E se Biden ganhar mas os republicanos continuarem a controlar o Senado?
Democratas acreditavam ter capacidade para recuperar a maioria no Senado, mas as contas não estão fáceis. Falta declarar quatro vencedores, sendo que num caso a corrida vai para uma segunda volta em janeiro, e há empate a 48 senadores
As atenções estão centradas nas presidenciais e em saber se Donald Trump ou Joe Biden conquistam a Casa Branca, mas a corrida para o Senado será também importante. Os democratas estavam confiantes de que poderiam reconquistar a maioria - estavam em minoria de 47, incluindo dois independentes que votam normalmente com eles, contra 53. Mas as contas complicaram-se.
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Na prática, os democratas precisavam de conquistar quatro lugares para evitar que, em caso de vitória de Trump, o vice-presidente Mike Pence servisse como voto de desempate (o vice-presidente dos EUA é também, por inerência, o presidente do Senado, que só tem direito a voto em caso de empate). Mas podem "safar-se" conquistando apenas três, caso Joe Biden ganhe as presidenciais, já que aí o voto de desempate será de Kamala Harris.
Os democratas pareciam bem colocados nalgumas sondagens para conseguir alcançar esse objetivo, mas os números nas urnas não se confirmaram.
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Neste momento, democratas e republicanos surgem empatados com 48 senadores (no caso democrata inclui os dois independentes), tendo os primeiros conseguido apenas roubar dois aos segundos no Arizona e no Colorado. Os republicanos conseguiram aguentar noutros estados que estavam risco, conquistando um aos democratas no Alabama.
No segundo dia de contagem de votos, a AP ainda não declarou os resultados de três corridas -- onde os republicanos estão em vantagem -- e, numa quarta, é preciso ir para uma segunda volta, só em janeiro.
No Alasca, quando estão contados 50% dos votos (os restantes, por correio, só devem ser contados para a semana), o atual senador republicano, Dan Sullivan, está confortavelmente à frente, com quase o dobro dos votos que o adversário democrata, Al Gross. O estado é tradicionalmente conservador, não se esperando uma mudança este ano, com as sondagens pré-eleitorais a apontarem quase todas para uma vitória de Sullivan.
Em caso de empate no Senado, o voto para desempatar votações cabe ao vice-presidente dos EUA
Isso colocaria os republicanos a um senador dos 50. Na Carolina do Norte, a corrida está mais apertada, com o atual senador Thom Tilis, republicano, cerca de cem mil votos à frente do democrata Cal Cunningham. As estimativas indicam que faltam contar 7% dos votos. Neste estado, os votos por correio que tenham a data até ao dia das eleições são aceites até dia 12. Pode ser preciso esperar vários dias para saber o resultado final.
Depois resta a Geórgia, onde a eleição normal (a cada seis anos para o Senado) coincide com uma eleição especial, após a demissão por motivos de saúde do anterior senador, Johnny Isakson, em finais de 2019. Nesta segunda corrida, Kelly Loeffler, que assumiu interinamente o cargo desde então, vai para uma segunda volta com o democrata Raphael Warnock.
O democrata conseguiu mais cerca de 300 mil votos que a republicana, mas esta corrida não foi antecedida de primárias em nenhum dos dois partidos, pelo que havia vários candidatos democratas e republicanos no boletim de voto. Em terceiro lugar ficou Doug Collins, republicano, tendo conseguido quase um milhão de votos. Na segunda volta, com apenas um candidato de cada partido, os eleitores devem focar o seu voto e isso poderá complicar as contas a Warnock.
Desde 1996 que um democrata não ganha na Geórgia para o Senado.
Na eleição normal, o atual senador, o republicano David Perdue, lidera com pouco mais de cem mil votos. Mas o mais importante é que, com 98% dos votos contados, chegou aos 50%. Se conseguir continuar nessa percentagem, evita uma segunda volta diante do democrata Jon Ossoff. Caso fique abaixo, terá também que voltar a ir às urnas, numa altura em que os norte-americanos já saberão quem venceu as presidenciais e o impacto que um Senado com maioria republicana ou democrata pode ter para o presidente.
Se Biden ganhar as presidenciais, mas o Senado ficar nas mãos dos republicanos, terá que estender a mão para conseguir implementar as suas medidas, arriscando enfrentar a oposição em cada passo. Não é um cenário novo, com o antigo presidente Barack Obama a enfrentar, nos últimos dois anos do mandato, um Senado (e também uma Câmara de Representantes) de maioria republicana.
Qual foi o impacto? Desde logo, não conseguiu nomear um novo juíz para o Supremo Tribunal no último ano, com o processo a ser bloqueado no Senado. No caso de Biden, poderia enfrentar um Senado hostil logo à partida, sendo que cabe a esta câmara aprovar as nomeações para muitos cargos no governo (e os republicanos podem complicar o processo) além de decidir que legislação é debatida.
As próximas eleições para o Senado serão em 2022, onde estará em jogo mais um terço do Senado.
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