Mundo reage: UE diz que laços "são mais fortes" do que mudança política e extrema-direita festeja

União Europeia garante que os laços com os EUA "são mais fortes do que qualquer mudança política", apesar da incerteza. Extrema-direita europeia festeja
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Na Europa:

A União Europeia e os Estados Unidos vão continuar a trabalhar em conjunto, após a eleição de Donald Trump como Presidente norte-americano, afirmou hoje a chefe de diplomacia europeia, Federica Mogherini.

"Os laços entre UE e EUA são mais fortes que qualquer mudança política. Vamos continuar a trabalhar em conjunto, redescobrindo a força da Europa", escreveu a Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança na sua conta na rede social Twitter.

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O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, felicitou hoje Donald Trump pela sua eleição como presidente dos Estados Unidos, e disse acreditar que o candidato republicano terá na Casa Branca uma postura diferente daquela adotada na campanha.

Numa declaração em Bruxelas, Schulz admitiu que "este é seguramente um momento difícil nas relações entre Estados Unidos e União Europeia, mas o novo presidente eleito dos EUA merece o total respeito das instituições da UE", do mesmo modo que a Europa espera que "Donald Trump, nas relações futuras entre o seu governo, ele próprio e a Europa e os Estados-membros da UE, respeite os direitos fundamentais e as regras fundamentais da UE".

"Felicito-o, como é natural entre dois chefes de Estados democráticos", afirmou o Presidente francês em relação a Trump. Ainda assim, François Hollande declarou: "Estas eleições americanas abrem o período de incerteza". Citado pela Reuters, o Presidente francês disse que a vitória de Trump mostra que a França tem de ser mais forte e a Europa precisa de estar unida. Fonte presidencial afirma que Hollande terá falado com Angela Merkel antes de fazer a sua declaração.

A chanceler alemã Angela Merkel congratulou o Presidente eleito dos EUA e ofereceu-se para "trabalhar de forma estreita" com este, desde que com base em valores comuns aos dois países: "democracia, liberdade, respeito pelo Estado de direito, pela dignidade das pessoas independentemente da sua origem, da cor da sua pele, religião, género, orientação sexual ou política".

A primeira-ministra britânica Theresa May felicitou hoje o republicano Donald Trump pela sua vitória nas eleições presidenciais, assegurando que o Reino Unido e os Estados Unidos continuarão a ser "aliados fortes e próximos".

"O Reino Unido e os Estados Unidos mantêm uma relação especial e duradoura, baseada em valores da liberdade, da democracia e da iniciativa", declarou a líder trabalhista num comunicado emitido por Downing Street, a sua residência e local de trabalho, depois da confirmação hoje da vitória de Donald Trump sobre a candidata democrata, Hillary Clinton.

Theresa May acrescentou que ambos os países "são, e seguirão sendo, fortes e próximos aliados no comércio, segurança e defesa", segundo a nota.

O primeiro-ministro espanhol Mariano Rajoy já felicitou Donald Trump pela vitória: "Continuamos a trabalhar para reforçar a relação que nos une aos EUA, um parceiro indispensável."

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O primeiro-ministro italiano Matteo Renzi, que demonstrou abertamente o seu apoio a Hillary Clinton durante a campanha, congratulou Trump pela vitória e afirmou num discurso em Roma que "a amizade italo-americana é sólida".

A ministra da Defesa alemã Ursula von der Leyen, aliada da chanceler Angela Merkel, deu conta do "grande choque" que provocou a eleição de Donald Trump e questiona significa o fim da "Pax Americana", referindo-se à paz, relativa, vigente desde o fim da Segunda Guerra Mundial, avançava esta manhã a Reuters.

O ministro dos Negócios Estrangeiros francês Jean-Marc Ayrault, por seu turno, declarou que a personalidade do próximo Presidente dos EUA "levanta questões" e admite não estar certo do que esta eleição pode significar para questões de política externa como as alterações climáticas, o acordo nuclear com o Irão ou a guerra na Síria.

De Portugal:

"O Governo português já felicitou o senhor Trump pela sua eleição, reafirmando as nossas tradicionais boas relações com os Estados Unidos que serão certamente mantidas, tendo em conta o interesse comum de partilharmos o mesmo espaço atlântico. Temos o desejo de manter as excelentes relações que temos tido ao longo da História com os Estados Unidos", afirmou António Costa.

Questionado sobre a hipótese de haver um retrocesso nas relações entre Portugal e os Estados Unidos, o primeiro-ministro contrapôs que as relações entre os dois países "são seculares".

