Elites ou os mais pobres? PT e oposição discutem perfil dos manifestantes

Quem foi para as ruas no domingo pedir a demissão da presidente Dilma? Divergência marcou o dia seguinte as manifestações
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O perfil do manifestante que foi à Avenida Paulista, em São Paulo, ou a Copacabana, no Rio de Janeiro, pedir o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de Lula da Silva foi o principal ponto de discórdia no dia seguinte àquele que se tornou no maior protesto político da história, de acordo com o Instituto Datafolha, que recorre a métodos científicos de contagem. Foram milhões de manifestantes no Brasil - e no estrangeiro - sendo que só na principal artéria da capital financeira do país terá chegado aos 500 mil. Mas, para lá de quantos, a questão é quem são os manifestantes?

A jornalista do canal de informação Globonews Renata Lo Prete destacou durante a transmissão que os protestos deste domingo provam que o perfil dos manifestantes "é cada vez mais transversal em termos de localização geográfica, de classe etária, de escolaridade e de distribuição de rendimentos". Em causa, o crescimento do número de manifestantes em praças tradicionalmente próximas do Partido dos Trabalhadores (PT), como Bahia, Recife, Fortaleza e outras capitais estaduais do Nordeste, uma das regiões mais carentes do país.

Já Maurício Savarese, da Associated Press, serve-se do levantamento do jornal Folha de S. Paulo, que ouviu mais de dois mil manifestantes na Avenida Paulista, para concluir que, pelo menos em São Paulo, o perfil do cidadão que vai à rua se mantém inalterado desde o primeiro protesto pelo impeachment há um ano.

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Segundo o mesmo jornal, metade dos manifestantes recebe salários entre os cinco e os 20 salários mínimos - classe socioeconómica média ou média/alta, portanto - e 77 por cento respondeu que tem curso superior. "Crescer na mesma faixa depois de todo o clima criado pode indicar que os protestos, por impressionantes que sejam, bateram no teto de representatividade e ainda o fizeram sem criar lideranças políticas", diz Savarese.

Medo e alívio no governo
Transportando o que passou no país para a Praça dos Três Poderes, em Brasília, as conclusões da maioria dos analistas é que o tamanho dos protestos pode tornar inevitável o desembarque do Partido do Movimento da Democracia Brasileira (PMDB) da coligação do governo, o que colocaria em risco o chumbo parlamentar ao impeachment de Dilma - eis a má notícia para o governo.

Mas do lado do PT, respira-se de alívio pelo facto de Aécio Neves e Geraldo Alckmin, os dois presidenciáveis do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), terem sido mais vaiados que aplaudidos no domingo (ver caixa ao lado). A crise, concluíram as cúpulas do partido e do governo reunidas ontem em Brasília, é mais económica do que política. "O povo está nas ruas por causa da crise económica, há uma rejeição a toda a classe política", disse o ministro da casa civil, Jaques Wagner.

Entretanto, a juíza Priscilla Oliveira, que iria analisar o pedido de prisão ao ex-presidente Lula da Silva apresentado pela procuradoria de São Paulo por causa da posse de um triplex no Guarujá, enviou o caso para a alçada de Sergio Moro, o juiz da Lava-Jato, na 13.ª Vara Federal de Curitiba, por achar que os dois casos são demasiado próximos para serem julgados em separado.

São Paulo

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