

Mas esse professor universitário, próximo do ex-primeiro-ministro e bilionário Najib Mikati, de quem era chefe de gabinete, deve ser rejeitado pelo movimento de contestação popular. Hassan Sinno, integrante de um grupo da sociedade civil, advertiu que o seu movimento rejeitaria qualquer candidato do sistema. "Não daremos tempo, como alguns de nós erroneamente deram a Hassan Diab, para ter sucesso. Não temos mais o luxo do tempo", disse ele à AFP.

O ex-primeiro-ministro Hassan Diab, indicado pelos partidos no poder, renunciou em 10 de agosto após a explosão que fez pelo menos 188 mortos e devastou bairros inteiros da capital.

A tragédia, decorrente da presença de uma enorme quantidade de nitrato de amónio no porto de Beirute, facto do conhecimento das autoridades, alimentou a ira da população, que acusa a classe política de negligência e corrupção.

Macron, como outras autoridades estrangeiras que estiveram em Beirute desde então, enfatizou a necessidade de reformas profundas. O líder francês deseja "um governo de missão, limpo, eficiente, capaz de instaurar as reformas necessárias no Líbano", segundo uma fonte do Palácio do Eliseu.

O presidente francês deverá visitar nesta noite a famosa cantora Fairouz, símbolo de unidade num país fragmentado. Na terça-feira, vai reunir-se com líderes políticos.

"O diabo que defende a virtude"

No domingo, o presidente Michel Aoun, de 85 anos, surdo até então aos pedidos de reforma, reconheceu num discurso por ocasião do centenário do Líbano, celebrado na terça-feira, a necessidade de mudar o sistema político.

Cada vez mais criticado desde a catástrofe de 4 de agosto, chegou a apelar à proclamação de um "Estado laico".

Algumas horas antes, o chefe do poderoso Hezbollah, Hassan Nasrallah, disse que estava pronto para discutir um novo "pacto político" no Líbano, onde as comunidades religiosas partilham o poder.

Neste sentido, o presidente do Parlamento e líder do movimento xiita Amal, Nabih Berri, pediu nesta segunda para "mudar o sistema confessional" que governa a política no Líbano, "a fonte de todo o mal", de acordo com ele.

Mas alguns acreditam que tais discursos se devem unicamente à visita de Macron. "Quando a classe política fala de um Estado laico, isso faz-me pensar no diabo que defende a virtude, não faz sentido", disse Hilal Khashan, professor de Ciência Política da Universidade Americana de Beirute.

A nomeação de Adib "não dará início a uma nova era na história do Líbano e não acredito que coloque o Líbano no caminho para o desenvolvimento político real", conclui.

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