"Temos uma comunidade portuguesa muito importante nos Estados Unidos, partilhamos o mesmo espaço atlântico e a mesma aliança defensiva no quadro da NATO. Em Portugal e nos Estados Unidos já existiram vários governos e houve sempre uma continuidade na nossa relação", sustentou o líder do executivo.

Numa nota divulgada na página da Presidência da República na Internet, lê-se que o chefe de Estado português "enviou uma mensagem de felicitações ao Presidente eleito dos EUA, Donald Trump, desejando-lhe sucesso no exercício das funções que foi chamado a desempenhar pelo povo norte-americano".

Segundo a mesma nota, Marcelo Rebelo de Sousa "fez ainda uma referência aos laços de amizade que unem Portugal e os EUA e à significativa comunidade de portugueses e lusodescendentes residentes nos Estados Unidos".

O ministro dos Negócios Estrangeiros português saudou hoje a eleição do novo Presidente norte-americano, Donald Trump, e disse esperar que os Estados Unidos mantenham a sua posição de "moderação, equilíbrio e influência na cena internacional".

"O Governo português saúda a eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos. Felicita-o por esse feito e cumprimenta a candidata [democrata] Hillary Clinton", disse à Lusa o chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva.

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Quanto à extrema-direita europeia, além de Marine Le Pen, a presidente da francesa Frente Nacional, uma das primeiras figuras a felicitar Donald Trump por ter conseguido chegar à Casa Branca, também o seu pai, Jean-Marie Le Pen, afirmou: "Hoje são os Estados Unidos, amanhã é a França!" Florian Philippot, outra figura daquele partido de extrema-direita francês declarou: "O mundo deles está a ir por água abaixo. O nosso está a ser construído."

Também do partido anti-imigração Alternativa para Alemanha, a vice-presidente Beatrix von Storch afirmou: "A vitória de Donald Trump é um sinal de que os cidadãos do mundo ocidental querem uma clara mudança na orientação política."

O líder do partido italiano de extrema-direita Liga do Norte afirmou hoje que a vitória do republicano Donald Trump nas eleições dos Estados Unidos significa a "vingança do povo" contra os banqueiros, os especulados, as sondagens e os jornalistas.

"O povo ganha os poderes fortes por 3-0", disse Matteo Salvini, líder do partido xenófobo italiano, em entrevista à emissora oficial da Liga do Norte, Radio Padania.

O dirigente do Partido da Liberdade Austríaca (FPÖ), Heinz-Christian Strache, elogiou a votação em Donald Trump, escrevendo no seu Facebook que a "esquerda política assim como os privilegiados e os aproveitadores do sistema foram punidos pelos eleitores e afastados de várias posições importantes que ocupavam".

Na presente conjuntura política austríaca, o candidato presidencial do FPÖ, Norbert Hofer, tem fortes probabilidades de triunfar nas eleições marcadas para 4 de dezembro.

O FPÖ é um partido populista, fortemente anti-imigração e eurocético.

Recorde-se que durante a campanha, Trump, agora Presidente eleito, expressou diversas vezes a sua admiração pelo Presidente russo Vladimir Putin, prometeu pôr fim ao acordo a que chegaram vários países no ano passado em Paris relativamente às alterações climáticas, pôs em causa a conduta da NATO, e sugeriu que o Japão e a Coreia do Sul deveria poder desenvolver armas nucleares para sua defesa.

Da Rússia:

O Presidente russo Vladimir Putin terá enviado um telegrama nesta quarta-feira, avança o Kremlin. "Putin expressou a sua esperança no trabalho conjunto para reparar as relações russo-americanas a partir do seu estado de crise, tratar de questões internacionais e procurar respostas efetivas a desafios que dizem respeito à segurança global", comunicou o Kremlin em comunicado citado pela Reuters.

Da NATO:

O secretário-geral da NATO felicitou hoje o presidente eleito norte-americano, Donald Trump, com quem espera encontrar-se "em breve" para discutir a cooperação futura.

Numa declaração divulgada em Bruxelas, sede do quartel-general da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg sublinha que no "novo ambiente de segurança, que inclui guerra híbrida, ciberataques e a ameaça do terrorismo", a liderança dos Estados Unidos "é mais importante que nunca", mas sustenta também que "uma NATO forte é boa para os Estados Unidos".

De Israel:

O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu felicitou Donald Trump, que classifica como um "verdadeiro amigo" de Israel.

Do Irão:

O ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão instou hoje o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, a manter os acordos internacionais, após o republicano ter dito durante a campanha que vai 'rasgar' o acordo nuclear com Teerão.

