Efeito Trump fez acelerar relógio do fim do mundo

Cientistas voltam a atualizar o Relógio do Juízo Final. A hora é uma metáfora dos perigos que o planeta corre. A ameaça nuclear e a questão climática são dois dos principais fatores que interferem no mover dos ponteiros
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Com Donald Trump o fim do mundo está mais perto. Trinta segundos mais próximo do que estava no ano passado. Agora faltam apenas dois minutos e meio para o Juízo Final. O perigo aumentou com as eleições norte-americanas, com o intensificar das tensões entre os Estados Unidos e s Rússia e entre a Índia e o Paquistão, com os testes nucleares feitos pela Coreia do Norte e com a incapacidade para reduzir os gases com efeito de estufa.

A hora é uma metáfora do risco. Quanto mais perto da meia-noite mais sombrio é o cenário para a humanidade. O Relógio do Juízo Final é um indicador que mede o perigo de uma catástrofe planetária e os dois fatores que mais contribuem para a avaliação da hora são as questões climáticas e as nucleares.

Calculado (ou acertado) pelo prestigiado Bulletin of the Atomic Scientists - uma publicação académica -, o relógio nasceu em junho de 1947, quando o boletim deixou de sair como newsletter e foi promovido a revista. Dois anos depois do fim da Segunda Guerra, um dos editores, Hyman Goldsmith, pediu à artista gráfica Martyl Langsdorf, para trabalhar numa capa que transmitisse a sensação de urgência perante os perigos nucleares. Ela pensou num relógio e acertou-o para sete minutos antes da meia-noite. Porquê essa hora? "Visualmente pareceu-me bem", explicou.

A partir daí o relógio foi-se aproximando e afastando da meia-noite consoante o mundo se foi tornando um lugar mais ou menos perigoso. Até 1973 era Eugene Rabinowitch, cientista e editor da publicação, que decidia se o ponteiro devia ou não ser movimentado. A partir daí a responsabilidade passou para o corpo científico da revista, que ouve vários especialistas, incluindo um comité consultivo do qual fazem parte 15 prémios Nobel. A hora é reavaliada quando os cientistas entendem que faz sentido.

Até hoje só houve um momento em que o mundo esteve mais perto do fim do que agora. Foi em 1953. A 7 janeiro Harry Truman anunciava ao Congresso que os EUA tinham desenvolvido a bomba de hidrogénio. Faltavam dois minutos para a meia-noite.

Em sentido contrário, o ano em que o planeta esteve mais distante do Juízo Final foi 1991. O Muro de Berlim caíra em 1989, a Guerra Fria chegava ao fim e os cenários apocalípticos da destruição nuclear pareciam uma ficção científica do passado. Mas, feitas as contas, o atrasar da hora para o fim do Mundo revelar-se-ia apenas uma ilusão otimista. Desde então o planeta foi-se tornando um lugar progressivamente menos seguro e em 2007, na apresentação da nova hora para o Juízo Final, o Bulletin of the Atomic Scientists mencionou pela primeira vez a questão climática como um dos maiores riscos para a humanidade.

Barack Obama tomou posse em 2009 e pela primeira vez um presidente norte-americano falou na ideia de um mundo livre de armas. Assim, de 2007 para 2010, o fim do Mundo atrasou-se um minuto (ver infografia), mas o ex-líder dos EUA não foi capaz de continuar a fazer o relógio andar para trás.

No último ano, o efeito Donald Trump foi mais forte e o relatório do Bulletin of the Atomic Scientists explica que só não agravou ainda mais a hora porque o novo presidente acabou de tomar posse. Daí a decisão inédita de movimentar o ponteiro menos do que um minuto.

"Para que o relógio volte a recuar será necessário que os líderes tenham visão e contenção. Os presidentes Trump e Putin, que dizem ter muito respeito um pelo outro, podem escolher entre agir como homens de Estados ou comportarem-se como crianças petulantes", disse ontem, na apresentação do relógio, Lawrence Krauss, diretor do corpo de patronos do Bulletin of the Atomic Scientists. Tiquetaque.

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