"Todos os presidentes dos Estados Unidos têm de perceber a realidade do mundo de hoje. A coisa mais importante é que o futuro Presidente dos Estados Unidos mantenha os acordos, os compromissos assumidos", disse Mohammad Javad Zarif, na Roménia.

Da China:

A China declarou hoje acreditar que poderá trabalhar com o novo Governo dos Estados Unidos da América no sentido de manter um "desenvolvimento estável e equilibrado" das relações bilaterais e uma gestão "responsável" dos desacordos. "Esperamos que o novo Governo dos EUA possa trabalhar com a China", de forma a "beneficiar os povos" de ambos os países, afirmou o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Lu Kang.

Da Turquia:

O primeiro-ministro da Turquia Binali Yildirim já congratulou Trump, afirmando que esta é uma oportunidade para alargar as relações bilaterais entre os dois países. Discursando em Ancara, Yildrim falou de uma "nova página" entre Ancara e Washington, se a Casa Branca extraditar o clérigo Fethullah Gülen, que a Turquia acusa de ser o cérebro do golpe de Estado falhado no país em julho último

Da Coreia do Sul:

O Governo da Coreia do Sul disse nesta quarta-feira acreditar que o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, manterá a linha dura da política dos Estados Unidos em relação à Coreia do Norte.

O ministro dos Negócios Estrangeiros sul-coreano, Yun Byung-se, afirmou que Trump "reconheceu que o maior problema enfrentado pelo mundo é a ameaça nuclear, e os membros da sua equipa de segurança nacional mantêm uma postura favorável a aplicar uma forte pressão à Coreia do Norte".

Da Palestina:

O gabinete do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, pediu ao Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para trabalhar em conjunto para a criação de um Estado palestiniano.

"Estamos prontos para negociar com o Presidente eleito na base da solução de dois estados e do estabelecimento do Estado Palestiniano com base nas fronteiras de 1967", disse à AFP o porta-voz Nabil Abu Rudeina, referindo-se ao ano em que Israel ocupou a Cisjordânia.

O movimento islamita Hamas, que controla Gaza, disse hoje que não espera uma mudança no "preconceito" dos Estados Unidos contra os palestinianos com Donald Trump na Casa Branca.

"O povo palestiniano não pode contar muito com qualquer mudança na presidência dos Estados Unidos porque a política norte-americana sobre a questão palestiniana é uma política consistente, baseada no preconceito", disse o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, à AFP.

Da Austrália:

O primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, assegurou hoje que manterá uma forte relação com os Estados Unidos, após a vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas.

"Os interesses nacionais são tão grandes que as nossas relações continuarão a ser fortes. Os norte-americanos compreendem que não têm um aliado mais forte nem um melhor amigo do que a Austrália", disse Turnbull aos jornalistas, em Camberra, segundo a cadeia ABC.

O primeiro-ministro australiano prometeu que o seu Governo "continuará a trabalhar com os [seus] amigos nos Estados Unidos, através da administração de Trump", como fez com a de Obama e como fez sempre".

Analistas:

Simon Schama, historiador britânico e professor na universidade americana de Columbia, descreveu a vitória de Trump e o controlo republicano do Senado e da Câmara dos Representantes americano como "uma perspetiva genuinamente assustadora".

"A NATO estará sobre pressão, os russos vão dar problemas, 20 milhões de pessoas vão perder o seu seguro de saúde, [as políticas das] alterações climáticas vão ser revertidas, a regulação bancária vai ser desfeita. Quer que continue?"

"Claro que [Trump] não é o Hitler. Há muitas formas de fascismo. Não disse que ele é nazi, apesar de os neonazis estarem a festejar."

Paul Krugman, o prémio Nobel da Economia de 2008 escreveu nesta quarta-feira no New York Times, jornal que apoiou abertamente Hillary Clinton, a propósito da vitória de Donald Trump: "Sob quaisquer circunstâncias, pôr um homem irresponsável e ignorante, que aceita os conselhos das pessoas erradas, a comando da nação com a economia mais importante do mundo seriam muito más notícias. O que o torna especialmente mau neste momento, contudo, é o estado fundamentalmente frágil em que a maior parte do mundo está, oito anos depois da grande crise financeira", escreve.

Krugman terminava afirmando: "Muito provavelmente estamos a encarar uma recessão global sem fim à vista. Suponho que de qualquer modo podemos ter sorte. Mas na Economia, como em tudo o resto, algo terrível acabou de acontecer."

Antes, o economista perguntava: "Não sei como seguimos em frente a partir daqui. É a América um Estado e uma sociedade falhados? Parece verdadeiramente possível. Esta foi uma noite de revelações terríveis, e não acho que seja indulgência própria sentir um grande desespero."

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